Hung Tran: "As perdas com a saída da Grécia do euro seriam de, pelo menos, 1 trilhão de euros" (Yannis Behrakis/Reuters)
Da Redação
Publicado em 27 de setembro de 2012 às 14h21.
São Paulo - Os gregos pedem tempo para fazer ajustes fiscais. Os alemães temem que a prorrogação seja uma brecha para a Grécia não entregar o que prometeu. Para o economista americano Hung Tran, número 2 do Instituto de Finanças Internacionais, associação global que reúne os grandes bancos do mundo, esse embate definirá a crise europeia e a saúde da economia mundial.
Na opinião de Tran, os países ainda pouco afetados pela crise europeia poderiam ajudar — e muito. Ao ampliar as políticas de incentivo fiscal, garantiriam o crescimento global.
1) EXAME - O que deve acontecer na Europa até o encontro de ministros de Finanças da zona do euro em outubro?
Hung Tran - Será um período de negociações muito difíceis. As últimas manifestações de Antonis Samaras, primeiro-ministro grego, deixam claro que o país quer seguir no euro. Samaras prometeu adotar as reformas exigidas. Num encontro com a chanceler alemã Angela Merkel no fim de agosto, ele só pediu mais tempo para implementá-las.
2) EXAME - O senhor achou que a recepção foi positiva?
Hung Tran - Não. Países como a Alemanha e a França têm demonstrado que querem a Grécia no euro. Ao mesmo tempo, precisam ter certeza de que as reformas serão realizadas. É um embate duro. Espero que os líderes europeus deem mais prazo à Grécia. Eles conhecem os riscos envolvidos.
3) EXAME - Qual é o tamanho desses riscos?
Hung Tran - É enorme. Há prejuízos diretos para os credores da Grécia, mas outros países europeus sofreriam pressões imensas dos mercados financeiros. Pelos nossos cálculos, o impacto seria de, no mínimo, 1 trilhão de euros. Os efeitos seriam sentidos em várias partes do mundo.
4) EXAME - Há algum risco de insolvência do Banco Central Europeu, o BCE?
Hung Tran - O Banco Central Europeu tem o poder de imprimir dinheiro. Por isso, não há risco de insolvência. Mas o BCE possui títulos gregos e, como os outros credores, levaria um calote de grandes proporções. Só uma injeção de recursos dos outros países salvaria o BCE.
5) EXAME - O BCE e o banco central americano são criticados por ampliar seu raio de ação, não se restringindo ao controle da inflação. Qual é a sua opinião?
Hung Tran - Hoje não há descontrole de preços nos Estados Unidos e na Europa. Falta fazer a economia crescer e, por isso, os bancos centrais estão certos em fazer o possível para estimulá-la. Tudo é justificável, até o BCE comprar títulos públicos de países em apuros, como é o caso da Espanha e da Itália.
6) EXAME - Qual é o cenário mais realista para o euro?
Hung Tran - Basta que os países coloquem em prática o que já prometeram. Os pontos-chave são criar uma única entidade supervisora do sistema bancário e permitir que os fundos de resgate salvem também os bancos. Ao mesmo tempo, é preciso realizar a compra da dívida dos países em crise. Esse é o único caminho possível.
7) EXAME - Como tem sido a resposta global à crise?
Hung Tran - Os países do G20 estão fazendo pouco. Deveriam aumentar sua política de estímulo fiscal para garantir que o mundo continue a crescer. Muitos países do G20 têm espaço para adotar essas medidas. Também deveriam manter as tarifas de importação num nível baixo para que o comércio global aumente de forma vigorosa. Mas, infelizmente, eles não têm demonstrado nenhum esforço nesse sentido.