Rinaldi Farias, da dupla Patati Patatá: começou como palhaço e fatura 35 milhões de reais (Germano Lüders / EXAME)
Da Redação
Publicado em 26 de dezembro de 2015 às 04h56.
São Paulo - Geração após geração, as crianças brasileiras cresceram assistindo a desenhos e seriados importados — Tom & Jerry, Chaves, Toy Story e afins. As poucas produções nacionais de sucesso, como Castelo Rá-Tim-Bum e Sítio do Pica-Pau Amarelo, não passavam de valentes intrusas. Mas, de uns anos para cá, os televisores e os tablets da criançada foram invadidos por personagens criados por produtoras brasileiras.
A Rinaldi Produções criou a dupla de palhaços Patati Patatá. A TV PinGuim, o Peixonauta, um peixe que vive fora d’água, e o Show da Luna, série sobre uma garota que adora ciências. A eles se somam a formiga Bob Zoom, da paulista sBusiness, o ruivinho Bita, da pernambucana Mr. Plot, a turma de amigos Os Pequerruchos, da carioca Pequerruchos Produções.
Juntas, as animações brasileiras têm mais de 6 bilhões de visualizações no YouTube. Todas têm um objetivo em comum — repetir o sucesso da Galinha Pintadinha, criada em 2006 pela paulistana Bromélia Produções e que já tem mais de 4 bilhões de visualizações no YouTube.
A intenção de seus criadores, o publicitário Juliano Prado e o administrador Marcos Luporini, era criar uma animação que ajudasse a pagar as contas. No primeiro ano, foram rejeitados por três canais de televisão. Decidiram, então, colocar um vídeo da galinha no YouTube para facilitar as apresentações do personagem nas reuniões. Seis meses depois, o vídeo tinha 500 000 visualizações.
“Foi quando me dei conta do potencial da galinha”, diz Prado. Hoje, eles têm o canal brasileiro mais visto no YouTube, já venderam 2 milhões de DVDs e faturam mais de 200 milhões de reais por ano.
A estratégia de todas as produtoras é parecida: criar um personagem de sucesso, fazer vídeos que combinem com YouTube e Netflix e depois ganhar com a venda de produtos licenciados. Quem chega mais perto da Galinha Pintadinha é a dupla de palhaços Patati Patatá, que deve faturar 35 milhões de reais neste ano. Seu dono, Rinaldi Farias, começou o negócio interpretando um dos palhaços da dupla — que depois virou personagem de animação. Seus vídeos já foram vistos 400 milhões de vezes no YouTube.
Assim como ele, os empreendedores à frente das outras produtoras chegaram ao mercado meio por acaso. Eles não se formaram em artes audiovisuais, não fizeram carreira no cinema nem na televisão e não são gênios criativos. Produziram desenhos com traços simples, apostaram em canções de domínio público e em roteiros descomplicados.
Suas empresas estão instaladas em escritórios pequenos, com pouco mais de meia dúzia de funcionários. A sede da Bromélia é tão pequena que os sócios não gostam de receber jornalistas por lá. A Rinaldi ainda não tem estúdio próprio. Os sócios da sBusiness ainda dividem o tempo entre o Bob Zoom e uma consultoria de mídias sociais.
Todos eles têm o mérito de ter se antecipado a um mercado que explodiu. Isso aconteceu porque fazer uma animação ficou mais fácil e barato — e também porque a distribuição mudou muito. De um lado, Netflix, YouTube e redes sociais facilitaram a vida das novatas. De outro, uma lei de 2013 obrigou os canais a cabo a ter 30% de programação nacional e abriu um enorme mercado para as produtoras um pouco mais estruturadas. De lá para cá, os programas brasileiros triplicaram sua presença nos canais a cabo — para 7 000 horas ao ano.
A má notícia, para essas empresas, é que muita exposição nem sempre representa mais retorno. A maior parte das produtoras sofre para pagar as contas. O dinheiro distribuído pelo YouTube é insuficiente, e os contratos com os canais a cabo nem sempre são vantajosos. O faturamento cresce mesmo é com acordos de licenciamento e com a exposição dos brinquedos em redes de varejo — que não têm espaço para tantos novos personagens.
A Galinha Pintadinha, que tem mais de 600 licenciamentos e já garantiu seu lugar nas grandes redes, consegue margem estimada em 10% ao ano. Com dinheiro em caixa, tem planos para chegar a países como França, Alemanha e Japão, e investe 10 milhões de reais na criação de uma nova série para a TV. Enquanto os novos concorrentes brigam para chegar lá, a galinha segue seu voo.