Revista Exame

Carta de EXAME — O exemplo entre nós

Vamos deixar de lado ensinamentos de nações que estão bem à nossa frente na escala do desenvolvimento e olhar para nosso próprio país

Balneário Camboriú, em Santa Catarina: a força da iniciativa privada explica o bom momento da economia local; por que não replicar o modelo Brasil afora? | Chico Ferreira/Pulsar Imagens /  (Chico Ferreira/Pulsar Imagens/Reprodução)

Balneário Camboriú, em Santa Catarina: a força da iniciativa privada explica o bom momento da economia local; por que não replicar o modelo Brasil afora? | Chico Ferreira/Pulsar Imagens / (Chico Ferreira/Pulsar Imagens/Reprodução)

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Da Redação

Publicado em 1 de fevereiro de 2018 às 05h43.

Última atualização em 3 de agosto de 2018 às 09h02.

A vida seria bem mais fácil no Brasil de hoje se tivéssemos a capacidade de aprender lições com as coisas boas e ruins de nosso próprio país — vamos deixar de lado ensinamentos de nações que estão bem à nossa frente na escala do desenvolvimento. Uma reportagem desta edição deixa isso claro como a luz do dia. A brutal recessão que vivemos massacrou empresas de todos os tamanhos e exterminou milhões de empregos. Felizmente, estamos em plena retomada, que tem surpreendido positivamente nas últimas semanas.

Como mostramos na página 26, porém, o ritmo dessa recuperação varia enormemente país afora. Estados cuja economia está assentada numa iniciativa privada robusta — e, preferencialmente, que se mantém distante dos corredores de Brasília — já deixaram a crise para trás e agora pensam no novo ciclo de negócios. Santa Catarina desponta como a líder desse grupo, mas há vários outros, como aqueles com um agronegócio moderno e eficiente.

Como lembra o economista José Alexandre Scheinkman, falando sobre os ganhos da globalização, nosso setor agrícola é tecnologicamente avançado e competitivo internacionalmente. Trata-se de um raro exemplo de área em que somos invejados e temidos lá fora. A força tecnológica brasileira nesse front não caiu do céu — ao contrário, foi duramente construída ao longo de décadas por pesquisadores que estão entre os melhores do mundo em sua área de atuação.

Por que não buscamos reproduzir a boa experiência em outras áreas de nossa economia é um daqueles enigmas sem solução aparente. Vale, então, olhar para o reverso da moeda: os estados que estão na rabeira da recuperação atual. O Rio de Janeiro talvez represente atualmente a unidade mais combalida da federação, especialmente quando comparada ao peso de sua população e às enormes potencialidades lamentavelmente desperdiçadas.

Aí, também, há uma lição valiosa: ao contrário do que se viu nos estados que hoje estão crescendo, o Rio talvez tenha sido o local onde mais prosperou uma visão segundo a qual o Estado é o motor primeiro do progresso. Bilhões do orçamento público foram canalizados para investimentos duvidosos, e hoje todos se perguntam o que foi feito de tanto dinheiro. A penúria é tal que não há recursos nem mesmo para pagar os funcionários públicos. Isso pouco tempo depois de uma Copa do Mundo e de uma Olimpíada — dois eventos que levaram o Rio de Janeiro ao centro das atenções mundiais.

Este ano será obviamente marcado pelas eleições que temos à frente. É uma oportunidade rara de comparar os resultados de duas estratégias opostas de desenvolvimento. Tivemos nossa overdose de dirigismo estatista, que ainda está por aí causando sofrimento a tantos brasileiros. Devemos olhar também para as áreas que já se libertaram do atraso. É esse o Brasil que almejamos para todo o conjunto de nossa população.

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