Revista Exame

Os melhores gestores de fundos do ano

Saiba quem se destacou nos últimos 12 meses, segundo uma pesquisa do Centro de Estudos em Finanças da FGV

James Oliveira, sócio e diretor da gestora do banco BTG Pactual (Germano Lüders/EXAME.com)

James Oliveira, sócio e diretor da gestora do banco BTG Pactual (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 27 de setembro de 2012 às 15h32.

São Paulo - Uma discussão recorrente no mercado financeiro é: investir em fundos vale a pena? Ou é melhor comprar ações, títulos públicos e outros ativos diretamente — e, assim, evitar pagar taxas de administração e de performance, que acabam comendo parte do rendimento?

A resposta, claro, depende do talento dos gestores dos fundos. Pagar para receber algo muito próximo dos juros de mercado — ou do Ibovespa, quando o fundo é de ações — provavelmente não vale a pena. Mas há fundos que vão melhor do que a média — em alguns casos, bem melhor.

Nos últimos 12 meses, os multimercados ren­deram em torno de 13%, 20% mais que o CDI. Em três anos, os fundos de ações ativos, aqueles em que o gestor tem liberdade para escolher quais papéis comprar, valorizaram 46%, enquanto o Ibovespa subiu apenas 4%. E quais são os melhores gestores em cada uma dessas categorias?

É o que revela uma pesquisa exclusiva realizada pelo Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas com base nos dados de risco e retorno de 1 000 fundos abertos nos últimos 12 meses terminados em junho.

Segundo esse critério, foram escolhidos os gestores de destaque entre grandes instituições e as especialistas — aquelas que detêm, individualmente, menos de 0,5% do patrimônio total dos fundos analisados.

Em entrevistas nas páginas a seguir, os melhores gestores do ano dizem o que fizeram de certo e quais são suas apostas para os próximos meses. Muitos já voltaram a comprar ações, alguns estão aplicando fora do Brasil. A maioria espera novos cortes de juros, pelo menos no curto prazo.

Melhores do ano

Dos juros à bolsa - BTG Pactual

O banco BTG Pactual ganhou de EXAME, pelo segundo ano consecutivo, o prêmio de melhor gestor de fundos do país. O principal motivo para isso: seus gestores ganharam muito dinheiro adivinhando o que aconteceria nas reuniões do Banco Central.


“Antecipamos a queda dos juros em 2011. Essa foi nossa principal aposta no ano e explica o desempenho dos fundos”, diz James Oliveira, sócio e diretor da gestora do BTG. Agora, suas maiores apostas estão na bolsa.

EXAME - Que ações os fundos do BTG estão comprando?

James Oliveira - As de varejistas, como Lojas Renner, processadoras de cartões, concessionárias de rodovias e outras empresas voltadas para o mercado interno. Achamos que o mau humor dos investidores, especialmente dos estrangeiros, com a bolsa brasileira foi exagerado, então há oportunidades no mercado.

Além disso, pontos críticos no início do ano, como o aumento da inadimplência e do endividamento da população, preo­cupam um pouco menos agora. Mas estamos comprando de forma cautelosa, sem aumentar demais o risco.

EXAME - E as produtoras de commodities?

James Oliveira - Ainda não é o momento. O cenário externo continua bastante indefinido. É difícil prever o que pode ocorrer, então preferimos aplicar naquilo que entendemos melhor.

EXAME - Ainda há espaço para ganhar dinheiro apostando na queda dos juros?

James Oliveira - Sim, mas bem menos que no passado. Não temos mais uma posição estrutural nesse mercado, fazemos investimentos oportunistas, dependendo do preço. A tendência dos juros é de queda nos próximos meses, mas ainda é cedo para antecipar prazos mais longos.

De volta para o Brasil - Advis

Com fundos que têm rendido mais — alguns, bem mais — que a média da concorrência, a gestora paulistana Advis recebeu investimentos que fizeram seu patrimônio aumentar mais de 200 vezes em quatro anos. Hoje, tem 7 bilhões de reais sob gestão, entre fundos abertos e fechados.


Em 2011, boa parte do retorno dos fundos veio de apostas na piora da crise na Europa — como aplicações no mercado futuro que anteciparam a desvalorização do euro. Recentemente, os gestores passaram a comprar ações de empresas brasileiras, porque estão mais otimistas com a economia local.

EXAME - O PIB brasileiro pode crescer mais do que 2% neste ano?

Alexandre de Zagottis - Não fazemos previsões tão específicas. Mas acredito que a queda dos juros e os pacotes de estímulo do governo devam fazer a economia voltar a crescer no segundo semestre.

EXAME - Isso pode beneficiar a bolsa?

