Diego Puerta, da Dell: aposta da empresa em fabricar modelo premium no país valeu a pena (Dell/Divulgação)
Thiago Lavado
Publicado em 7 de abril de 2021 às 07h00.
Última atualização em 9 de abril de 2021 às 09h30.
Enquanto algumas empresas optaram por deixar de atuar no Brasil em meio à crise econômica, a Dell escolheu dobrar a aposta no país. No ano passado, quando lançou o XPS 13, notebook premium da empresa, a companhia anunciou que começaria a fabricar os computadores no Brasil — a primeira linha de produção do produto fora da China.
Era uma estratégia da Dell Brasil para ofertar competitividade, reduzir custos e repassar descontos ao consumidor. A alta do dólar associada a um aumento na demanda por computadores e notebooks — produtos que se tornaram essenciais para trabalhar e estudar em casa — elevaram os preços e, com a decisão de fabricar localmente, a Dell conseguiu reduzir os custos de seu principal produto e competir no mercado brasileiro.
O valor unitário de um XPS 13 antes da produção local era de 13.500 reais e o prazo de entrega era de até 45 dias. Com a fabricação local, o notebook foi lançado a 8.999 reais e 7 dias de frete. A estratégia de divulgação e atendimento também foi repensada: a empresa aumentou a presença no YouTube, com vídeos exclusivos de seus produtos em um canal que já acumula 115.000 inscritos, e no WhatsApp para auxiliar o time de vendas.
O resultado da estratégia ficou evidente nos números: nos 6 meses seguintes ao lançamento, a Dell vendeu 40% mais unidades do XPS 13 do que era esperado para o primeiro ano após a instalação da linha de produção no Brasil. As vendas esperadas para o semestre foram alcançadas em 2 semanas. De acordo com Diego Puerta, diretor geral da Dell no Brasil, o movimento foi importante e foi acompanhado de um processo longo de aprovação junto à Dell global para trazer a fabricação do notebook ao país.
“O XPS 13 é um produto muito diferenciado e importante para o posicionamento de marca da Dell no Brasil. Nós somos a marca premium do Brasil, e é uma oportunidade de consolidar isso, tendo esse produto em larga escala, sendo visto e sendo utilizado”, afirmou Puerta em entrevista à EXAME. O executivo disse ainda que a demanda foi tão alta que levou 3 meses para conseguir ter a sua unidade do computador, já que a empresa priorizou a entrega aos consumidores.
Apesar de ter colhido uma estratégia que deu frutos, Puerta afirma que o ano não foi tranquilo para o setor de tecnologia — além da pandemia, o setor sofreu com o impacto de disponibilidade de componentes no início do ano passado e com a alta forte do dólar, que impactou o preço médio de computadores e equipamentos. “Felizmente nós estávamos bem preparados e estruturados [para lidar com essa situação]. Passamos com um impacto mínimo da disponibilidade de componentes, mas o dólar influenciou”, afirmou.
De acordo com dados da consultoria IDC, a venda de computadores, entre desktops e notebooks, cresceu 6% em 2020, somando 6,3 milhões de unidades no ano. Só os notebooks correspondem por 5 milhões do total. O preço médio do notebook terminou o ano passado em 4.299 reais, alta de 23,5% ante o trimestre anterior. A IDC espera que o setor continue crescendo em 2021, com alta de 8,6% este ano, com a continuidade da pandemia e uma retomada do mercado corporativo — que investiu menos diante das incertezas geradas pela pandemia.
Segundo Puerta, a Dell teve ainda um crescimento na venda de periféricos e outros produtos, como teclados, mouses, monitores e consumidores no varejo procurando por itens para aprimorar o escritório em casa. A busca por esses equipamentos, e pela decisão de lançar um modelo premium no país, reflete uma visão que Puerta abordou durante o lançamento do XPS 13 no Brasil: o computador é, hoje, a ferramenta tecnológica de produtividade, enquanto que o smartphone é uma ferramenta de conectividade e mobilidade.
Um estudo realizado pela própria Dell constatou quem um computador bom e rápido gera uma economia de tempo de até 23 minutos por hora para profissionais, o que equivale a 15 das 40 horas de trabalho semanais.
Globalmente (a Dell não divulga números por região em seu balanço), a empresa teve um ano de recorde nas vendas, 94,2 bilhões de dólares, alta de 2% ante 2019. O lucro operacional quase dobrou, de 2,6 bilhões de dólares para 5,1 bilhões em 2020, também um recorde. No negócio de computadores, foram entregues 50 milhões de aparelhos, crescimento de 8%.
Puerta afirma que a empresa tem apostado também na expansão de seus negócios no país, incluindo armazenamento e nuvem, provendo soluções mais amplas aos usuários corporativos. “A Dell nasceu dos PCs, mas infraestrutura, cloud, armazenamento, servidores hoje têm um peso muito importante. É essa nossa grande vocação”, disse. Este ano, a empresa pretende investir nessa frente, com muitas empresas procurando soluções de digitalização de seus negócios, especialmente as pequenas, que buscam parceiros confiáveis.
Mas a Dell continua olhando para os computadores: no cenário gamer, que se tornou um estilo de vida, a empresa deve anunciar outros investimentos e lançamentos no Brasil no decorrer de 2021.