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O Facebook das finanças

As redes sociais podem ajudar a antecipar o mercado? Um estudo americano diz que sim

Com recursos tecnológicos avançados, redes sociais para investidores prometem antecipar movimentos de mercados

Com recursos tecnológicos avançados, redes sociais para investidores prometem antecipar movimentos de mercados

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Da Redação

Publicado em 6 de fevereiro de 2012 às 05h00.

São Paulo - Qualquer pessoa que já tenha acessado uma rede social terá notado: o fluxo de informações em sites do gênero pode ser extremamente caótico.

Lado a lado, é comum ver fotos de férias em família dividindo espaço com mensagens de protesto, piadas, vídeos de música sertaneja, referências a pessoas que estão no Canadá. Com tanto ruído, fazer uso sério desses sites parece uma missão cada vez mais difícil. Ganhar dinheiro, então, impossível.

Fundado no final de 2008, o StockTwits, especializado no mercado financeiro, vem se colocando como uma alternativa ao caos de grandes redes como o Twitter. Com mais de 150 000 membros ativos, o site se tornou uma mania entre investidores nos Estados Unidos.

Em 2010, foi eleito um dos melhores websites do ano pela revista Time. De lá para cá, a companhia vem sendo chamada de “Facebook das finanças”. Na superfície, o funcionamento do StockTwits se parece, de fato, com o de outras redes sociais. De maneira semelhante ao Twitter, investidores podem compartilhar ideias, dicas, gráficos e outros dados em até 140 caracteres.

Uma vez no sistema, os usuários passam a receber todo tipo de informação registrada dentro do site — de opiniões sobre desempenho de ações a análises de macroeconomia. Mas a missão do StockTwits é mais ambiciosa do que ser apenas um espaço de debates sobre ideias de investimento.

A coleção de opiniões e informações produzidas por seus milhares de usuários, defendem seus fundadores, pode se transformar numa ferramenta capaz de antecipar movimentos de mercado. “Estamos pegando o lado social da web, que é a coisa mais fantástica da história da internet, e aplicando ao mundo das finanças”, disse recentemente Howard Lindzon, presidente do StockTwits. 

O modelo, segundo especialistas, tem apelo porque os investidores sempre tiveram obsessão por compartilhar estratégias de compra e venda. Prova disso é que fóruns livres para a troca de opiniões entre investidores se tornaram populares no início dos anos 2000, tempos antes do surgimento de sites como o StockTwits.

Ocorre, no entanto, que nem todo mundo acha seguro confiar no taco de gente que se identifica como “fuinha”, “ferrao” ou “PapaiSmurf” pela rede. Com recursos avançados, as redes sociais para investidores representam algo novo no cenário de especulação sobre papéis e ativos.

“Havia demanda por ferramentas mais confiáveis para medir a temperatura dos mercados”, diz Thiago Pessoa, coordenador do Investmania, uma das iniciativas nacionais do gênero. Lançado pela Título Corretora, de São Paulo, o site foi ao ar em dezembro passado e tem hoje cerca de 20 000 usuários.


Todos os dias, investidores cadastrados são convidados a fazer previsões sobre o comportamento de ações no pregão seguinte. Sobe ou desce? Cada acerto dá direito a 1 ponto a mais no ranking; cada erro, 1 ponto a menos (na página principal do site, os usuários têm acesso ao volume total de palpites).

Além de previsões acertadas, os investidores que produzem boas análises são recompensados sempre que outro usuário decide “Curtir” seu perfil. A ideia é que, com o passar do tempo, a própria comunidade faça um filtro em torno dos investidores mais bem-sucedidos — e que os menos talentosos possam, de alguma maneira, aprender com eles.

Outra iniciativa semelhante no país­ é a rede Meivox, ainda em fase de testes. No site, os usuários informam transações de compra e venda de ações no momento em que elas acontecem. As informações permitem que um algoritmo calcule a rentabilidade de cada investidor, destacando aqueles que alcançam melhor desempenho.

Estudo

É cedo para atestar o quanto o acesso a estratégias de terceiros e o conhecimento das massas são capazes, de fato, de ajudar quem investe. Em um estudo recente, pesquisadores da David Eccles School of Business, de Utah, nos Estados Unidos, analisaram mais de 70 000 mensagens do StockTwits relacionadas a ações listadas em bolsas americanas ao longo de três meses.

Eles chegaram à conclusão que, com um volume suficiente de participantes, o conjunto de informações produzidas pode, sim, oferecer algum grau de previsibilidade sobre preços de ações. Ou seja, se um bando de gente repete que uma determinada ação vai subir ou cair, a chance de isso acontecer cresce.

As redes sociais para investidores, claro, também trazem riscos. Pela velocidade com que informações circulam em ambientes como esse, é natural que essas comunidades sejam um prato cheio para manipuladores. Aqui, outra vez, o dia seria salvo pelo poder da massa, capaz de distinguir informações de qualidade de gestos mal-intencionados.

Ao lado da ação “Curtir”, que aparece ao lado de cada mensagem que ingressa na rede, os usuários também podem clicar em outro botão: “Denunciar”.

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