Revista Exame

Em busca de um recomeço

Romero Rodrigues, do Buscapé, é o maior ícone da internet brasileira. Mas, após anos de sucesso, a empresa e seu fundador vivem dias difíceis. É hora de partir para outra?

Romero Rodrigues: ele tem estrelado até comerciais de uma incorporadora (Fabio Sarraf / EXAME/Exame)

Romero Rodrigues: ele tem estrelado até comerciais de uma incorporadora (Fabio Sarraf / EXAME/Exame)

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Da Redação

Publicado em 12 de fevereiro de 2015 às 08h05.

São Paulo - A agenda do empreendedor paulistano Romero Rodrigues, fundador do site de comparação de preços Buscapé, foi particularmente intensa nos últimos 18 meses. Rodrigues publicou nas redes sociais fotos de curso de gastronomia em Roma, Carnaval em Salvador, praia na Tailândia, almoço na África do Sul.

Em novembro, ele lançou a ferramenta de gestão para pequenos negócios Mar­ketUp, em sociedade com Alexandre Hohagen, vice-presidente do Facebook para a América Latina, Hélio Rotenberg, presidente da fabricante de computadores Positivo, e o empreendedor de internet Carlos Azevedo.

Estreou em cinco conselhos de administração de empresas de tecnologia — entre elas a Totvs, maior empresa brasileira de softwares de gestão, e a loja online de decoração americana Wayfair, que vale 1,8 bilhão de dólares.

Rodrigues ainda criou um blog sobre empreendedorismo e estrelou comerciais de uma incorporadora. Tudo isso enquanto preside a área global de comparação de preços do conglomerado de mídia sul-africano Naspers, que em 2009 pagou 600 milhões de reais pelo Buscapé, empresa que ele fundou em 1998 com três colegas da faculdade de engenharia.

Aos 37 anos, Rodrigues é a maior estrela da internet brasileira. A venda do Buscapé fez dele um multimilionário, exemplo para gerações de empreendedores e palestrante requisitadíssimo. A rotina descrita no parágrafo anterior mostra que Rodrigues está mais ativo do que nunca. Mas hoje, segundo dezenas de amigos e executivos do setor ouvidos por EXAME, sua carreira está numa encruzilhada.

Conhecido por sua autoconfiança, Rodrigues, desta vez, não sabe para onde vai. O empresário paulistano tem dito que está preparando sua saída da empresa que criou. Sua insatisfação nasce de uma combinação de fatores, todos ligados a um principal — o grupo Buscapé vive sua maior crise.

Nos últimos dois anos, demitiu 370 dos cerca de 900 funcionários no Brasil. O Buscapé não divulga resultados, mas estima-se que sua receita no país tenha caído um terço em 2014, para cerca de 300 milhões de reais. Em todo o mundo, os sites de comparação de preços perdem espaço para varejistas como a Amazon. Nos Estados Unidos, praticamente deixaram de existir.

Como última medida para salvar o negócio, em 2014 a Naspers juntou o Buscapé aos outros 14 sites de comparação de preços que tem pelo mundo. Rodrigues passou a comandar a nova unidade. Mas ser o todo-poderoso de um negócio em dificuldade é pouco para um empreendedor de seu tamanho.

É natural que todo empreendedor que vende seu negócio por um bom dinheiro nutra o desejo de partir para outra. O capitalismo americano está cheio de histórias desse tipo. Os sócios Elon Musk e Peter Thiel, criadores do site de pagamentos PayPal, jamais deitaram na cama forrada pelo bilhão de dólares que ganharam após a venda da companhia.

Musk criou a empresa de carros elétricos Tesla e outra de viagens espaciais, a SpaceX. Thiel renasceu como investidor, ganhando uma fortuna ao apostar no Facebook. Rodrigues não tem todo esse dinheiro — na mais otimista das estimativas, embolsou até agora cerca de 15 milhões de reais. Quem mais ganhou dinheiro com o Buscapé foi o fundo americano Great Hill Partners, que comprou 91% das ações em 2005 e depois as vendeu ao Naspers.

Por razões contratuais, Rodrigues teve de permanecer cinco anos à frente da empresa, mesmo após a venda. A ideia era tocar um plano de fato ambicioso, uma espécie de Buscapé 2.0: usá-lo como ponto de partida para criar um gigante da internet brasileira. A meta era faturar 1 bilhão de reais e abrir o capital em cinco anos.

Rodrigues recebeu autonomia total, e o Buscapé comprou 18 empresas. Passou a atuar em uma miríade de segmentos — meios de pagamentos digitais, classificados de imóveis online, vestuário, blogs, busca de prestadores de serviço. Para tocar as áreas, Rodrigues montou um time com executivos experientes. Ele parecia estar no caminho certo.

Mas quase nada saiu como planejado. Os novos executivos estranharam a falta de autonomia — a palavra final era sempre de Rodrigues. Como o Buscapé não tem um conselho de administração e a Naspers havia deixado o negócio nas mãos do fundador, faltava quem o questionasse (a Naspers é acionista minoritária da Editora Abril, que publica EXAME).

“Ele entendia bem de comparação de preços, mas não tinha ideia de como funcionava um varejo online ou um serviço de pagamentos, e acabava fazendo do jeito dele”, diz um ex-vice-presidente. Os executivos que participaram do projeto afirmam que o Buscapé cresceu rápido demais em setores naturalmente difíceis.

No fim de 2013, os sul-africanos cansaram de esperar pelos resultados — quase todos os negócios comprados fechavam no vermelho. De lá para cá, o Bcash, de pagamentos online, foi absorvido por uma empresa global dedicada a isso. A ponta de estoque online Brandsclub, que faturou quase 200 milhões de reais em 2013, fechou as portas. Cerca de metade das empresas compradas foi vendida ou fechada.

No processo, a Naspers demitiu cinco dos dez vice-presidentes. Os outros dois fundadores remanescentes do Buscapé, Rodrigo Borges e Ronaldo Takahashi, saíram. O contrato que prendia Rodrigues ao Buscapé venceu no fim de 2014. Rodrigues não quis dar entrevista.

A próxima investida profissional de Rodrigues não está definida, mas empreendedores próximos a ele ouvidos por EXAME indicam duas possibilidades. A primeira é assumir alguma das empresas em que investiu. A principal candidata é a novata MarketUp, ferramenta de gestão para pequenos negócios gratuita que tem potencial para se tornar uma grande empresa.

Rodrigues se envolveu no projeto e ajudou a montar a equipe de desenvolvedores. O segundo caminho está relacionado à atuação como conselheiro. Ele poderia, por exemplo, assumir o comando de uma dessas companhias — ele é cotado para substituir futuramente Laercio Cosentino, fundador e presidente da Totvs. Sua entrada no conselho da empresa, em novembro de 2014, seria um teste. A única certeza é que o maior empreendedor da internet brasileira vai começar de novo.

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