PRATO DO MINETTA TAVERN: um de seus mais famosos restaurantes (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h39.
Na última vez que esteve em Nova York, o chef paulistano Benny Novak (dono dos restaurantes Ici Bistrô, Tappo Trattoria e Diner 210) esperou quase 2 horas, espremido no balcão do bar, por uma mesa no Minetta Tavern. Sem paciência para vencer a fila, saiu sem jantar — mas mesmo assim adorou a experiência. "Fiquei curtindo o ambiente descolado, a música, as pessoas interessantes que frequentam a casa. Um espetáculo", diz Novak. Já Claude Troisgros, chef francês radicado no Brasil que está preparando o lançamento do quarto restaurante no Rio de Janeiro, prefere o tradicional Balthazar, com gastronomia francesa. "Foi desse restaurante que tirei a inspiração para fazer o ambiente do meu CT Brasserie", afirma. Carla Pernambuco (dona do Carlota em São Paulo e no Rio de Janeiro), outra estrela do primeiro time da gastronomia brasileira, é frequentadora do Lucky Strike desde os tempos em que estudava em Nova York, no início dos anos 90. "Sempre fi co em dúvida entre os mexilhões com fritas e o salmão grelhado com espinafre."
Minetta Tavern, Balthazar, Lucky Strike. Por trás dos três restaurantes adorados por alguns dos maiores chefs brasileiros está o inglês Keith McNally, de 59 anos, considerado um "mago" na arte de criar restaurantes cheios de char me. Ao todo, já tem oito. Balthazar, Minetta Tavern, Pastis e Lucky Strike têm inspiração francesa, com diferentes perfi s de cardápios e ambientes. O Morandi é italiano. O Pravda é russo. O Schiller’s é um liquor bar, mais voltado para bebidas, com opções de lanches. A pizzaria Pulino’s, inaugurada no início do ano, oferece car nes preparadas no forno a lenha, além das pizzas. Em todos esses restaurantes é possível ver a mão de McNally, especialista na montagem de ambientes contemporâneos com ar retrô.
McNally (que não se perca pela nacionalidade) faz tudo isso com uma excelente relação custo-benefício, característica desejável em tempos de crise americana. De forma geral, um casal consegue comer bem com 100 dólares. Seu modelo é ter sempre um chef como sócio do empreendimento, mas os chefs vêm e vão e McNally continua atraindo multidões. Em seus restaurantes, a regra é que as pessoas comuns sejam atendidas com a mesma simpatia dedicada às celebridades. Sim, Brooke Shields, Nicole Kidman, Jennifer Lopez, Jerry Seinfeld e Ben Stiller, além da todo-poderosa Anna Wintour, a diretora da revista Vogue que inspirou o fi lme O Diabo Veste Prada, estão entre os clientes mais assíduos. A única — e crucial — diferença é que, enquanto os mortais precisam fazer reserva com mais de um mês de antecedência, os VIPs contam com um número secreto de telefone para pedir mesa em cima da hora.
Self made man
O cheiro desprendido pelo sucesso de McNally atraiu os investidores. Um deles ofereceu recentemente 100 milhões de dólares pelo conjunto de seus restaurantes, mas o restaurateur não se rendeu à perspectiva da confortabilíssima aposentadoria. Como muitas personalidades do meio gastronômico, McNally é polêmico. Autodidata, detesta livros de administração. Quem o conhece o descreve como um pessimista incorrigível. Oriundo de uma família pobre de Londres, chegou a Nova York em 1975 com o sonho de se tornar cineasta. Para se manter, arrumou um emprego de garçom e foi trocando de restaurante até chegar ao One Fifth, que marcou época entre os descolados do Greenwich Village nos anos 70. Ali se revelou como administrador. Logo estava na gerência da casa, onde conheceu Anna Wintour e várias outras personalidades, muitas das quais o seguiram quando decidiu abrir o primeiro restaurante próprio, o Odeon, em 1980 — quando se separou da primeira mulher, foi obrigado a vendê-lo. Desde então, McNally vem emplacando um sucesso após o outro — todos em Nova York. Ah, sublime vingança dos comedores de kidney pies.