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Ações de empresas americanas se valorizam até 94%. Veja como investir

ETF que investe no índice S&P 500 registrou a maior rentabilidade entre os fundos de índice em 2019. BDRs renderam até 94% no acumulado do ano

Apple: BDRs da dona do iPhone, negociados na B3, valorizaram 94% de janeiro a novembro de 2019 (Zhang Peng/LightRocket/Getty Images)

Apple: BDRs da dona do iPhone, negociados na B3, valorizaram 94% de janeiro a novembro de 2019 (Zhang Peng/LightRocket/Getty Images)

Marília Almeida

Marília Almeida

Publicado em 21 de janeiro de 2020 às 05h00.

Última atualização em 21 de janeiro de 2020 às 15h09.

São Paulo - Grandes empresas de tecnologia, como Google e Facebook; estrelas da economia compartilhada, a exemplo da Uber; e startups e fintechs, inclusive brasileiras, têm registrado ganhos que não podem ser desconsiderados pelo investidor brasileiro.

As bolsas de valores americanas nunca se valorizaram tanto. Isso fez com que os Brazilian Depositary Receipts (BDRs), recibos que representam ações listadas no exterior e que são negociados na bolsa brasileira, valorizassem até 94,88% em 2019, segundo dados da Economatica.

Foi o caso dos BDRs da Apple. O papel da dona do iPhone foi seguido pelo da empresa de soluções de pagamento Mastercard, que valorizou 70,68%, e da empresa de tecnologia móvel Qualcomm, que subiu 67,62%. Papéis da Microsoft, Disney, Nike, Visa, Starbucks e Facebook são outras opções que tiveram uma boa valorização no ano passado, acima de 40%, e podem ser adquiridos pela B3.

Atualmente, 203 ações estrangeiras podem ser adquiridas por brasileiros por meio de BDRs na B3. O papel mais negociado, de janeiro a novembro de 2019, foi o da gigante do varejo americano, a Amazon, que representou 9,96% do volume total. A segunda ação mais negociada foi a da Apple (9,24%), e em terceiro lugar ficaram as do Google (8,74%).

Um segundo caminho para aplicar dinheiro lá fora é por meio de dois fundos de índice (ETFs) que replicam o índice S&P 500, composto pelas 500 maiores empresas americanas. O IVVB11 e o SPXI11 ocupam o segundo e o terceiro lugar na lista de maiores rentabilidades do ano passado entre os ETFs (21,5% e 20,8%, respectivamente), perdendo apenas para o SMAL11 (de empresas com baixo valor de mercado), que valorizou 29,4% no período.

Outra via para se investir no exterior é adquirindo cotas de um fundo nacional que tenha exposição a ativos lá fora. Os fundos que investem mais de 40% do patrimônio em ativos estrangeiros também registraram retornos de janeiro a novembro do ano passado: os fundos de ações valorizaram, em média, 33,6%, enquanto a classe de multimercados 12,7% e, os de renda fixa, 8,5%. A taxa DI no período foi de 5,5%, enquanto o Ibovespa valorizou 23,2%. Esses fundos que investem mais de 40% do patrimônio lá fora têm em seu nome a denominação "Investimento no Exterior".

Dificuldade de acesso

Atualmente, os programas de BDRs não patrocinados (ou seja, que são negociados no Brasil sem acordo com a companhia que emite o papel) só estão disponíveis para investidores qualificados, que têm 1 milhão de reais para investir. Hoje, apenas quatro empresas emitem os BDRs patrocinados, que são acessíveis ao pequeno investidor, e nenhuma deles correspondem a grandes nomes da economia americana. Como consequência, apenas 6,05% do investidores com posição em BDRs eram pessoas físicas em novembro.

Isso deve mudar. Além dos juros baixos, que exigem uma diversificação maior do portfólio de investimentos, mais empresas abrindo capital lá fora, como a XP Investimentos, PagSeguro e Stone, levou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o regulador do mercado de capitais a colocar em audiência pública uma flexibilização da regulamentação brasileira sobre BDRs.

O objetivo é que qualquer investidor tenha acesso a todos os tipos de BDRs e também possam aplicar dinheiro em empresas brasileiras que optem por abrir capital lá fora. Atualmente, empresas com maior parte dos ativos no Brasil não podem participar do programa de BDRs. Por fim, a CVM também quer que o programa inclua, além de ações, ETFs e títulos de dívidas, os bonds. Enquanto isso não acontece, há fundos de BDRs disponíveis em algumas gestoras.

Já o número de cotistas dos fundos de ações que investem mais de 40% no exterior deu um salto. Em 2018, eram 3,7 mil. Em 2019, esse número aumentou para 12,7 mil. Ou seja, triplicou. Contudo, apenas fundos que podem investir até 40% em ativos no exterior são acessíveis a pessoas físicas. Fundos que investem no mínimo 67% do patrimônio lá fora são acessados apenas por investidores qualificados.

Nesse cenário, a opção mais democrática para acessar investimentos no exterior atualmente é aplicar nos ETFs que replicam índices estrangeiros, como o S&P 500. Acessível ao pequeno investidor, a cota do fundo vale atualmente cerca de 150 reais, enquanto a sua taxa de administração é de 0,24% ao ano. As opções são hoje reduzidas, mas bancos como o Itaú pretendem lançar mais ETFs que apliquem lá fora.

Outra alternativa é abrir conta em corretoras no exterior, como a Avenue e a DriveWealth para acessar ETFs e ações. O cadastro é online e leva cerca de 15 minutos. Na Avenue, há um parceiro de câmbio que cobra cerca de 1% de spread na conversão de reais para dólar. A corretora cobra 2,5 dólares para operações de até mil dólares, e o cadastro é adaptado para investidores latino-americanos.

Vale a pena?

O professor de finanças da PUC-SP, Fábio Gallo, aponta que investir no exterior exige a mesma cautela de qualquer outro investimento. Com um agravante: caso a opção seja por abrir em uma conta no exterior, todas as tarifas serão cobradas em dólar, o que pode representar um custo que torna inviável o investimento. "Os ganhos pode ser reduzidos ou até perdidos por conta da questão cambial".

Por isso é necessário estar atento ao spread do câmbio, utilizado para enviar dinheiro para fora, e também à taxa de corretagem cobrada em cada operação. Além disso, existem investimentos que incluem risco cambial, e outros não.

Ao investir em ETFs e BDRs, negociados na B3, bem como em fundos nacionais com exposição ao exterior, as tarifas cobradas são em reais, o que torna as aplicações mais acessíveis. O importante, diz o professor, é que a aplicação mire boas empresas lá fora e tenha horizonte de longo prazo. "O investidor deve evitar a especulação com o câmbio, que é muito difícil de prever".

William Eid, professor da FGV, aponta que ao investir em grandes e boas empresas o investidor não tem de se preocupar tanto com uma desaceleração do crescimento lá fora. "O risco é semelhante ao de empresas nacionais. O importante é que a companhia tenha bons fundamentos. Geralmente elas são donas de negócios globais".

O objetivo de investir no exterior é reduzir o risco de uma carteira, já que ativos nacionais e ativos lá fora têm uma correlação menor. Com os juros na mínima histórica, o patamar de 4,5% ao ano, passou a valer mais a pena investir no exterior como forma de buscar maiores rendimentos. É indicado que a diversificação internacional represente de 10% a 15% da carteira.

Investir lá fora está sujeito às regras do IR para aplicações nacionais, com apenas uma diferença: a conversão dos valores, que deve seguir as regras do Fisco.

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