Revista Exame

Todos ganham com a economia da floresta em pé

Ao buscar matérias-primas na Amazônia, a Natura desenvolveu com parceiros um modelo que integra o plantio de palma com o de outras espécies

João Paulo Ferreira, presidente da Natura: nova técnica para produzir óleo de palma na Amazônia reduz a derrubada da floresta (Germano Lüders/Exame)

João Paulo Ferreira, presidente da Natura: nova técnica para produzir óleo de palma na Amazônia reduz a derrubada da floresta (Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 16 de novembro de 2017 às 05h32.

Última atualização em 16 de novembro de 2017 às 05h32.

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relação da fabricante de cosméticos Natura com a biodiversidade da Amazônia já é antiga. E se tornou uma das marcas registradas da companhia, apontada como a melhor do setor de bens de consumo e também A Empresa Sustentável do Ano nesta edição do Guia EXAME de Sustentabilidade (veja reportagem na pág. 190). Para manter sua fonte de matérias-primas, a companhia investe em tecnologias e projetos que geram renda para as comunidades com base no extrativismo da floresta, e não em sua derrubada. Foi assim que nasceu a iniciativa de liderar a criação de um sistema de cultivo sustentável de óleo de palma, conhecido como azeite de dendê no Brasil, cultura que é hoje uma das principais responsáveis pela derrubada de florestas tropicais no mundo.

Usado tanto na indústria alimentícia como na de cosméticos, o dendê é amplamente cultivado na Amazônia, ocupando grandes áreas de plantação num sistema de agricultura industrial, ou seja, baseada na máxima produtividade econômica. O novo modelo desenvolvido integra a produção e a conservação da biodiversidade ao fazer o plantio da palma junto com o de outras espécies, num sistema agroflorestal. Numa espécie de consórcio, na mesma área da palma foram plantados cacau, açaí, ucuuba, ipê, entre outras espécies. “Essa forma de cultura se mostrou muito mais rica, porque gera mais renda para a comunidade envolvida na extração e sequestra mais carbono do ambiente”, diz João Paulo Ferreira, presidente da Natura.

Como o ciclo de cultivo da palma é longo, em geral de sete anos, o projeto foi desenvolvido no decorrer da última década. Essa iniciativa está sendo desenvolvida em parceria com a Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu, no Pará, e com a Empresa Brasileira de -Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e conta com financiamento da Financiadora de Estudos e Projetos.

A conclusão do grupo é que o modelo pode se tornar uma importante alternativa para aumentar a escala da produção, com benefícios econômicos, ambientais e sociais. Ferreira lembra que, no início do projeto, a indústria de produção de óleo de palma encarou a iniciativa com ceticismo. Agora, diante dos resultados, há interessados em fazer parcerias para desenvolver o modelo. “Acredito que o projeto poderá mudar a indústria de dendê”, afirma o presidente da Natura. Hoje, a companhia compra óleo de palma apenas de produções com a Certificação Mesa Redonda sobre Óleo de Palma Sustentável (RSPO, na sigla em inglês), que garante um cultivo responsável. 

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SEM ESTEREÓTIPOS NOS ANÚNCIOS E NEM NA HORA DE RECRUTAR

Em busca de promover a equidade de gênero, a Ambev incentivou a criação de grupos de funcionários de mulheres e LGBT, aderiu a princípios em favor da diversidade e reviu campanhas publicitárias | Thais Folego

Desconstruir estereótipos de gênero em campanhas publicitárias de cerveja é a face mais visível da mudança de posicionamento que a Ambev, maior fabricante de bebidas do país, vem tomando também dentro de casa para promover um ambiente mais diverso. A companhia criou, no ano passado, dois grupos de funcionários: um de mulheres e outro de LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) para discutir e propor melhorias dentro do ambiente corporativo para esses públicos. O próximo passo é criar e fortalecer um grupo para promover também uma maior igualdade racial em seu quadro de funcionários.

Cada vez mais empresas têm procurado promover a diversidade de gênero, raça e orientação sexual, não apenas por questões filosóficas ou pressão dos consumidores. “Grupos mais diversos resolvem de uma forma melhor problemas mais complexos”, afirma Fábio Kapi-tanovas, vice-presidente de gente e gestão da Ambev. Em termos de gênero, a Ambev tem um longo caminho a percorrer. Somente 14% dos 32 500 funcionários no Brasil são mulheres. O grande abismo está na área operacional, na qual há 21 000 homens e 1 700 mulheres. -Ainda bem longe da equidade, a diretoria -apresenta o maior avanço. O percentual de mulheres em cadeiras nessa -posição subiu de 7%, em 2014, para 12%, no ano passado. Na gerência, elas ocupam 30% das posições. Há três anos, o percentual era de 28%.

