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Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h39.
Passou-se a apontar com frequência, ultimamente, que o predidente Luiz Inácio Lula da Silva vem se tornando menor à medida que se aproxima o fim do seu governo. Não deveria ser assim, quando se considera que o Ibope lhe dá sabe lá Deus quanto de popularidade, mas o fato é que vão começando a pesar cada vez mais sobre a sua biografi a os maus momentos desses últimos oito anos, que foram muitos, e a rápida descida do presidente, ao longo da recém-encerrada campanha eleitoral, à água turva das piores práticas políticas — um mundo sombrio onde passou a agir com doses cada vez maiores de rancor, soberba, pequenez de espírito, abuso de poder, desrespeito à opinião contrária, intolerância, ódio aos adversários e outras tantas marcas de uma alma pouco generosa. Agora é também o seu desempenho na economia, área em que geralmente teve notas boas, que começa a ser avaliado com um olhar menos festivo. Há o bom e há o ruim, o que é bem melhor do que se houvesse só o ruim. Mas simplesmente não existe, na área econômica, o paraíso que continua sendo descrito pela propaganda oficial — o "momento mágico" do qual Lula vive falando, e que parece crescer cada vez mais na sua imaginação.
A verdade é que a nova presidente Dilma Rousseff logo vai constatar, no seu encontro com a economia real, que receberá do atual governo uma herança muito menos dourada do que se anuncia no mundo oficial — na verdade, salvo em caso de extrema distração, já deve ter constatado de sobra. A economia cresce, mas a taxa de investimento do Brasil está abaixo do sofrível. O gasto público, sobretudo com pessoal, aumenta sem perspectiva de controle. A valorização do real diante do dólar causa ferimentos cada vez mais sérios na capacidade brasileira de competir. As reservas internacionais, a caminho dos 300 bilhões de dólares, protegem o país de crises externas, mas custam cada vez mais caro para ser mantidas. O Tesouro bate recordes de arrecadação, mas falta dinheiro para quase tudo; o Brasil continua um desastre em sua infraestrutura e em indicadores rudimentares de desenvolvimento, do saneamento básico ao controle da criminalidade.
Dilma, é claro, não pode falar muito dos problemas que receberá. Mas é com eles que terá de lidar.
A nova presidente Dilma Rousseff dá a impressão, nestes primeiros dias pós-campanha, de continuar impaciente com repórteres que, segundo ela, repetem a mesma pergunta nas entrevistas que concede. "Essa questão já foi respondida", corta a presidente eleita, e passa logo ao assunto seguinte. Parece não ter lhe ocorrido, até agora, que os jornalistas pedem uma segunda resposta porque não entenderam nada do que ela disse na primeira. No mais recente episódio do gênero, ocorrido durante entrevista que deu dias após sua vitória, a colisão foi em torno da CPMF, que o governo tenta ressuscitar com a mão dos governadores eleitos. "Não vou mandar projeto sobre isso para o Congresso, mas não posso garantir", afi rmou Dilma em resposta a uma pergunta. Que diabo quer dizer uma declaração dessas? Quando a repórter pediu um esclarecimento, ouviu que a questão já tinha recebido resposta. Tem sido esse, até agora, o procedimento padrão da candidata vitoriosa. Afirmou, como todos se lembram, que era a favor de esforços para descriminalizar o aborto; ao mesmo tempo, afi rmou que era contra. Disse que é contra as invasões de terra, mas não vai tratar o MST como "caso de polícia" — o que também não quer dizer rigorosamente nada. Continuará a nova presidente neste seu passeio em torno de declarações sem nexo? É possível. Na mesma entrevista da CPMF, Dilma, com a linguagem torturada que gosta de utilizar quando nos instrui sobre grandes temas de interesse público, disse o seguinte: "Quando começa uma política de desvalorização competitiva, a última vez que houve deu no que deu. E o que foi que deu? A Segunda Guerra Mundial".
Como é mesmo? Problema de quem não entendeu; ao assunto seguinte, por favor.