Victor Hugo Germano, fundador da fábrica de software Lambda3: o Brasil terá carência de 264.000 desenvolvedores de software até 2024, um retrato da pujança do setor e dos gargalos do país (Germano Lüders/Exame)
Da Redação
Publicado em 27 de fevereiro de 2020 às 05h00.
Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 15h40.
O ano começou, infelizmente, com indicadores que impedem grandes doses de euforia nas empresas, no governo e na sociedade. O avanço econômico segue lento no varejo e na indústria e, por consequência, o produto interno bruto continua avançando em ritmo lento. O Brasil cresceu apenas 0,9% em 2019, ante previsões iniciais de 2,5%. Para 2020, o impacto do coronavírus no comércio e na produção global e as conhecidas dificuldades de articulação política em Brasília já levaram a revisões para baixo antes mesmo do Carnaval — segundo a projeção mais recente, vamos crescer 2,2% neste ano.
O desemprego, em queda lenta, segue perto dos 12%. Sair do lamaçal em que o país se encontra vai demandar mudanças de curto e de longo prazo que vão além das pautas óbvias. Uma boa notícia pode vir de um novo marco legal para as startups, com medidas para acelerar a criação de empresas de tecnologia, tema de uma reportagem desta edição. Mesmo na 124a posição entre os melhores países para fazer negócios, o Brasil tem 12.700 startups, das quais 11 estão avaliadas em mais de 1 bilhão de dólares.
É a força do mercado contra as burocracias e ineficiências do dia a dia. Para ir além da nova lei, podemos aprender com países também tradicionalmente refratários à inovação, como a França. Visitamos em Paris o maior campus para startups do mundo, trunfo francês numa competição global por talentos e por investimento. Mas talvez o maior gargalo do Brasil para se tornar um país competitivo no longo prazo esteja no mercado de trabalho. Como mostra a reportagem de capa desta edição, o Brasil terá uma carência de 264.000 desenvolvedores de software até 2024, numa conta que tende a aumentar com o avanço da digitalização de produtos e serviços. Bem pagos e disputados, os devs (como são conhecidos) são um exemplo da pujança do mercado de tecnologia. Mas também retratam a carência de mão de obra qualificada num país com 209 milhões de habitantes e um histórico de abandono à educação.
Melhorar o cenário depende do governo, mas também das empresas. O mercado vem dando suas respostas — com escolas de programação, por exemplo, surgindo aos borbotões ou com negócios como o da subsidiária da companhia dinamarquesa Specialisterne, que auxilia na contratação de autistas com alto desempenho (tema de outra reportagem desta edição). Bem preparados, eles chegam a produzir o dobro de um funcionário médio em tarefas que exigem atenção a detalhes. Estima-se que o Brasil tenha 2 milhões de pessoas com autismo — muitas delas engrossando a lista de desempregados. Passa pelo avanço das reformas, mas também pela atenção aos autistas e pela formação de desenvolvedores o caminho que nos leva a um futuro mais próspero.