Em 2016, a companhia aderiu aos Princípios de Empoderamento das Mulheres, da ONU, e ao Fórum de Empresas e Direitos LGBT, que compreende um conjunto de compromissos voluntários para a promoção da equidade de gênero. O reposicionamento também ocorre na comunicação com o público externo. A Skol foi uma das primeiras marcas a patrocinar a Parada do Orgulho LGBT de São Paulo — apoia também a do Rio de Janeiro e a de Belo Horizonte. A marca promoveu ainda a campanha Reposter, em que  convidou ilustradoras para redesenhar propagandas antigas.

Em outra bandeira escolhida pela companhia como prioritária, a água, houve uma novidade neste ano. Seus executivos decidiram ir além das medidas de redução de consumo de água em suas fábricas, entre as mais ecoeficientes do mundo no setor, e lançaram uma marca de água mineral, a Ama, no final de fevereiro. A promessa é a de que todo o lucro obtido por ela no futuro será destinado a oferecer acesso a água potável para populações do Brasil que sofrem com a falta do recurso.

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AJUDA PARA DETECTAR E COMBATER CASOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Como parte de uma ampla estratégia de combate à violência contra a mulher, a Avon desenvolveu um plano para que os gestores identifiquem e apoiem as funcionárias que se sentem ameaçadas dentro de casa | Thais Folego

Uma em cada três mulheres no Brasil já sofreu algum tipo de violência. Outro levantamento mostra que 503 mulheres foram vítimas de agressão física a cada hora no Brasil ao longo do ano passado. As agressões mais graves acontecem dentro da própria casa, vinda do parceiro. Com anos de pesquisas e ações de combate à violência doméstica, a unidade brasileira da fabricante de cosméticos americana Avon notou que conscientizar e promover uma rede de apoio era eficaz, mas não suficiente. Faltava detectar os casos a tempo de evitar que algo mais grave pudesse acontecer. Neste ano, a com-panhia começou a trabalhar em um -plano de treinamento com a liderança para que os gestores sejam capazes de iden-tificar sinais iniciais de violência e maus tratos entre as funcionárias, que representam 58% do total de empregados da companhia no país. Até agora, a empresa detectou seis casos.

A partir da identificação, a funcionária tem à sua disposição uma estrutura de apoio formada por psicólogos, assistentes sociais, advogados e consultores financeiros, por meio de uma central telefônica gratuita e confidencial, disponível sete dias por semana, 24 horas ao dia. “A maioria tem medo e vergonha de falar sobre o assunto. Em alguns casos, a mulher não tem consciência de que está sofrendo maus-tratos e, por isso, não pede ajuda”, afirma David Legher, presidente da Avon no Brasil. O trabalho da companhia com o tema extrapola os limites da empresa. Segundo Leghter, esse é um problema social com raízes culturais que precisa ser combatido em todas as esferas. Por isso, faz parte da política social da Avon em âmbito global, juntamente com ações de conscientização sobre o câncer de mama.

No Brasil, as ações são desenvolvidas por meio do Instituto Avon, que já investiu cerca de 20 milhões de reais em mais de 70 projetos em todo o país desde 2007. A atuação é baseada em quatro pilares: educação, articulação, apoio a projetos e engajamento de funcionários e revendedoras. Entre os projetos destaca-se a campanha “Fale Sem Medo — Não à Violência Contra a Mulher”, que deu origem a um fórum de mesmo nome que anualmente reúne especialistas para debater o tema. O instituto também financia pesquisas com recortes específicos, como o papel do homem na desconstrução do machismo e a violência de gênero no ambiente universitário. Mais recentemente, fechou uma parceria com o governo do estado de São Paulo para promover o treinamento de funcionários de delegacias sobre violência doméstica.

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COMO ENVOLVER OS FORNECEDORES NAS METAS DE SUSTENTABILIDADE

O Grupo Boticário ajuda seus fornecedores a promover as mesmas iniciativas que pratica para reduzir o consumo de energia, água e emissão de gases de efeito estufa | Thais Folego

Uma das mais novas frentes entre as práticas de sustentabilidade do Grupo Boticário está no es-forço de envolver toda a cadeia de produção de seus produtos. Dona das marcas O Boticário, The Beauty Box, Eudora e Quem disse, Berenice?, o grupo desenvolveu o Programa Parceria em Ecoeficiência, em que sua equipe de engenharia presta consultoria para que seus fornecedores implementem projetos para reduzir o consumo de água e de energia, e as emissões de gases de efeito estufa e de resíduos nas operações. A consultoria técnica é gratuita, e a contrapartida pedida é o compromisso na execução dos planos.

