DESENVOLVEDORES NO EVENTO DA APPLE: agora, eles poderão criar aplicativos que vão funcionar dentro das mensagens / Stephen Lam/ Reuters
Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2016 às 18h09.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h31.
Nos oito anos desde que passou a permitir que desenvolvedores independentes criassem programas para o iPhone – e de colocar as palavras app e aplicativo na boca de milhões de consumidores –, a Apple criou um dos ecossistemas mais bem-sucedidos da história da indústria do software. Os quase 800 milhões de iPhones e iPads garantem uma base enorme de usuários, e os 2 milhões de aplicativos disponíveis aumentam cada vez mais a utilidade dos aparelhos. Se existe um ciclo virtuoso nos negócios, poucos merecem mais essa definição do que a economia do iPhone. Os apps já foram baixados mais de 130 bilhões de vezes, e os seus criadores já receberam 50 bilhões de dólares diretamente da Apple (sem falar em fontes de renda paralelas, como a publicidade).
Na manhã desta segunda-feira, em San Francisco, a Apple abriu a 27a edição de sua conferência global para desenvolvedores de software. Como sempre costuma acontecer no mês de junho, a apresentação de abertura detalha as novidades dos sistemas operacionais dos produtos Apple, a fundação sobre as quais são criados os programas. Além das novas funções disponíveis para usuários e programadores, porém, o evento deste ano teve um subtexto interessante. Nas entrelinhas, ficou clara a preocupação da Apple com Google, Facebook e Amazon, três de seus maiores concorrentes no mundo dos softwares e serviços.
Uma das novidades que receberam mais atenção nas duas horas de apresentação foram os incrementos no software de mensagens de texto iMessage – o aplicativo mais usado por quem tem iPhone. Agora, as mensagens terão várias novas maneiras de transmitir emoções: balõezinhos diferenciados, letras grandes, substituição automática de palavras por emojis e telas de fundo especiais (como uma que mostra fogos de artifício). Além disso, os desenvolvedores poderão criar aplicativos que vão funcionar dentro das mensagens. Será possível, por exemplo, enviar dinheiro para um amigo dentro do iMessage, ou então fazer um pedido combinado de delivery de comida com os colegas de trabalho.
Produtores de conteúdo também podem criar adesivos especiais (como os do novo filme da Disney “Procurando Dory”, exibidos na demonstração desta segunda). Tudo isso tem o objetivo ostensivo de tornar a comunicação por mensagens mais precisa e mais “emocional”. Mas é claro que, estrategicamente, as novas ferramentas são uma arma contra o Facebook (que, além do seu Messenger, é dono do WhatsApp). Os aplicativos de mensagem são vistos como uma nova plataforma importante, e a Apple estava muito atrás dos competidores nesse departamento.
A Apple também rebatizou o sistema operacional de seus computadores. Depois de 15 anos, ele deixa de se chamar OS X e passa a ter o nome de macOS (para combinar com watchOS, iOS e tvOS). Além de algumas novidades cosméticas, a principal novidade do macOS, disponível gratuitamente no segundo semestre, é a inclusão da assistente digital Siri nos computadores Apple. Assim como no iPhone, a Siri será capaz de fazer buscas na internet e no próprio PC, incluir compromissos na agenda e assim por diante.
App dentro das mensagens
Além disso, depois de cinco anos a Apple decidiu permitir que desenvolvedores externos acessem o sistema de inteligência artificial da Siri – eles poderão literalmente se plugar no cérebro dela. Será possível pedir que a Siri chame um carro do Uber ou envie mensagens de WhatsApp, por exemplo.
Mais uma vez, é uma resposta ao sucesso desenfreado do Amazon Echo, um aparelho lançado pela Amazon no ano passado que abriu a corrida da computação por voz. O sistema Alexa, da Amazon, já se integra com mais de 1.000 serviços de terceiros. O Google anunciou no mês passado que vai lançar um dispositivo semelhante, chamado Home. A Apple foi uma das pioneiras no lançamento de assistentes inteligentes – a Siri foi mostrada ao público pela primeira vez há cinco anos, quando Steve Jobs ainda era o CEO da empresa –, mas foi ultrapassada pela concorrência e agora tem de correr atrás do tempo perdido.
Outro anúncio que recebeu destaque foi um upgrade do aplicativo de organização de fotos. Agora ele vai mostrar no mapa onde as imagens foram tomadas e vai reconhecer o rosto das pessoas. A nova versão do app também é capaz de “ler” as imagens armazenadas no celular e reconhecer objetos e paisagens. Por fim, um recurso chamado “Memories” (recordações), cria filmes automaticamente com base em eventos, como uma viagem de férias.
Para quem está acostumado com a frustração que é buscar fotos entre as milhares armazenadas no smartphone, é uma notícia mais que bem-vinda – mas o aplicativo Google Photos já faz tudo isso, e foi lançado há mais de um ano. Numa alfinetada sutil no concorrente, a Apple disse que a “leitura” das imagens acontece no próprio iPhone, e não nos servidores da companhia, como faz o Google. Implicações de privacidade à parte, é mais um exemplo de que, pelo menos no que diz respeito ao software, a Apple está reagindo aos concorrentes, não mostrando os caminhos.
Nas duas outras grandes plataformas, o relógio Apple Watch e o Apple TV, os anúncios foram de menor impacto. No Apple Watch, a ênfase foi na simplificação do acesso aos aplicativos – a navegação pelas funções do relógio era alvo de críticas de muitos usuários. Na plataforma de TV, as maiores novidades são de interesse dos usuários norte-americanos: um novo sistema de autenticação vai facilitar a vida de quem quer assistir os canais de TV paga em aplicativos. Outra novidade é que a busca por voz disponível na versão mais recente do Apple TV também vai funcionar com o YouTube. Para uma empresa que já prometeu revolucionar a maneira como assistimos TV, continua sendo pouco.
(Sérgio Teixeira Jr., de Nova York)