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A moeda virtual bitcoin ganha simpatia; isso é bom?

Restrita a entusiastas até há pouco tempo, a moeda eletrônica bitcoin está conquistando a simpatia de um número crescente de consumidores e lojistas — mas será que isso é positivo?

Pub na Austrália: 12 000 varejistas no mundo aceitam pagamentos com bitcoin (Cameron Spencer/Getty Images)

Pub na Austrália: 12 000 varejistas no mundo aceitam pagamentos com bitcoin (Cameron Spencer/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 14 de dezembro de 2013 às 05h00.

São Paulo - O americano Sapan Shah, de 24 anos, é dono de uma franquia da rede de lanchonetes Subway em Allentown, no estado americano da Pensilvânia. Até novembro, seus clientes pagavam os sanduíches com dinheiro ou cartão. Mas Shah, um entusiasta de tecnologia, decidiu inovar.

Depois de ler notícias de que restaurantes na Rússia já aceitavam a moeda virtual bitcoin como forma de pagamento, resolveu seguir o mesmo caminho. Além de despertar a curiosidade de parte dos 110 000 habitantes de Allentown, Shah ganhou as páginas de dezenas de sites e jornais americanos como o primeiro lojista de uma grande rede a aceitar o bitcoin — uma moeda virtual gerada de um software desenvolvido por um grupo anônimo de programadores.

“Queria algo que pudesse me livrar das altas taxas cobradas pelos cartões”, afirma Shah. O salto de popularidade da moeda veio pouco depois. Em meados de novembro, Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve, o banco central americano, deu a primeira declaração oficial sobre o tema.

“As moedas virtuais serão promissoras no longo prazo caso permitam pagamentos rápidos, seguros e eficientes”, escreveu, sem mais detalhes, numa carta enviada ao Senado. No mesmo dia, o valor de um bitcoin subiu 50%, para 785 dólares. No fim de novembro, já valia 1 000 dólares.

A grande diferença entre o bitcoin e o sistema monetário tradicional é a ausência de um banco central que controle a emissão de dinheiro. No caso do bitcoin, isso é feito por um software desenvolvido no fim de 2008 por programadores cuja identidade até hoje não é conhecida.

O software foi programado para automaticamente propor problemas matemáticos pela internet ao longo de anos. Para os que conseguem realizá-los primeiro, o software envia um código que equivale a uma unidade da moeda. Os ganhadores podem guardar o código, usá-lo para fazer uma compra ou trocá-lo por uma moeda tradicional em casas de câmbio.

Quem não tem aptidão matemática pode simplesmente ir a uma dessas casas de câmbio e comprar a moeda. “Nunca houve um dinheiro paralelo tão popular, com operações entre vários países”, diz o inglês Garrick Hileman, professor de história econômica da London School of Economics. 

Apesar da expansão inédita, a primeira impressão é que o barulho gerado pela moeda ainda é muito maior do que sua relevância para o sistema financeiro. Em todo o mundo, apenas 12 000 estabelecimentos aceitam os bitcoins — só a região do Brás, em São Paulo, tem 5 000 lojas.


O volume financeiro transacionado por bitcoins hoje é de 12 bilhões de dólares. Para comparar com outras modalidades, o sistema de pagamento online PayPal, que, além de aceitar cartões, tem o próprio modelo de moeda virtual, processou 145 bilhões de dólares em 2012.

“Os bitcoins só vão ser úteis se todo mundo adotá-los, como qualquer moe­da”, diz Rodrigo Azevedo, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central. “Por enquanto, é apenas uma moda.” A maior preocupação dos entusiastas do bitcoin hoje é tentar conter o uso da moeda em atividades ilícitas.

Em outubro, o FBI fechou a loja virtual The Silk Road, que vendia drogas e documentos falsos pela internet e recebeu cerca de 1,2 bilhão de dólares somente em ­bitcoins. Em março, os Estados Unidos incluíram administradores e casas de câmbio de moedas virtuais na lista de empresas que devem se registrar no Departamento do Tesouro.

“Focamos a regulação de instituições, e não o usuário, porque esperamos que elas participem da proteção do sistema”, diz Jennifer Calvery, diretora do departamento que cuida de crimes financeiros do Tesouro americano. 

Apesar de o bitcoin ser apontado como um sistema financeiro inovador, a ideia de ter um controle descentralizado não é nova. Até o século 17, eram os bancos privados que emitiam moedas. De lá para cá, a evolução da economia e do comércio levou à criação de bancos centrais para evitar os frequentes períodos de instabilidade. O histórico desde então tem sido positivo.

“Durante todo o século 20 e o começo do século 21, tivemos apenas duas crises de grandes proporções, em 1930 e em 2008. O sistema tradicional tem sido, de longe, o mais eficiente”, diz Alexandre Schwartsman, ex-diretor de assuntos internacionais do Banco Central. Sem uma instituição que estabilize os preços, moedas como o bitcoin ficam à mercê da especulação, tornando-se um ativo de alta volatilidade. Foi o que ocorreu em abril, quando o preço do bitcoin caiu pela metade sem motivo aparente. 

Por enquanto, isso parece não assustar parte dos investidores. Os irmãos Tyler e Cameron Winklevoss, famosos por acusarem Mark Zuckerberg de ter roubado deles a ideia da rede social Facebook, pediram em julho autorização para criar um fundo negociado em bolsa cujas cotas variam conforme o valor dos bitcoins.

“Queremos que as pessoas comprem bitcoins de maneira tão simples quanto uma ação da ­Apple”, diz Cameron. Outro fundo, com 8,2 milhões sob gestão, foi lançado em setembro no SecondMarket, bolsa americana que negocia ativos de alto risco. Alguns economistas gostam de comparar o bitcoin ao ouro: é algo difícil de conseguir e que está sendo usado como uma reserva de valor alternativa. O problema é que — virtual e sem autoridade monetária — o ouro eletrônico pode virar latão.

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