Atualmente, 12 fábricas de fornecedores participam do programa, existente desde 2015. “Como uma grande empresa, podemos ser aceleradores de mudanças também em nossos fornecedores”, diz Fábio Miguel, diretor de suprimentos do Grupo Boticário. Segundo ele, o objetivo do projeto é compartilhar tecnologias já estudadas e implementadas nas instalações do grupo ou mesmo identificar e propor soluções personalizadas para cada indústria.

Com base nisso, as empresas parceiras avaliam, de acordo com o investimento que podem fazer, quais melhorias podem ser realizadas. A equipe de consultoria do Boticário acompanha e monitora a implementação e os resultados. O programa contabilizou, até agora, a redução de 43 400 metros cúbicos de água por ano, o equivalente ao volume de 17 piscinas olímpicas. Também poupou 10 300 megawatt-hora ao ano, suficientes para o consumo da residência de quase 7 000 pessoas, além de reduzir 41 toneladas de CO2 por ano, o equivalente a 115 viagens de carro entre a Bahia e o Paraná.

Fornecedora do Grupo Boticário há 24 anos, a Box Print foi uma das primeiras a participar do projeto. Localizada em Campo Bom, no Rio Grande do Sul, a empresa  atua no mercado gráfico produzindo embalagens de papel. Os dois maiores custos de produção da companhia são matéria-prima e “setup” de máquina, ajuste feito no equipamento antes de rodar uma impressão. Para ganhar eficiência, o programa sugeriu a compra de uma máquina mais moderna para a decoração e o acabamento das embalagens. O novo equipamento consome 8% menos energia do que o anterior, consegue fazer cortes e vincos num formato que permite a economia de 500 quilos de papel por mês. Outra melhoria foi a aquisição de duas empilhadeiras para o carregamento dos fardos de aparas de papel, compactados e enviados para reciclagem. Os veículos usam, para a mesma movimentação interna, 28% menos gás liquefeito de petróleo (GLP) do que o modelo antigo.

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UNINDO FORÇAS PARA MAIS QUALIDADE DE VIDA

A Coca-Cola já devolve à natureza o dobro de água que gasta em suas fábricas. Agora ela se alia a concorrentes para ampliar o acesso de comunidades à água tratada | Álvaro Penachioni

Disposta a contribuir com soluções para os grandes problemas socioambientais de nosso tempo, a Coca-Cola redefiniu recentemente sua estratégia institucional. No Brasil, uma das facetas mais visíveis desse reposicionamento revela-se na gestão da água —principal insumo usado na fabricação de bebidas não alcoólicas de seu portfólio, composto de mais de 150 produtos. “A agenda sobre água no país é tão desafiadora que minimizar os impactos ou atingir a neutralidade nos processos produtivos pode ser um bom começo, mas está longe de ser uma meta aceitável”, diz Pedro Massa, diretor de valor compartilhado da Coca-Cola.

Por essa razão, a Coca-Cola reformulou sua estratégia e criou uma nova plataforma, batizada de Água +. O objetivo é consolidar as iniciativas em três pilares estratégicos: gestão mais eficiente dos recursos hídricos; aumento do volume de água devolvido à natureza; e ampliação do acesso à água por comunidades em situação de vulnerabilidade (no Brasil, 35 milhões de pessoas não têm acesso à água potável).

Para colocar em prática a nova plataforma, a Coca-Cola tem procurado atuar em conjunto com outras empresas — inclusive concorrentes. “Quando o assunto é a agenda de sustentabilidade, não se trata de algo essencial apenas para uma empresa, mas para toda a sociedade. Por isso, não deve haver uma lógica de competição”, diz Massa. Para atuar na conservação de mananciais, por exemplo, a Coca-Cola se aliou à Ambev e à Pepsico no fórum Coalizão Cidades pela Água, ao lado também de The Nature Conservancy, maior organização ambiental do mundo. O objetivo é restaurar e conservar matas ciliares de rios e nascentes em 12 estados, que abastecem 42 milhões de habitantes de regiões metropolitanas.

