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Johnson & Johnson conseguiu mudar o jogo; aqui ela conta como

A Johnson & Johnson, maior empresa de saúde do mundo, redefiniu suas prioridades desde a crise americana — e, ao que parece, a estratégia tem dado certo

Alex Gorsky, da J&J: ciência para remédios 
e cosméticos (Germano Luders/Exame)

Alex Gorsky, da J&J: ciência para remédios e cosméticos (Germano Luders/Exame)

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Maria Luíza Filgueiras

Publicado em 7 de dezembro de 2016 às 05h55.

Última atualização em 7 de dezembro de 2016 às 05h55.

São Paulo — Mais conhecida no Brasil por seus xampus de bebê e protetores solares, a Johnson & Johnson é a maior empresa de saúde do mundo. Após a crise de 2008, a empresa resolveu mudar: fez uma revisão geral de seus negócios e, segundo um levantamento da consultoria Dealogic, comprou 85 empresas e participações e vendeu 43 marcas e subsidiárias.

Com o crescimento da receita e ajustes nos negócios, a companhia quase dobrou de valor na bolsa americana, chegando aos atuais 316 bilhões de dólares e ampliando a distância de concorrentes. Alex Gorsky, presidente do conselho de administração e presidente global da Johnson & Johnson, falou a EXAME sobre a estratégia da empresa.

Exame - Nos últimos seis anos, a J&J quase dobrou de valor em bolsa e disparou na frente da concorrência. Qual é a estratégia da empresa?

Alex Gorsky - Na crise de 2008, quando a economia começou a complicar, vimos que precisaríamos ser mais focados em certas áreas. Com a tecnologia e a ciência se desenvolvendo de forma tão rápida, ficaríamos para trás se não estabelecêssemos prioridades. Concluímos que a disputa na base do preço não era um diferencial e que a inovação era. Decidimos não participar diretamente da indústria de genéricos e, por outro lado, aumentamos os investimentos em pesquisas em oncologia.

Exame - Como foi isso na prática?

Alex Gorsky - A Johnson está dividida em três grupos — farmacêutico, aparelhos médicos e consumo — e estabelecemos prioridades em cada um deles. Na divisão de consumo, deixamos de fabricar fraldas descartáveis para focar o segmento de beleza, com mais lançamentos de marcas como Aveeno e Neutrogena e a aquisição das marcas de cosméticos Vogue International e NeoStrata.

No Brasil, ampliamos os produtos para bebês com o lançamento local da Desitin, que é nossa marca de cremes contra assaduras em mais de dez países, e compramos a Hipoglós neste ano. Na área de aparelhos médicos, aumentamos os investimentos em seis especialidades, como quadris e joelhos. Priorizamos áreas em que temos mais competência para inovar.

Exame - O mercado de higiene e beleza está crescendo muito no Brasil. Como a inovação ajuda a vender?

Alex Gorsky - Os produtos de beleza estão cada vez mais ricos em ciência. A preocupação das pessoas era se proteger do sol quando iam à praia. Hoje, elas sabem que estão tomando sol todos os dias. O que antes era apenas um protetor solar ou uma base facial hoje busca prevenir melanoma, câncer de pele e também retardar o processo de envelhecimento da pele. Passa a ser algo do nosso dia a dia.

O que mudou nos últimos anos para a saúde bucal? Estamos descobrindo que bochechar com antisséptico duas vezes ao dia pode ser bem mais importante do que escovar os dentes, por ser muito mais eficiente contra as bactérias. É uma revolução que pouca gente pode ter percebido, mas é resultado de bastante pesquisa e investimento

Exame - Qual é a base para inovar hoje?

Alex Gorsky - Estamos nos apoiando fortemente em big data, a análise de grande volume de dados. Em pesquisas oncológicas, fazemos um diagnóstico associado a uma triagem de genoma e dados como histórico médico para tentar conhecer o máximo de detalhes sobre a doença e como as drogas agem em cada paciente.

Assim saberemos que um tratamento contra o câncer funciona em um paciente que tem certa mutação genética, mas causa mais efeitos colaterais em outro. Uma questão muito importante que vimos ao usar big data em nossas pesquisas é que estamos chegando muito tarde ao paciente.

Exame - Como assim?

Alex Gorsky - As pesquisas científicas mais empolgantes são as de prevenção de doenças, e não só as de tratamento. Para HIV, diabetes tipo 2 e hepatite C, o forte desenvolvimento de tratamentos mudou essas doenças de sentenças de morte, no passado, para quase cura. Mas cerca de 75% das doenças cardiovasculares e até alguns tipos de câncer estão relacionados ao comportamento preventivo.

Na Johnson, passamos a estimular mais nossos funcionários a ter uma vida saudável, com aconselhamento online sobre sono, estresse, exercícios físicos, incluindo academias de ginástica em subsidiárias e monitorando os restaurantes. Também é um esforço pessoal. Cheguei ao Brasil às 5 horas da manhã e fui à academia. Privilegio escadas a elevadores. Se somos a maior empresa de saúde do mundo, temos de ser a mais saudável também.

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