Revista Exame

“O setor financeiro está encolhendo”, declara Peter Grauer

Ex-banqueiro e atual presidente do conselho da Bloomberg, Peter Grauer diz que os bancos não voltam a crescer tão cedo — e 2013 ainda será um ano difícil

Peter Grauer, da Bloomberg: “Se os bancos não se recuperarem logo, todos vão sofrer” (William Taufic/EXAME.com)

Peter Grauer, da Bloomberg: “Se os bancos não se recuperarem logo, todos vão sofrer” (William Taufic/EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 11 de outubro de 2012 às 13h59.

Nova York - O americano Peter Grauer conhece de perto a crise por que passa o setor financeiro no mundo. Ex-banqueiro, ele tornou-se presidente do conselho da empresa de informações financeiras Bloomberg em 2001, no lugar do controlador Michael Bloomberg, prefeito de Nova York há dez anos.

Apesar do mau momento para os bancos, tradicionais clientes de seus terminais, o faturamento da empresa cresceu 9% em 2011 e chegou a 7,6 bilhões de dólares. Na sede da Bloomberg, em Nova York, Grauer falou a EXAME.

1) EXAME - Grandes bancos americanos e europeus anunciaram 200 000 demissões entre 2012 e 2013. Quando podemos esperar boas notícias do setor?

Peter Grauer - O setor financeiro está encolhendo com o corte de milhares de empregos. Há diversos fatores de pressão, desde regras mais rígidas a taxas de juro mais baixas em todo o mundo. O lento crescimento da economia não vai ajudar o setor a melhorar. Em 2013, ainda devemos ter um ano difícil.

2) EXAME - De que maneira os banqueiros vão conseguir reverter a má reputação que adquiriram com a crise? 

Peter Grauer - É uma questão difícil. Mas, se isso não acontecer logo, será ruim para todos. Com o sistema financeiro sob pressão, teremos cada vez mais restrição a empréstimos e, portanto, mais dificuldade para retomar o crescimento econômico.

3) EXAME - Como sobreviver quando há tantos reveses com seus clientes e a economia mundial de uma só vez? 

Peter Grauer - Temos diversificado rapidamente o negócio. Até 2010, oferecíamos 26 000 funções em nossos terminais. Hoje, já oferecemos aproximadamente 30 000. Fizemos quatro aquisições desde 2005 que nos permitiram entrar em novos segmentos de atuação, como o de dados e análise sobre o mercado de energia renovável.

4) EXAME - Como manter o ritmo de inovação numa empresa com mais de 15 000 funcionários em todo o mundo?

Peter Grauer - Incentivamos a paranoia construtiva. Todos têm de pensar em fazer tudo melhor o tempo todo. Nenhum chefe tem sala com vista para a cidade. Da minha mesa, perto dos elevadores num dos primeiros andares da sede da empresa, vejo todo mundo entrar e sair. Não é para vigiar ninguém, só quero que todo mundo se sinta à vontade para trocar ideias.

5) EXAME - O jornalismo representa só 4% de suas receitas. Qual é sua função nos negócios da Bloomberg? 

Peter Grauer - Empregamos 2 300 jornalistas — é uma parte importante de nossa estratégia para reforçar a imagem da marca diretamente relacionada à informação de qualidade. Isso fortalece nosso negócio principal, o de terminais, de onde vêm mais de 80% das vendas e boa parte do crescimento.

6) EXAME - Qual é o papel de países emergentes nessa expansão? 

Peter Grauer - Temos 310 000 clientes em 174 países e investimos bastante em mercados emergentes como China, Rússia e Brasil, onde obtivemos um crescimento médio de cerca de 10% por ano.

7) EXAME - Por que a Bloomberg permanece uma empresa de capital fechado até hoje? 

Peter Grauer - Assim podemos manter uma estratégia de longo prazo, sem a obsessão do que vai acontecer no próximo trimestre. A pressão de investidores na bolsa só tem aumentado. Sempre fomos capazes de investir estando fora do mercado de capitais. Para nós, melhor assim.

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