Alexandre de Zagottis - Sim, mas de maneira seletiva. É preciso garimpar as ações de empresas voltadas para o mercado interno que continuam apresentando bons resultados e não ficaram caras. Temos investimentos relevantes em empresas como as redes de ensino Anhanguera e Kroton, a varejista Lojas Marisa e a administradora de shoppings Sonae Sierra.

Fundos de ações

Educação é o futuro - Pollux

"Voltamos a aumentar nossos investimentos em ações nos últimos quatro meses. Vejo um potencial de valorização de 50%, em média, dos papéis que temos no fundo — já descontado o custo de oportunidade de uma aplicação de renda fixa mais conservadora. A queda dos juros ainda não se refletiu no desempenho da bolsa, e isso deve ocorrer daqui para a frente. 

Nossa maior aposta é o setor de educação. A política de crédito estudantil foi reformulada e deve provocar mudanças importantes nesse mercado: a demanda tende a aumentar e os preços podem ser reajustados. No futuro, é possível que ocorra aqui o que se vê nos Estados Unidos.

Lá, as pessoas aproveitam períodos de crise para estudar e se qualificar, e assim manter o emprego ou arrumar algo melhor. Aqui, o pessoal ainda corta o estudo quando tem problemas financeiros, porque o crédito é escasso. Temos ações da Estácio, uma das maiores redes de ensino superior do país, que estão num preço bom. 

Em outro setor, também vemos potencial para a Cosan.  Existe um preconceito com a governança da empresa por causa de problemas no passado, mas acreditamos que essa fase já passou. A gestão é excelente e a companhia está se reinventando, com investimentos em outras áreas, além da produção de açúcar e álcool.” Rodrigo Fonseca, sócio e gestor de renda variável.


É preciso sair do óbvio - BNY Mellon ARX

"O Ibovespa pode cair ou subir pouco daqui para a frente, mas há muitas ações interessantes fora do óbvio, além das empresas que fazem parte do índice. Continuamos apostando numa estratégia que deu certo nos últimos meses: comprar papéis menos voláteis, como os de pagadoras de dividendos, e de empresas voltadas para o mercado interno, que estão menos sujeitas à instabilidade da economia mundial.

Nossos preferidos são os de concessionárias de rodovias, companhias de energia elétrica e shopping centers — que, de forma geral, conseguem reajustar seus preços pelos índices de inflação, uma proteção extra interessante num período em que os preços estão subindo.

Além disso, voltamos a investir em ações de bancos, que caíram bastante recentemente e estão num preço atraente. Esperamos que, com a inadimplência em patamares um pouco mais controlados, os resultados das instituições financeiras melhorem.” José Alberto Tovar, diretor responsável pela gestora.

É caro, mas e daí? - Bradesco

"Algumas das ações mais promissoras da bolsa neste ano já subiram bastante nos últimos meses e estão mais caras do que a média do mercado. É o caso da Multiplus, empresa de milhagens da TAM, da processadora de cartões Cielo, da Ambev e da Natura.

Mas continuamos apostando nelas porque seus resultados melhoraram no primeiro semestre deste ano, enquanto muitas outras empresas divulgaram números piores. É um feito interessante. 

Também temos ações da empresa de engenharia Mills e das concessionárias de rodovias CCR e Ecorodovias, porque apostamos no setor de infraestrutura. O recente pacote anunciado pelo governo foi uma ótima notícia: só reforça a demanda por investimentos privados nessa área.” Milton Cabral Filho, gestor de renda variável do banco.


Fundos multimercados

A bolsa é obrigação - Votorantim

"Para quem tem 25, 30 anos hoje e está formando uma poupança para algum projeto de prazo mais longo, a bolsa é uma aplicação quase obrigatória. Esse investidor terá condições de ganhar com a evolução do país e com os juros mais baixos. Mas, no curto prazo, a história é outra.

O panorama externo continua bastante desafiador, e isso vem afetando a economia local. Basta ver a surpresa com o PIB deste ano. Nossa estratégia é manter o risco dos fundos num nível baixo. Vamos comprar ações de forma pontual, quando surgirem oportunidades.” Robert John van Dijk, diretor da gestora do banco.

Tolerância à inflação - Daycoval

"Estamos preparados para um ano em que será preciso batalhar para conseguir retornos superiores aos juros de mercado, sem aumentar demais o risco do fundo. Os papéis de bancos médios que tínhamos em carteira estão vencendo e estão sendo substituídos por letras financeiras, emitidas por grandes instituições.

Como o prazo de vencimento das letras é relativamente longo, superior a dois anos, a rentabilidade tem sido atraente, de 8,5% ao ano. E o risco é menor. Também avaliamos comprar títulos públicos ou privados atrelados à inflação. Achamos que o governo terá uma postura mais tolerante com os preços, para manter os juros baixos.” Roberto Kropp, diretor da gestora do banco.

