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O caminho para recuperar a imagem dos partidos é um só

Para cientistas políticos de Harvard, governar bem é a saída para recuperar a imagem desgastada dos partidos políticos pelo mundo

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Frances Hagopian (à esq.) e Scott Mainwaring: o sistema partidário frágil abre espaço para salvadores da pátria e incertezas quanto ao futuro da política (Stephanie Mitchell/Harvard University/Divulgação)

Frances Hagopian (à esq.) e Scott Mainwaring: o sistema partidário frágil abre espaço para salvadores da pátria e incertezas quanto ao futuro da política (Stephanie Mitchell/Harvard University/Divulgação)

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Flávia Furlan

Publicado em 18 de janeiro de 2018 às, 05h00.

Última atualização em 18 de janeiro de 2018 às, 10h11.

Um grande paradoxo político do início deste século é que as democracias precisam dos partidos, mas os sistemas partidários estão cada vez mais instáveis. Contribuem para esse enfraquecimento as notícias falsas disseminadas nas mídias sociais e os casos de corrupção que envolvem políticos mundo afora. As consequências são o surgimento de candidatos populistas e mais incertezas quanto ao futuro da política mundial. E, com a imagem tão deteriorada, como recuperar a confiança dos eleitores?

Os cientistas políticos americanos Frances Hagopian e Scott Mainwaring — que fazem parte da cátedra Jorge Paulo Lemann, realizando estudos sobre o Brasil na Universidade Harvard, em Cambridge, Massachusetts — são enfáticos em dizer que o caminho é governar bem, processo que leva tempo para ser alcançado. Confira, a seguir, a entrevista que eles concederam a EXAME em dezembro do ano passado, quando estiveram no escritório de Harvard em São Paulo.

Qual é o maior desafio dos partidos políticos?

Mainwaring: nada substitui os partidos, mas a dificuldade em construir um sistema partidário estável está maior. Esse é o paradoxo da política democrática neste início de século. Ele ocorre porque, até os anos 50, a mensagem política era dominada pelos partidos. Nas décadas seguintes, porém, a televisão passou a ser usada para disseminar as ideias e, mais recentemente, as mídias sociais assumiram esse papel. E a veiculação de notícias falsas pela internet tem um efeito nocivo para a imagem dos partidos políticos.

Frances: a corrupção é mais combustível para piorar a imagem dos partidos, ainda mais num momento de uma recessão, como ocorre no Brasil.

Quais as consequências do enfraquecimento dos partidos para as democracias?

Frances: num quadro em que os partidos estão desprestigiados, abre-se a porta para uma pessoa que se apresente como um salvador da pátria. Esse vai ser um grande desafio para o Brasil em 2018. Acho que o país terá a chance de evitar esse cenário somente se houver um debate sério durante as eleições, por exemplo sobre o problema da Previdência Social.

Mainwaring: as democracias com partidos frágeis são vulneráveis a muitos problemas — isso porque são exatamente os partidos que estruturam a política democrática. Entre esses problemas estão as incertezas quanto ao lançamento ou à manutenção de políticas públicas importantes para o país e até mesmo as dúvidas sobre o futuro da política.

Qual o caminho para a recuperação da imagem dos partidos políticos?

Frances: para que os partidos consigam recuperar o apoio popular, o caminho é governar bem, não apenas no nível do Palácio do Planalto mas também nas esferas esta-duais e municipais. Nos protestos ocorridos em  2013, havia uma reclamação da população em geral por serviços melhores, principalmente nas áreas de transporte, saúde e educação. Vai levar tempo, não vai ser fácil, mas o jeito de recuperar a imagem de um partido é realizando uma boa gestão.

Mainwaring: o Brasil tem atualmente o sistema político mais fragmentado da história democrática da América Latina, e provavelmente do mundo. Isso ocorreu devido aos interesses particulares de alguns políticos. Eu poderia apostar que a reforma política brasileira de 2017 resultaria num sistema com menos partidos, com a cláusula de barreira. Isso ajudaria a melhorar a imagem dos partidos, porque resultaria numa identificação maior do eleitor com as agremiações que sobrarem. No entanto, um dos caminhos para a recuperação de apoio é o da transparência partidária. O Brasil está combatendo a corrupção. Não sabemos se o país vai ter êxito ou não. Mas o esforço tem sido feito.

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