Com 42 fábricas no Brasil e 9,3 bilhões de litros de bebida produzidos em 2016, a Coca-Cola fez avanços notáveis na gestão de água nos últimos anos. Seu conjunto de fábricas devolve à natureza duas vezes a quantidade de água que usa no processo produtivo. Isso é possível com maior -eficiência na gestão de água nas fábricas e com o desenvolvimento de programas de retenção de água em bacias hidrográficas — os projetos de reflorestamento e de conservação abrangem 103.000 hectares nos estados de Amazonas, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. Outro resultado positivo: em 2016, a Coca-Cola gastou 1,78 litro de água para produzir cada litro de bebida, 2,5% menos do que no ano anterior. Desde 2001, a empresa diminuiu em 30% esse índice. Até 2020, a meta é alcançar a média de 1,68 litro de água por litro de bebida.

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PONTOS DE VENDA QUE PROMOVEM UM CONCEITO

A fabricante de cosméticos L’Oréal renova seu canal de varejo usando quiosques construídos com madeira certificada e material reciclado. E ainda gasta 60% menos do que antes | Amanda Luz

Brasil é o quarto país que mais consome produtos de beleza no mundo, e pelo menos metade das brasileiras compra um batom por ano. A francesa L’Oréal, líder do setor de cosméticos, viu nesse alto consumo uma oportunidade de compartilhar a ideia de sustentabilidade de forma mais próxima das consumidoras: nos canais de varejo. Desde o ano passado, os quiosques de venda de produtos de maquiagem da marca Maybelline NY passaram a ser instalados nos shopping centers do país com uma nova roupagem, mais ecológica. Esses quiosques, que vendem produtos como batons, máscaras de cílios, delineadores e pós faciais, são agora construídos com madeira de origem certificada com o selo FSC (que regula o manejo florestal), utilizam cola produzida com emissão zero de carbono e imprimem toda a comunicação visual com tinta à base de água, para facilitar a reciclagem.

Com as modificações no projeto, 30% menos madeira é utilizada na construção dos quiosques, inclusive porque os antigos são reutilizados dentro do conceito de logística reversa — o retorno do material ao seu local de origem para reaproveitamento ou para outra destinação ambientalmente adequada. O piso, modular, é 100% produzido com plástico PP (polipropileno) e PET reciclado, proveniente de outras indústrias, como de garrafas plásticas. Os novos quiosques, além disso, custam 60% menos do que os antigos. Dos quase 170 quiosques da marca, 23% já operam no novo padrão. “Entendemos que as marcas impactam a sociedade pela forma como se colocam no mercado. Por isso, temos responsabilidade pelo que criamos, inclusive quando fazemos merchandising nos quiosques”, diz Maya Colombani, diretora de sustentabilidade da L’Oréal no Brasil.

O desenvolvimento e a manutenção dos quiosques são feitos em parceria com a fornecedora Diam International, cuja força de trabalho é composta em sua maioria de moradores da comunidade de Guatupê, localizada nos arredores da fábrica em São José dos Pinhais, na -região metropolitana de Curitiba. Seguindo os passos da L’Oréal, que conseguiu diminuir sua pegada de carbono em 72% no ano passado, a Diam também vai -incluir painéis solares em sua fábrica ainda neste ano. Até 2020, a L’Oréal tem o -desafio de estender os quiosques sustentáveis às demais marcas do grupo com presença no varejo. “Vamos tornar esses quiosques nosso novo padrão”, diz Maya. A divisão profissional, que inclui marcas como Redken, L’Oréal Professionnel e Kérastase, deverá adotar os quiosques sustentáveis a partir de 2018.

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UM INCENTIVO À PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL DE CAFÉ

A suíça Nestlé subsidia a distribuição de mudas selecionadas e mais resistentes para garantir a oferta regular do café conilon, espécie usada na fabricação de solúveis | Amanda Luz 

Maior produtor brasileiro de café conilon, espécie usada na fabricação de café solúvel, o Espírito Santo sofreu nos últimos anos com a escassez de chuvas, o que reduziu à metade a safra de 2016, com uma perda estimada de 6 milhões de sacas. Para enfrentar a crise e assegurar uma produção sustentável da matéria-prima nos próximos anos, a suíça Nestlé tem ampliado a distribuição de mudas selecionadas e a capacitação profissional de agricultores por meio do programa Nescafé Plan.

