Jeffrey Immelt, da GE: ao contrário de seu antecessor, o mítico Jack Welch, ele não deverá ficar 20 anos no comando da empresa (Chip Somodevilla/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 24 de junho de 2014 às 14h31.
São Paulo - O executivo Jeff Immelt acostumou-se a uma rotina atribulada à frente da General Electric, um dos maiores e mais diversos conglomerados do mundo, com faturamento de 146 bilhões de dólares. Isso é verdade desde sua primeira semana como presidente.
Sucessor do lendário Jack Welch, ele assumiu o posto em 2001, quatro dias antes dos ataques terroristas de 11 de setembro, e teve de gerenciar o estrago que o episódio provocou nas divisões de aviação e de resseguro da empresa. Depois, veio a crise financeira de 2008.
De 2001 a 2011, o saldo de sua primeira década como presidente foi uma queda de 60% das ações da GE. O cenário só começou a desanuviar mais recentemente. Ao diminuir a importância da operação financeira nos resultados do grupo e ao reduzir custos operacionais, o preço das ações da GE subiu mais de 30% em 2013.
Immelt tem trabalhado arduamente para prolongar a boa fase. Sua última cartada veio no fim de abril, com a oferta de 13 bilhões de dólares pela divisão de energia da multinacional francesa Alstom.
Aos 58 anos, prestes a completar 13 anos como presidente, Immelt, segundo uma reportagem do jornal americano Wall Street Journal, já iniciou uma negociação para encurtar seu tempo como presidente da companhia. Welch, seu antecessor, liderou a empresa por 20 anos.
Immelt e os conselheiros do conglomerado, segundo a reportagem, chegaram à conclusão de que comandar durante duas décadas uma empresa complexa como a GE, em tempos tão turbulentos, pode ser uma tarefa extenuante demais para qualquer executivo.
Mesmo que Immelt saia agora do comando, seu mandato já destoa pela longevidade entre seus pares. Em média, presidentes de grandes empresas no mundo hoje ocupam a cadeira por apenas cinco anos.
A reflexão no mais alto escalão da GE traz à tona uma discussão recorrente no mundo corporativo — há um período ideal para a permanência de um executivo no comando? Trata-se de uma questão polêmica. Mas há indícios de que cada vez mais longos mandatos para um presidente estão com os dias contados.
O pesquisador Xueming Luo, professor da escola de negócios americana Fox, da Universidade Temple, na Pensilvânia, estudou a fundo o tema e se arriscou recentemente a definir um prazo de validade: 4,8 anos.
“Presidentes de longa data tendem a se tornar grandes líderes para a equipe, mas menos aptos a acompanhar mudanças do mercado”, afirmou Luo, num artigo publicado na Harvard Business Review, periódico da Universidade Harvard.
Para chegar a essa conclusão, Luo estudou 356 empresas abertas americanas de 2000 a 2010. Nesse período, mediu a duração dos mandatos dos presidentes e a evolução de indicadores como rotatividade de empregados e investimento em desenvolvimento de novos produtos. Ele também monitorou o desempenho das ações das empresas.
Ao cruzar as informações, constatou que, ávidos por mostrar resultados nos primeiros anos, os presidentes buscam se informar em profundidade sobre o negócio dentro e fora dele. Com o tempo, esses mesmos executivos continuam a fortalecer as relações internas. Mas ficam menos atentos ao que se passa ao redor.
Muitos se transformam em líderes carismáticos, mas acabam menos atentos às ameaças externas. “Muitas decisões equivocadas são tomadas justamente por presidentes que, há muito tempo no cargo, sofrem de excesso de confiança”, afirma André Freire, presidente da consultoria de recrutamento de altos executivos Odgers Berndtson.
Um levantamento da consultoria de estratégia McKinsey, realizado em outubro, ajuda a endossar a tese de que os primeiros anos dos presidentes costumam ser mais produtivos. Mais do que isso: os que são mais rápidos em mostrar a que vieram dão mais resultado em sua passagem pelo comando.
A consultoria analisou 365 companhias abertas americanas que haviam mudado seu principal executivo recentemente e acompanhou o mandato dos estreantes. Dentro desse universo, identificou 183 empresas nas quais os presidentes realocaram recursos e trocaram o alto escalão logo nos primeiros três anos.
A conclusão foi que eles proporcionaram um retorno aos acionistas de 8,8%. O resultado dos que demoraram mais tempo para fazer mudanças foi menor — de 6,6%. Por ora, o raciocínio pode ilustrar o que está acontecendo com a BRF, empresa de alimentos brasileira dona das marcas Sadia e Perdigão.
Em menos de um ano no cargo de presidente, o paulista Claudio Galeazzi trocou dez dos 12 vice-presidentes, vendeu a divisão de carne bovina e agora negocia a divisão de lácteos. O saldo até agora: a BRF faturou 1,9 bilhão de reais no primeiro trimestre deste ano — cerca de 11% mais do que no mesmo período do ano anterior.
O fato é que a paciência de investidores para esperar resultados tem diminuído. Na média, os presidentes de empresas se mantinham no cargo por 4,7 anos em 2003. Hoje ficam menos de três. Os que passam de uma década são minoria.
Um levantamento feito pela consultoria BTA, de Belo Horizonte, com 1 200 companhias brasileiras mostra que 24% são pilotadas pelo mesmo executivo há mais de uma década. “São profissionais que conseguem assumir papéis muito diferentes”, diz Betânia Tanure, consultora e especialista em comportamento organizacional.
Um exemplo é o paulista Cledorvino Belini, presidente da montadora Fiat para a América Latina há dez anos. A rival Volkswagen trocou de comando três vezes nesse período. Nos primeiros anos, Belini encarnou o reestruturador ao se livrar de um prejuízo de 284 milhões de reais.
Nos últimos anos, ele se transmutou num expansionista. Lançou 25 novos modelos de carro e ampliou a produção em 40%. Em 2013, a Fiat faturou 31,6 bilhões de reais e lucrou 290 milhões no Brasil.
“Não dá para perder o pique de fazer mudanças”, diz Belini, que passou a integrar o conselho de executivos global da Fiat Chrysler em 2012. Para os que aspiram ficar no comando por tanto tempo, o jeito parece ser pôr a recomendação em prática — e logo.