Luis Stuhlberger, diretor da Credit Suisse Hedging-Griffo: "As oportunidades não estão só no Brasil" (Germano Lüders/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 15 de março de 2011 às 15h27.
De fundos de hedge americanos a donas de casa do Japão, os investidores estrangeiros nunca colocaram tanto dinheiro na bolsa e no mercado de renda fixa do Brasil. Foram 20 bilhões de dólares nos últimos 12 meses, o triplo do que ingressou no país em 2005. O que tem atraído esse pessoal é a combinação, rara para os padrões mundiais, de juros elevados com crescimento econômico, lucros empresariais em alta e estabilidade institucional. Num cenário assim, pode parecer ilógico apostar no movimento contrário - de investimentos brasileiros lá fora. Mas é exatamente isso que fazem três das gestoras de recursos mais respeitadas do país, BTG Pactual, Credit Suisse Hedging-Griffo e Gávea. Essas casas têm ampliado seu leque de fundos que aplicam no exterior - em ações de empresas asiáticas, títulos da dívida mexicana ou moedas europeias, por exemplo. O objetivo é atender o investidor brasileiro que queira diversificar seu portfólio colocando uma parcela dos recursos fora do país. Estão no radar tanto mercados conhecidos, como o coreano e o russo, quanto outros mais exóticos - o Cazaquistão e a Malásia. "Ok, tem muita gente vindo para cá, mas é engano achar que só há oportunidades de ganho no Brasil", diz Luis Stuhlberger, diretor da Griffo e talvez o nome de maior reputação entre os gestores brasileiros. A Griffo vai lançar nas próximas se ma nas um novo fundo com 60% do patrimônio no exterior.
Alguns exemplos de retornos interessantes lá fora nos últimos 12 meses: as bolsas de Nova York e de Hong Kong subiram cerca de 40% e as moedas de boa parte dos países emergentes valorizaram bastante ante o dólar e o euro. Segundo os executivos da BTG, da Gávea e da Griffo, os fundos internacionais por eles administrados ganharam dinheiro com algumas dessas aplicações nos últimos meses. "O investidor local precisa ter a chance de poder diversificar, algo bastante comum lá fora, mas que está só começando aqui", diz Armínio Fraga, sócio da Gávea e ex-presidente do Banco Central. Fraga passou uma semana em Pequim no fim de 2009 visitando empresas, bancos, ministérios e universidades para aplicar em ações chinesas.
O movimento das três casas está ligado a um relaxamento das regras para investimentos externos ansiosamente aguardado pelos gestores e que só saiu do papel recentemente. Entre 2007 e 2008, com anos de atraso em relação a quase todos os países emergentes, a Comissão de Valores Mobiliários permitiu que os fundos locais aplicassem até 100% de seu patrimônio fora do país. Até hoje, porém, esse mercado não decolou - um levantamento feito pela consultoria Economática a pedido de EXAME mostra que os investimentos no exterior representam 0,2% do patrimônio total do setor de fundos. Em parte, essa paralisia se deve à crise de 2008, que transformou o mercado internacional num campo minado para investimentos. Mas ela também pode ser creditada ao ceticismo de algumas instituições financeiras. "Enquanto os juros forem altos, não há muito espaço para esse tipo de fundo. A comparação com o DI é cruel", diz An drea Moufarrege, diretora de investimento do private bank do banco HSBC. Para Régis Abreu, diretor da Anbima, associação do mercado de capitais, "esses produtos se justificam estruturalmente, mas a conjuntura não favorece investimentos fora do país hoje".
Faz sentido. O que chama a atenção é o naipe dos profissionais que estão na contramão. Com uma trajetória de três décadas no mercado financeiro, Stuhlberger é conhecido pela rara capacidade de antecipar tendências. Uma de suas tacadas mais conhecidas ocorreu pouco antes da maxidesvalorização do real, no fim dos anos 90. Por acreditar que o governo não teria outra saída a não ser adotar o regime de câmbio flutuante, realizou uma série de aplicações nos mercados futuros para lucrar com a baixa da moeda brasileira. Quando isso ocorreu, em janeiro de 1999, seu fundo rendeu 63% num único mês. Fraga, que trabalhou por seis anos ao lado do investidor húngaro George Soros antes de assumir o BC brasileiro, é membro do grupo dos 30, entidade internacional que reúne celebridades do mundo financeiro de diversos países e hoje é chefiada por Paul Volcker, ex-presidente do banco central americano. Na BTG, a gestão de recursos é comandada por outro ex-BC, Pérsio Arida, e conta com um grupo de 80 profissionais divididos nos escritórios de Londres, Nova York e Hong Kong para avaliar ativos estrangeiros.
Alguns dos grandes investidores globais costumam duvidar dos benefícios de ter um portfólio diversificado. Um deles é o bilionário americano Warren Buffett. Para ele, "diversificar é uma forma de se proteger da ignorância, o que não faz sentido para quem sabe o que está fazendo". Nem todos concordam com Buffett. Dezenas de estudos acadêmicos sugerem que, especialmente para investidores leigos, a estratégia de dividir os ovos em diferentes cestas traz mais vantagens do que problemas. O economista Harry Markowitz ganhou o Nobel de Economia em 1990 ao provar que diversificar dá retorno e reduz o risco das aplicações de forma relevante. Um estudo feito por Paul Zemsky, diretor do grupo ING, mostra os efeitos dessa teoria na vida real. Segundo ele, nos últimos 15 anos quem aplicou num fundo ligado ao Ibovespa ganhou, em média, 21% ao ano, em dólar. Num fundo de bolsa que tivesse 25% do patrimônio investido em títulos do governo americano, o rendimento se ria praticamente o mesmo, mas com um risco bem menor.