A iniciativa oferece descontos de 25% na aquisição das mudas — produzidas com a clonagem de plantas com características de produtividade e qualidade superiores, incluindo maior resistência a pragas — a 820 produtores de café no Espírito Santo e na Bahia. No ano passado, o Nescafé Plan estendeu o benefício a lavouras de Rondônia, segundo maior produtor de conilon do país. A meta global da Nestlé é alcançar 220 milhões de mudas distribuídas a cafeicultores até 2020. No Brasil, está prevista neste ano a distribuição de 6,5 milhões de mudas, maior número desde o início do programa, há cinco anos. “Facilitar o acesso às mudas contribui para a cadeia do café, uma vez que o agricultor reduz sua despesa com as mudas e pode investir mais no preparo do solo, em fertilizantes e em outros insumos necessários para a lavoura”, diz Pedro Feliu, diretor de cafés da Nestlé.

Maior compradora de café verde do mundo, a Nestlé está entre as fundadoras do Código Comum para a Comunidade Cafeeira (4C), que dissemina a sustentabilidade da cultura do café por meio da emissão de licenças e verificações. Em 2016, foram negociadas 11 000 toneladas de grãos verdes via Nescafé Plan. Na prática, todos os fornecedores foram submetidos a ações de apoio técnico e capacitação, além de programas de uso racional de recursos e redução de impacto ambiental. Diante da mudança no regime de chuvas, muito abaixo das médias históricas — as lavouras de conilon são, em sua maioria, irrigadas —, foram priorizados treinamentos e seminários sobre o uso racional da água com esses parceiros.

Outra iniciativa da Nestlé, que está presente no Brasil por meio de Nescafé, Dolce Gusto e Nespresso, é o uso de material reciclado para a produção de tubetes, pequenos recipientes usados no plantio de mudas nos viveiros. Dentro do conceito de “economia circular”, a empresa desenvolveu estudos para produzir tubetes com resina reciclada de cápsulas da Dolce Gusto. Até 2018, 8 toneladas de material plástico serão reintegradas ao ciclo de vida do produto, com o fornecimento de 1 milhão de tubetes.

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MARCAS MAIS SUSTENTÁVEIS E COM RESULTADOS MELHORES

As linhas de produtos que mais crescem no portfólio da Unilever são as que possuem apelo sustentável — e os esforços para mantê-lo vão desde mudanças nas embalagens até o rastreamento de fornecedores | Michele Loureiro

anglo-holandesa Unilever tem motivos concretos para acreditar que o propósito de suas marcas influencia diretamente no desempenho  delas no mercado. Em 2010, a companhia lançou o Plano de Sustentabilidade, com base numa pesquisa realizada com 20 000 consumidores ao redor do mundo. Mais da metade deles afirmou querer comprar produtos sustentáveis, e 33% já compravam. Para atender consumidores cada vez mais preocupados com a procedência dos alimentos que consomem, com hábitos de vida mais saudáveis e que prezam pela preservação do planeta, a Unilever colocou a sustentabilidade no centro de sua estratégia.

Atualmente, 18 de suas 40 principais marcas são consideradas internamente “marcas com propósito”. Em 2015, eram 12. A linha de sabonetes, xampus e cremes Dove, o sabão para roupas Brilhante e a linha de molhos Hellmann’s são exemplos. Somente em 2016, essas marcas entregaram mais de 60% do crescimento total da companhia e suas vendas aumentaram 50% mais rapidamente em relação ao restante do negócio. No ano passado, as vendas globais da empresa cresceram 4,3% e atingiram 52,7 bilhões de euros. “O crescimento das marcas com propósito comprova que inserir a sustentabilidade no coração do negócio não só é a melhor decisão como também o único caminho viável para empresas que visam ao longo prazo”, diz Marcelo Scarcelli, diretor de logística da Unilever no Brasil.

Há esforços em diversas frentes. Nas linhas de desodorantes comprimidos, a empresa passou a usar 50% menos gás e 25% menos material nas embalagens. Para garantir que o propósito não saia da linha, a Unilever também observa seus fornecedores. A meta é que, até 2020, 100% das matérias-primas agrícolas sejam fornecidas de forma sustentável. Em 2016, o índice foi de 51%. Para dar o salto, a companhia investe na rastreabilidade da cadeia de suprimentos.

No Brasil, a Unilever mantém o programa Produzindo Certo, que visa aumentar a produção responsável de soja no país, incentivando os produtores a se adequar a legislações internacionais. Lançado em 2015, o programa, coordenado pela ONG Aliança da Terra, reúne quatro empresas com ex-pertises complementares: Bayer, San-tander, Unilever e Yara. Somente na primeira fase, aderiram ao programa 62 produtores, donos de 152.000 hectares de plantio. Desses produtores, 38 conquistaram a certificação internacional, totalizando 186.000 toneladas de soja certificada — e receberam, juntos, mais de 1  milhão de reais como resultado da valorização do produto certificado.

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