Revista Exame

Grupo dono da Telhanorte se renova desde a Revolução Francesa

Um dos conglomerados mais antigos do mundo, o grupo francês Saint-Gobain, dono da Telhanorte, tem há três séculos o desafio de não ficar para trás

Chalendar: “Se não inovássemos, já teríamos morrido várias vezes” (Germano Lüders/Exame)

Chalendar: “Se não inovássemos, já teríamos morrido várias vezes” (Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 26 de abril de 2018 às 05h00.

Última atualização em 26 de abril de 2018 às 05h00.

Criada em 1665 pelo rei francês Luís XIV, “a Manufatura de Vidros” (ou La Compagnie des Glaces, no original em francês), como era chamada a Saint-Gobain, nasceu para concorrer com a luxuosa indústria de vidros de Veneza. Para isso, criou uma nova forma de fazer vidros planos e espelhos. Produziu, por exemplo, os famosos espelhos do Palácio de Versalhes. Com o passar dos anos, a Saint-Gobain diversificou os negócios e é hoje um dos maiores conglomerados do mundo, com 179.000 funcionários e presença em 67 países. Em 2017, seu faturamento alcançou 41 bilhões de euros (165 bilhões de reais).

No Brasil, quinta maior operação, foram 10 bilhões de reais em vendas em 2017, de 23 marcas, como a varejista de material de construção Telhanorte e a fabricante de vidros planos Cebrace. A crise pesou nos negócios, mas, mesmo assim, a empresa cresceu 6,4% no ano passado. Pierre-André de Chalendar, presidente global da Saint-Gobain, diz que o segredo, no curto e no longuíssimo prazo, é a reinvenção. Só aqui, a companhia tem parceria com cerca de 500 startups. Chalendar falou com EXAME numa viagem recente ao Brasil.

A Saint-Gobain é uma gigante de mais de 300 anos, uma longevidade impensável no Brasil. Como a empresa se mantém competitiva?

O segredo é se reinventar sempre. Se não inovássemos, já teríamos morrido várias vezes. Mas sobrevivemos a muitas crises, guerras e revoluções. O setor de material de construção mudou muito nos últimos anos. O jeito como estamos construindo nossas casas e escritórios hoje é diferente do passado e não será mais o mesmo em dez anos. As pessoas vão querer viver e trabalhar com mais conforto, e isso vai exigir novos tipos de material. Outro exemplo é o setor automotivo. Vendemos vidro para as montadoras e elas nos trouxeram desafios para as telas touch screen do painel.

Nossa meta, como líder nesse segmento, é ser o primeiro a apresentar essas inovações. Então, para isso, estamos aumentando os investimentos em desenvolvimento de novas soluções. Dois anos atrás, inauguramos um novo centro de desenvolvimento no Brasil, em Capivari, no interior de São Paulo, para acelerar as inovações. É um de nossos oito centros desse tipo no mundo e é focado em soluções para o mercado de cimento.

No ano passado, a Saint-Gobain comprou três empresas no Brasil e entrou em áreas em que não atuava. O que pauta os investimentos em novos setores na companhia?

Acredito que a inovação venha de todos os lugares. Investimos 550 milhões de reais em três aquisições no ano passado [Tekbond e Adespec, de adesivos e selantes, e a varejista gaúcha de material de construção Tumelero], mas também investimos em nosso centro de pesquisa e desenvolvimento. No futuro, veremos um grande crescimento da inovação aberta, ou seja, de empresas permitindo que startups, universidades ou outras fontes de inovação se conectem a elas para desenvolver novas soluções. Nós precisamos estar em contato com essas novas ideias. Hoje, apenas no Brasil, a Saint-Gobain tem parceria com cerca de 500 startups, em projetos que vão de mar-keting a inteligência artificial. Atualmente, 86% dos projetos da Saint-Gobain usam soluções vindas de startups.

As fábricas têm mudado muito mundo afora. O que a Saint-Gobain tem feito para se manter no novo cenário?

Temos feito mais sem precisar de novas unidades. No Brasil, o que já temos instalado é suficiente para atender à demanda, mas com mais eficiência. Aproveitamos as novas tecnologias, mais baratas, para fazer diversos programas nas fábricas da Saint-Gobain destinados a aumentar nossa produtividade. Estamos introduzindo robôs, usando tecnologias digitais para melhorar os processos e muitas soluções de tecnologia da informação. Apenas no ano passado, investimos 350 milhões de reais para automatizar nossas fábricas no Brasil. Conseguimos elevar em 3% nossa produtividade. Neste ano, vamos aumentar em 20% os investimentos. É uma estratégia global que estamos implantando aqui. Os investimentos na eficiência das fábricas ajudam a compensar os altos custos do Brasil.

Com 350 anos de história, a companhia está habituada a crises, como a que afetou o Brasil nos últimos anos. Qual o melhor jeito de passar por elas?

Nossos resultados recentes no Brasil não foram os que queríamos, mas conseguimos manter a lucratividade. Isso é importante. Como investimos em muitos setores e em muitos países, também conseguimos nos proteger, já que os negócios têm ciclos diferentes. O setor de construção civil, por exemplo, está demorando mais para se recuperar, enquanto nossos negócios da área industrial voltaram mais cedo no ano passado. Hoje, a Saint-Gobain obtém 35% de seu lucro fora dos Estados Unidos e da Europa.

Outra coisa importante é não parar de investir, para se beneficiar quando a crise passar. Nos últimos dois anos, tentamos tirar vantagem das dificuldades do mercado para consolidar algumas áreas e fazer avanços no Brasil. Entre aquisições e investimentos nas fábricas, foi gasto quase 1 bilhão de reais. O mercado estava difícil, mas vimos que era o momento certo de fazer esses investimentos. 

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