Bruno Apolinário: dedicação rendeu uma bolsa para estudar nos Estados Unidos (Beto Figueiroa/Divulgação)
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Publicado em 5 de dezembro de 2025 às 10h00.
Hoje um psiquiatra e geriatra bem-sucedido, além de diretor do Sindicato dos Médicos de Pernambuco, Bruno Apolinário fala com naturalidade sobre liderança, planejamento e responsabilidade social. Entretanto, o fio dessa trajetória não começou na universidade ou nos inúmeros congressos de que participou: foi tecido ainda no ensino médio, nos corredores da Escola de Referência em Ensino Médio de Timbaúba — Professor Antônio José Barbosa dos Santos.
Foi ali, no interior de Pernambuco, que o jovem Apolinário, tímido e ainda incerto sobre suas próprias potencialidades, começou a enxergar a educação não como mera transmissão de conteúdo, mas como um processo ativo. No modelo integral, encontrou mestres inspiradores, conheceu o valor da coletividade, descobriu talentos e aprendeu a sonhar grande.
Na época em que escolheu a escola integral, o modelo, que começava a ser implementado pelo governo do estado, já era entendido como algo que fugia do padrão. “Via como um oásis de conhecimento”, lembra. Os estudantes que já estavam lá falavam do comprometimento dos professores, da intensidade das atividades e do protagonismo dado aos jovens.
O primeiro contato foi mar[1]cante: o acolhimento preparado pelos veteranos e a apresentação dos quatro pilares do integral — aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser. A partir dali, a escola deixou de ser apenas um espaço de aulas e se transformou em um lugar de descobertas. Apolinário mergulhou em clubes, projetos, no grêmio estudantil e nas artes, chegando a escrever pequenas peças e adaptações literárias para apresentar em sala.
Entre tantas experiências, uma delas mudaria sua vida: o projeto Ganhe o Mundo. Selecionado para o curso intensivo de línguas, ele estendia sua jornada diária na escola até a noite. “Eu ficava 12 horas na escola. Nunca tive oportunidade semelhante, então me dediquei”, conta. O esforço valeu a pena. Apolinário conquistou uma bolsa de intercâmbio e realizou o sonho de estudar nos Estados Unidos. A vivência internacional expandiu horizontes e reforçou a lição de que um desejo pode ser sonhado coletivamente. “Nas aulas de Projeto de Vida, aprendi que é possível desenhar um projeto de vida, é real. Sigo esses ensinamentos até hoje.”
O grêmio estudantil foi outro espaço decisivo. Lá ele conheceu a força da organização coletiva — experiência que, mais tarde, ecoaria na universidade, onde participou de diversas ações, e atualmente em sua atuação como dirigente sindical. Ao relembrar professores e gestores que marcaram sua trajetória, Apolinário cita nomes com gratidão: mestres que o atendiam fora do horário, corrigiam redações extras e abriam horizontes para além do vestibular. “Eles nos preparavam para sermos cidadãos de destaque na sociedade, onde quer que escolhêssemos estar”, recorda. Os gestores e professores da escola integral realmente se faziam presentes não só no desenvolvimento acadêmico, mas também na cidadania e no protagonismo dos estudantes.
A trajetória do menino de Timbaúba mostra que, mais do que preparar para a universidade, o ensino integral forma cidadãos completos, conscientes e equipados para transformar suas realidades. “A escola integral é o caminho possível para qualquer jovem sonhar e conquistar um futuro melhor”, resume Apolinário.
Os efeitos positivos da política são evidentes até mesmo nas taxas de homicídios de jovens pernambucanos. Um artigo do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde mostrou que, desde a implementação da escola integral, em 2004, houve uma redução de 30% a 50% na taxa média de mortalidade de jovens de 15 a 19 anos.
Ciente dos efeitos positivos, o governo de Pernambuco tem investido constantemente na expansão do ensino público integral. Hoje, o estado é o número 1 em adoção desse modelo no Brasil: o Censo Escolar de 2024* mostra que 71% das matrículas em escolas estaduais de ensino médio em Pernambuco são em Escolas de Referência. “Pernambuco lidera, há dois anos consecutivos, o ranking nacional de alunos matriculados no ensino médio em tempo integral”, diz Gilson Monteiro Filho, secretário de Educação do estado de Pernambuco. “A universalização do ensino integral que temos promovido estimula o protagonismo juvenil e o desenvolvimento do projeto de vida, tornando nossos jovens mais preparados para os desafios pessoais e profissionais.
