Revista Exame

É do Sérgio Rodrigues: mole, rara e cara

Sérgio Rodrigues é o nome mais famoso de uma geração de brilhantes designers — que, felizmente, voltou a ser valorizada

Sérgio Rodrigues, com seu xodó: depois de décadas de ostracismo, o mestre voltou a atrair colecionadores  (Fernando Lemos/VEJA RIO)

Sérgio Rodrigues, com seu xodó: depois de décadas de ostracismo, o mestre voltou a atrair colecionadores (Fernando Lemos/VEJA RIO)

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Da Redação

Publicado em 7 de setembro de 2011 às 08h00.

São Paulo - "A primeira poltrona Mole ficou muito tempo na vitrine sem que ninguém se interessasse por ela. Algumas pessoas até a chamavam de cama de cachorro”, recorda, com humor, o carioca Sérgio Rodrigues, de 83 anos, sobrinho de Nelson Rodrigues e um dos pais do design de móveis brasileiro.

Em 1961, quatro anos depois de criar a poltrona, Rodrigues, a pedido do então governador do estado da Guanabara, Carlos Lacerda, inscreveu “a cama de cachorro” no 4º Concurso Internacional de Design de Móveis de Cantu, na Itália. “Fui premiado porque a poltrona valorizava a questão regional, enquanto as peças dos demais concorrentes não revelavam nada de suas origens”, diz.

A partir daí, a Mole, também conhecida como Sheriff, passou a ser sucesso entre o público mais descolado. Quando comprou uma, há cerca de 40 anos, a atriz americana Kim Novak comentou com Rodrigues, em tom de brincadeira, que o móvel estava mais para uma cama de bode.

Após um período de ostracismo, que começou nos anos 70, Rodrigues voltou ao mercado e, em 2005, suas criações retomaram as vendas, desta vez com madeiras certificadas. Foi essa volta que deu início à caçada às cerca de 600 Mole feitas de jacarandá entre 1957 e 1968.

Hoje, uma poltrona daquela época dificilmente sai, no Brasil ou no exterior, por menos de 9 000 dólares — em 2010, podia ser encontrada por 7 000 dólares. 

Rodrigues é o nome mais conhecido de um grupo de ilustres designers brasileiros que estão saindo das sombras. “Trabalho com peças de ícones brasileiros há quase uma década, mas, sobretudo nos últimos anos, tenho notado um interesse crescente de clientes de todo o mundo em comprar esses móveis”, diz Zesty Meyers, dono da galeria R 20th Century, de Nova York.

“Estamos testemunhando a formação de um mercado consistente para essas peças, principalmente as produzidas em quantidades limitadas.” Em 2009, a casa de leilões Phillips de Pury & Company, de Nova York, vendeu uma cadeira Trípode, de Joaquim Tenreiro, por 80 000 dólares.


Os móveis de Tenreiro são mais valorizados porque ele já morreu, produziu poucas peças e os herdeiros ainda não permitiram reproduções.

Também em 2009, a Phillips de Pury & Company ba­teu o martelo para os 50 000 dólares oferecidos por uma mesa de jantar de José Zanine Caldas, outro expoente já morto. No mesmo ano, uma escrivaninha de Jorge Zalszupin saiu por 14 000 dólares.

Repercussão no brasil

O trabalho dos mestres brasileiros sempre foi admirado no mercado internacional graças à ligação com arquitetos renomados, como Oscar Niemeyer — Rodrigues foi um dos que criaram móveis colocados em alguns prédios públicos da recém-inaugurada Brasília. Mas esse reconhecimento não se traduzia no preço.

A recente divulgação do trabalho dos designers em exposições e livros no exterior começou a mudar isso. “Logo o interesse dos estrangeiros pelos móveis vintage dos modernistas repercutiu no Brasil”, diz Jones Bergamin, diretor da Bolsa de Arte, que promove leilões no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Em maio, um conjunto de sala de jantar, com mesa de tampo de vidro e dez cadeiras de palhinha, todas criações de Tenreiro, foi arrematado por 260 000 dólares em São Paulo. No Brasil, donos de galerias e organizadores de leilões têm observado uma mudança no perfil dos compradores de móveis vintage.

Aos poucos, profissionais de 30 a 40 anos de idade ganham espaço entre um público tradicionalmente mais velho. Essa valorização de suas peças por pessoas de diferentes faixas etárias enche de alegria os mestres. Além do reconhecimento em vida, fica a certeza de que suas obras, importantes peças da história do Brasil, serão preservadas para a posteridade.

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