Revista Exame

Para europeus, o lema é "Si hay gobierno, soy contra"

O impasse político na Espanha, que tem nova eleição em junho, é exemplo da crise dos partidos tradicionais na Europa


	Parlamento Espanhol: após meses sem governo, os espanhóis voltam às urnas
 (Almagro/Sipa USA/ap images)

Parlamento Espanhol: após meses sem governo, os espanhóis voltam às urnas (Almagro/Sipa USA/ap images)

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Da Redação

Publicado em 4 de junho de 2016 às 05h56.

São Paulo — Em pelo menos uma coisa os espanhóis parecem concordar: nenhum partido deve ganhar a maioria dos votos nas eleições marcadas para o dia 26 de junho. Fora alguma surpresa — e elas sempre podem mudar tudo na política —, o mais provável é que o país siga dividido.

A Espanha vive hoje uma situação estranha: os espanhóis foram às urnas em dezembro para escolher seus representantes no Parlamento. Passados cinco meses, os eleitos ainda não tinham conseguido formar uma coalizão partidária para governar a quinta maior economia da Europa. Pela primeira vez desde a redemocratização em 1978, o rei se viu obrigado a convocar uma nova eleição. 

Por décadas, o Partido Popular da Espanha (PP), do atual premiê Mariano Rajoy, de centro-direita, e o Partido Socialista Operário da Espanha (PSOE), de centro-esquerda, vinham se alternando no poder. Isso até a crise econômica dos últimos anos impulsionar o partido antiausteridade Podemos, de esquerda, e o liberal Ciudadanos (Cidadãos).

Ambos foram bem votados nas eleições gerais de dezembro — e continuam bem posicionados para o dia 26 de junho. Nesse novo contexto, o PP, ainda o maior partido político, tem dificuldade de passar do teto de 30% dos votos e os socialistas correm o sério risco de perder o status de grande força da centro-esquerda para a coligação formada pelo Podemos e pelo nanico Esquerda Unida.

De acordo com a média das últimas pesquisas, o PP tem 29% dos votos, seguido pelo Podemos, com 24%, o PSOE, com 21%, e o Ciudadanos, com 15%. Esse quadro faz os analistas prever o que seria considerado uma loucura há pouco tempo.

“A única coalização possível agora é um governo liderado pelo PP em aliança com o rival PSOE e com o Ciudadanos”, afirma Alfredo Pastor, ex-secretário de Assuntos Econômicos da Espanha e professor na escola de negócios Iese. A dificuldade é juntar partidos historicamente rivais e com visões diferentes.

Enquanto os socialistas do PSOE defendem uma reforma fiscal que mantenha benefícios sociais, o centro-direita Ciudadanos quer cortes maiores. Já o esquerdista Podemos, do líder Pablo Iglesias, é contrário a alianças com os partidos tradicionais.

“A classe política espanhola, acostumada à rotação de apenas dois grandes partidos, agora terá de aprender a formar coalizões”, diz a cientista política Arantza de Areilza, professora na escola de negócios IE. Ainda que o Parlamento siga fragmentado, os políticos serão cobrados a formar um governo.

A favor de um acordo pesam pesquisas de opinião na qual os eleitores dizem preferir uma democracia de coalizão a um sistema com dois partidos. A fragmentação não é, claro, uma exclusividade espanhola. Um estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas de Munique analisou 800 eleições em 20 países europeus ao longo dos últimos 140 anos.

A conclusão é que, logo após os períodos de crise econômica, os partidos dominantes são os mais afetados. O estudo examinou a última eleição antes da crise de 2008 e a primeira logo depois. Na Bélgica, na Dinamarca, na Alemanha, na Holanda e em Portugal, os partidos ou as coalizões no poder perderam o equivalente a 20 pontos percentuais dos votos.

Nos últimos anos, essa tendência tem mudado o quadro político em várias partes da Europa. Nas eleições portuguesas do ano passado, o Partido Social Democrata, então no poder, ganhou, mas não ficou. Obteve 44% das cadeiras do Parlamento, formou uma nova administração, mas durou apenas 11 dias — o governo mais breve desde a redemocratização em 1974.

Graças à ascensão de pequenos partidos de esquerda, o Par­ti­do Socialista português, o segundo co­locado, conseguiu formar uma alian­ça inédita. Na Irlanda, em fevereiro, o resultado das urnas fez com que o no­vo governo demorasse dois meses para ser formado, o maior tempo em 30 anos. A crise política só acabou com a união de dois rivais históricos, os democratas cristãos e os partidários da centro-direita.

Na Áustria, em maio, Alexander van der Bellen, do Partido Verde, venceu a eleição para presidente. Foi a primeira vez, desde 1986, que o eleito não era do Partido Social Democrata ou do Partido do Povo Austría­co. Em várias partes da Europa hoje, a máxima “dividir para governar” tem ganhado um novo significado.

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