Revista Exame

Salário mais alto para executivo não garante mais eficiência

Os executivos nunca ganharam tanto — até 1  800 vezes mais que o trabalhador comum. Mas um estudo revela que pagar mais não melhora a eficiência das empresas

Parker, da Nike: salário 1 000 vezes maior do que a média da empresa  (Larry Busacca/Getty Images)

Parker, da Nike: salário 1 000 vezes maior do que a média da empresa (Larry Busacca/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 24 de abril de 2014 às 14h27.

São Paulo - Contratar altos executivos é uma tarefa que não mudou muito nas últimas décadas. Quase sempre, as empresas delegam a coisa para um recrutador, que vai atrás de pessoas com um histórico de bons resultados. Para fisgá-las, é só oferecer mais do que já ganham.

Aí o sujeito é contratado, e os acionistas torcem para que o desempenho passado seja garantia de bons resultados no futuro. Os números mostram que, embora tenha mudado pouco em sua essência, a contratação de altos executivos nunca custou tão caro. Nos anos 50, os presidentes das maiores empresas americanas ganhavam 20 vezes mais do que a média do mercado.

Em 2013, a diferença chegou a 204 vezes. Em pelo menos oito corporações bilionárias, entre elas a empresa de artigos esportivos Nike, presidida por Mark Parker, o salário do presidente é mais de 1 000 vezes maior do que a média da companhia.

Para acionistas e investidores, sempre prevaleceu a ideia de que tanto dinheiro era necessário para atrair gente capaz de fazer a diferença. Mas é assim mesmo?

Um estudo recém-concluído pelos pesquisadores J. Scott Armstrong, da escola de negócios americana Wharton, e Philippe Jacquart, da francesa EMLyon, diz que não. A dupla chegou à conclusão de que pagar muito é desperdício, já que altos salários não têm correlação com o desempenho.

Um estudo citado por eles mostra que presidentes que figuram nas listas de melhores executivos do país entregam um crescimento médio de receita de 15% a 26% menor do que os concorrentes nos três anos seguintes à premiação. Segundo os autores, um caminhão de dinheiro não serve de estímulo no caso de trabalhos complexos.

É improvável que, por 1 000 reais de bônus, um matemático resolva uma equação que não conseguia por 10. Já em funções mais simples, ganhos maiores podem fazer a diferença — o que vale tanto para vendedores quanto para quem lava carros.  

É o mercado que decide quanto um executivo merece receber. Mas, para Armstrong e Jacquart, é possível economizar ao repensar a forma como os altos executivos são contratados. Eles sugerem que os recrutadores se inspirem na estratégia do time de beisebol americano Oakland Athletics, contada no livro Moneyball, de 2011.

Com um orçamento modesto, o time não atraía figurões. Mas, graças a uma análise exaustiva de dados, formou boas equipes com jogadores menos badalados que tinham as características necessárias a cada função. Nome, carisma e sorte não entravam na conta. A rede de supermercados americana Whole Foods definiu que a disparidade de salários na companhia não pode ultrapassar 19 vezes.

Seria difícil atrair um figurão do mercado para a vaga de presidente — a solução foi promover um vice-presidente, Walter Robb, que recebe 1,2 milhão de dólares por ano. É 10% da média das maiores empresas do país. Outras companhias passaram a exigir que seus novos executivos expliquem ao conselho de administração qual será a estratégia para os próximos anos.

Tudo para evitar que apenas resultados passados justifiquem salários astronômicos. Erros, como se sabe, podem custar caro. Para o cargo de presidente, a varejista americana J.C. Penney roubou da Apple o executivo Ron Johnson. Ele recebia 1 795 vezes mais do que um funcionário médio.

Fez tudo errado, deu um prejuízo de 1  bilhão de dólares no primeiro ano e acabou na rua. “Não quer dizer que quem ganha menos acerta mais”, diz Bernardo Cavour, sócio da empresa de recrutamento Flow. “Mas, quando dá errado, custa menos.”  

No Brasil, a disparidade é menor — um presidente ganha cerca de 50 vezes mais do que a média da empresa, segundo a consultoria Hay Group. Claro, há os pontos fora da curva, como a cervejaria Ambev e o banco Itaú, que pagam aos executivos mais de 100 vezes o salário médio.

Nos Estados Unidos, a distância começou a aumentar nos anos 80, com o enfraquecimento dos sindicatos e a popularização de pacotes de incentivo com base em bônus e ações. Nos últimos anos, a pressão dos acionistas tem aumentado.

A remuneração de presidentes em empresas como Citigroup e Oracle acabou vetada pelas assembleias. Os salários, é verdade, continuam aumentando. Mas fica o aviso: a paciência com executivos ricos e medíocres está, enfim, chegando ao fim.

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