Cédulas de dólares: moeda não deve se distanciar muito do patamar atual (Sergey Nazarov/Thinkstock)
Marília Almeida
Publicado em 5 de outubro de 2018 às 05h00.
Última atualização em 5 de outubro de 2018 às 15h39.
São Paulo - Faltando dois dias para a realização do primeiro turno das eleições. o dólar deve continuar oscilando ante o real até a definição do pleito. Contudo, não deve se distanciar muito do nível atual, perto de 4 reais. É o que dizem analistas do mercado ouvidos por EXAME.
De acordo com Sidnei Nehme, da corretora NGO, com o cenário eleitoral mais delineado, mostrando a polarização entre o candidato Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL), o risco já está precificado, ao menos no curto prazo. Ou seja, o movimento especulativo mais forte já passou. "Os especuladores esperavam que o dólar chegasse a 5 reais, mas esse movimento não se sustentou, já que a situação das contas externas está equilibrada e o déficit fiscal é baixo. É um cenário diferente dos repiques da moeda em 2002 e 2008, momentos nos quais o dólar teve motivos para chegar a valer 4 reais, algo como 7 reais atualizado para preços de hoje".
Nehme acredita que a moeda deve ter uma pequena queda e atingir o patamar de 3,80 reais, independentemente de quem ganhe as eleições. "Não vamos ter crise cambial. A situação do país no câmbio, a despeito da persistência da crise econômica e incerteza eleitoral, é confortável".
Reforça esse movimento o fortalecimento de Jair Bolsonaro (PSL) nas últimas pesquisas eleitorais, diz Nehme. "Os investidores resolveram dar o benefício da dúvida ao candidato do PSL, considerando que o PT tem um histórico negativo e uma agenda econômica mais intervencionista.".
A equipe econômica liberal de Bolsonaro, encabeçada pelo economista Paulo Guedes, ajuda a encarar o candidato do PSL como uma opção "menos ruim", de acordo com o analista.
Roberto Indech, analista chefe de investimentos da corretora Rico, concorda em parte com Nehme. Assim como o analista da NGO, ele acredita que, em uma eventual vitória de Bolsonaro o dólar deve cair para o patamar de 3,80 reais. Contudo, caso o seu oponente petista vença, Indech acredita que a moeda americana deve ter uma alta e atingir a cotação de 4,20 reais. "Mas, seja qual for o resultado, não esperamos um caos no mercado financeiro".
Já Camila de Caso, economista da corretora Spinelli, acredita que a moeda americana deve ter uma valorização ainda maior em uma eventual vitória do candidato petista, e chegar a 4,30 reais. "Acreditamos que deve haver essa valorização ainda que Haddad venha sinalizando que, caso vença, deve governar mais como Lula do que como Dilma. Ou seja, tende a colocar técnicos em ministérios importantes, como o da Fazenda, por exemplo".
Em uma eleição de Bolsonaro, a analista também acredita que a moeda deve valorizar, mas menos e por conta de fatores externos. "Com Bolsonaro no poder, o dólar deve ficar no patamar de 4 reais por conta de uma fuga de capitais para os Estados Unidos, que deve subir os juros mais uma vez, e pela elevação do tom do presidente Donald Trump em relação a política comercial com a China e outros países emergentes, como o Brasil, o que tende a desvalorizar as moedas regionais ante a americana".
O dólar terá um movimento relativamente estável até o final do ano. Depois, o candidato eleito terá de provar se conseguirá atacar os principais problemas do país de forma eficiente. "Por enquanto, não há uma política econômica clara de nenhum dos lados", diz Indech.
Caso os dois candidatos que lideram a corrida presidencial forem para o segundo turno, isso deve gerar uma maior volatilidade no mercado a partir de segunda-feira (8), de acordo com Camila. "O mercado precificou, até agora, que Bolsonaro possa vencer no primeiro turno, No segundo, o candidato do PT ganha força. Mas, de qualquer forma, a moeda não deve se afastar muito do nível atual, e continuar o sobe e desce".
De acordo com especialistas ouvidos pelo site EXAME, para quem tem viagem marcada para o exterior, mais do que nunca vale a recomendação conservadora de comprar a moeda aos poucos, de forma a garantir uma cotação média e diminuir prejuízos com eventuais oscilações. O ideal é que o valor a ser adquirido seja dividido por semana até a data da viagem.
Para diminuir prejuízos com a alta da moeda americana ante o real, além de comprar dólares aos poucos, o caminho é pesquisar.
A pesquisa pode ser feita inicialmente no site do Banco Central, com a ferramenta Ranking do VET, que mostra as corretoras de câmbio que praticam o Valor Efetivo Total (VET) mais vantajoso na compra da moeda.
O VET é uma taxa que inclui não apenas o custo da moeda estrangeira, mas também as tarifas e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidentes na conversão.
Contudo, os valores praticados pelas instituições financeiras hoje podem ser diferentes daqueles praticados no mês de referência da pesquisa. O ranking, portanto, deve ser utilizado apenas como uma sinalização sobre quais casas podem cobrar os menores preços.
Para chegar a uma conclusão mais precisa, é recomendável pesquisar os custos que as corretoras oferecem no dia em que será feita a conversão e, por fim, checar se a conversão é, de fato, a mais vantajosa em sites comparadores de preços, que mostram as cotações em tempo real, tomando o cuidado de verificar se todas as corretoras que cobram uma taxa de conversão melhor estão incluídas na listagem.
Em momentos de alta da moeda e volatilidade do mercado, o viajante deve evitar ao máximo realizar gastos no cartão de crédito durante a viagem. No cartão de crédito, a cotação da moeda normalmente é definida na data de fechamento da fatura, enquanto na aquisição de moeda em espécie e recarga do cartão pré-pago vale a cotação do momento em que foi realizada a transação.
A desvantagem do cartão pré-pago é a incidência de 6,38% de IOF, que baixa para 1,1% sobre o valor da compra no caso de moedas em espécie.