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Vacinação avançada causa reflexão sobre volta da 'vida normal'

O avanço da vacinação traz um questionamento: estamos saudosos da chamada vida normal ou nos acostumamos aos novos hábitos do isolamento?

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Adaptação: a volta da convivência social será um convite à delicadeza (Klaus Vedfelt/Getty Images)

Adaptação: a volta da convivência social será um convite à delicadeza (Klaus Vedfelt/Getty Images)

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GabrielJusto

Publicado em 15 de julho de 2021 às, 05h13.

Ninguém aguenta mais a pandemia. Fato. Mas, assim como sua chegada deu um chacoalhão em nossa vida, o esperado retorno à chamada vida normal, com eventos sociais sem restrições, novos rostos, situações e paisagens, traz consigo elementos que não deixaram tanta saudade assim.

Entre eles a correria do dia a dia, o trânsito e a ansiedade. Até mesmo a Fomo, acrônimo para fear of missing out, aquela sensação que pinta toda vez que nos sentimos mal por supostamente estarmos perdendo algo que está acontecendo.

Para a videomaker Nayara Macedo, a esperança trazida pela vacinação às vezes parece um pouco ofuscante. Baladeira até o início da pandemia, ela conseguiu se adaptar bem à realidade pandêmica. Desde março de 2020, se manteve completamente isolada — tanto que, de lá para cá, precisou de um apartamento maior para comportar a nova rotina. Passou a cuidar mais da casa, do próprio sono e da alimentação e até iniciou uma pós-graduação. 

“Eu gostava muito da minha vida de antes, mas até então eu não conhecia esta de agora. E eu gosto dela também. Sinto que tenho mais controle sobre as coisas”, conta a videomaker, que levou muitos meses de pandemia (e de terapia) para moldar essa percepção positiva em meio ao caos do momento. “Tenho até um pouco de aflição de pensar como era antes, aquela loucura, todo o estresse que aquela vida agitada me causava.”

Com o avanço da vacinação, que deve acelerar no segundo semestre, grandes eventos despontam no horizonte, como as festas de Réveillon e os blocos de Carnaval. Estima-se, portanto, que compromissos evitados no último ano e meio, como aniversários, festas, bares e baladas, também estarão de volta, e com grande frequência, até dezembro — ou, no máximo, no começo de 2022.

“Não tenho certeza se vou querer estar presente em tantos eventos e compromissos quanto antes. Juro que até penso no que eu vou falar para os meus amigos, qual será a desculpa para eu não estar presente”, brinca Macedo, que se acostumou a se relacionar através de telas. “Se a pessoa me acompanhar, eu bebo e converso com ela até de madrugada por videochamada. Me acostumei a essa situação, e acho que isso colabora com o sentimento de que eu não preciso necessariamente estar nos lugares.” 

Apesar de ser um trauma coletivo, a pandemia afetou cada um de nós de maneira diferente. Se por um lado existe a ansiedade de não querer mais voltar à antiga rotina, há também a ansiedade de querer viver novamente tudo aquilo que a pandemia nos negou, mas não poder — porque, muitas vezes, o home office tomou todo o nosso tempo, borrando as linhas entre o trabalho e a vida pessoal. 

“Desde que a pandemia começou, tenho trabalhado tanto que sinto que, se estivéssemos na vida normal, eu estaria perdendo muita coisa. Sinto que desaprendi o ritmo da vida normal”, conta o economista Murilo Rabusky, que abriu a própria empresa de infraestrutura para o mercado financeiro em março de 2020 e, de lá para cá, tem trabalhado cerca de 10 horas por dia, em casa. “O fato de não termos outros compromissos por causa da pandemia contribui para que esse ritmo mais acelerado se estabeleça.”

Como seu negócio surgiu praticamente junto com a pandemia, Rabusky não faz ideia de como seria seu ritmo de trabalho no mundo de antes, mas aposta que seria necessário uma grande adaptação. “Pessoalmente, quero muito minha vida social de volta. Mas todas essas questões me geram uma ansiedade, sim”, diz o economista.

Em meio à euforia de um retorno à normalidade cada vez mais próximo, Macedo e Rabusky podem parecer um pouco deslocados. Mas não estão. Queixas como as deles têm se tornado cada vez mais frequentes nos consultórios médicos, como explica Elisa Zaneratto­ Rosa, doutora em psicologia social e professora na PUC-SP. “Além da mudança abrupta que foi a chegada da pandemia, estamos constantemente nos adaptando a novas mudanças, e isso mobiliza angústias, dúvidas, incertezas, ansiedade em relação ao futuro”, explica. “As pessoas estão muito afetadas psicologicamente com as dores deste tempo histórico. Não acredito que fomos transformados pela pandemia, mas certamente estamos mexidos.”

A julgar pelos novos surtos de ­covid-19 que acontecem na Europa e pela persistência do alto número de casos no Brasil, a pandemia ainda está longe de acabar. Mas é certo que, em algum momento, todos nós, ansiosos e receosos, poderemos nos encontrar novamente, sem máscara e sem restrições. “Mas, como diz a música, ‘a tristeza é senhora’ deste tempo histórico”, diz Rosa. “Por isso, esse reencontro é também um convite à delicadeza, a olharmos com mais cuidado para o outro.”  

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