A Europa vai mal, ele ganha - Advis

"Não vemos nenhuma perspectiva de solução da crise na Europa no médio prazo. Por isso, estruturamos investimentos para ganhar com esse cenário. Estamos comprando títulos públicos da França com vencimento em dez anos porque acreditamos que o risco de crédito do país vai piorar e os investidores vão exigir juros mais elevados para comprar esses papéis, o que deve elevar seus retornos.


Também apostamos na desvalorização da bolsa da Alemanha, que subiu muito nos últimos meses e acabou ficando cara. Além disso, até que haja alguma melhora na situação da Europa, esperamos que o euro permaneça em baixa em relação ao dólar.” Eduardo Bodra, sócio da gestora.

Otimista com a economia - Itaú Unibanco

"Estamos mais otimistas do que boa parte do mercado com a economia brasileira. Este ano ainda será fraco — projetamos uma expansão de 1,75% em 12 meses —, mas, em 2013, o crescimento pode chegar a 4,5%. Isso deve fazer a inflação continuar alta, ao redor de 5,5%.

Por isso, estamos comprando títulos públicos atrelados à variação do IPCA, com diferentes prazos de vencimento. Ganhamos com investimentos em câmbio nos últimos 12 meses porque antecipamos a subida do dólar para 2 reais.

Mas, agora, acreditamos que não haja muito mais espaço para mudanças — nem para cima, nem para baixo, porque entendemos que esse é um patamar que agrada ao governo. O Banco Central deve continuar a fazer leilões de compra e venda da moeda para manter a cotação ao redor desse nível, como voltou a ocorrer em meados de agosto.” Paulo Corchaki, diretor da gestora do banco.

Fundos de renda fixa

O PIB brasileiro é um luxo - BTG Pactual

"A recuperação econômica não ocorreu nos mercados desenvolvidos. Os Estados Unidos estão num momento mais confortável que a Europa, mas a situação fiscal é um problema grave. Não está claro como os americanos vão equacionar a dívida pública, e é provável que haja cisões no Congresso. Isso segura os investimentos produtivos.

A crise na Europa vai durar muitos anos. Nesse cenário, o crescimento brasileiro é um luxo. Estamos aplicando mais em títulos da dívida de bancos e empresas. Os retornos caíram bastante, mas ainda são uma alternativa interessante num momento de juros em queda.” João Scandiuzzi, sócio e estrategista-chefe da gestora do banco.


Juros de 7%, ainda neste ano - Icatu Vanguarda

"A maioria dos analistas espera que a taxa Selic feche o ano em 7,25%. Nós projetamos juros de 7%. Como o risco de uma disparada da inflação diminuiu, acreditamos que o Banco Central vá continuar cortando os juros para estimular a economia. Um bom investimento hoje são os títulos públicos atrelados à inflação de prazos longos, que vencem em 2045 e 2050. Eles rendem cerca de 4% acima do IPCA. Já pagaram bem mais, em torno de 6% ao ano, mas a taxa atual continua interessante, porque a tendência é que o Brasil tenha juros reais muito próximos dos praticados na maioria dos países emergentes, ao redor de 2% ao ano.” Bernardo Schneider, gestor da empresa.

Os imóveis são a saída - Banco do Brasil

"Nunca houve tantas opções de investimentos em títulos privados de crédito, que rendem mais que o DI — alguns, com risco baixo. Uma alternativa interessante hoje são os atrelados a ativos imobiliários, como CRIs e LCIs. Há fundos que aplicam nesses títulos, mas os investidores também podem comprá-los diretamente — e com isenção do imposto de renda.

O problema é a falta de liquidez. Hoje, os CRIs e os títulos da dívida de empresas correspondem a 30% do patrimônio de nossos fundos de renda fixa, o dobro do percentual de cinco anos atrás. Já as aplicações ligadas aos juros de mercado caíram.” Carlos Massaru Takahashi, presidente da gestora do banco.

Só no grau de investimento - Crédit Agricole

"Aumentamos 50% a participação de títulos de dívida de empresas no patrimônio dos fundos e planejamos elevar ainda mais esse percentual. O restante está aplicado em diferentes papéis emitidos pelos bancos, grandes e médios, como CDBs e letras financeiras. A redução da taxa de juro pede diversificação, mas é preciso ficar atento aos riscos.

Sempre existe a chance de as companhias passarem por problemas financeiros e atrasarem o pagamento dos títulos, o que prejudica o rendimento do fundo. Só aplicamos em empresas com grau de investimento. O retorno é menor, mas ficamos mais protegidos.

Hoje, temos papéis das empresas de energia Celpe e Light e da Brasil Telecom, que pagam em torno de 9% ao ano.” Fábio de Aguiar Faria, diretor da gestora do banco.

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