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Como o ChatGPT deve impactar o futuro do trabalho?

Há um crescente medo de que a inteligência artificial (IA) mude o mercado de trabalho. No entanto, a história econômica mostra que inovações como essa não precisam seguir pelo pior cenário

 (Chona Kasinger/Bloomberg/Getty Images)

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Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 26 de abril de 2023 às 06h00.

A Microsoft está supostamente encantada com o ChatGPT da OpenAI, um programa de inteligência artificial de linguagem natural capaz de gerar texto que se lê como se um ser humano o tivesse escrito. Aproveitando o fácil acesso ao financiamento na última década, empresas e fundos de capital de risco investiram bilhões em uma corrida armamentista de IA, resultando em uma tecnologia que agora pode ser usada para substituir humanos em uma ampla gama de tarefas. Isso pode ser um desastre não apenas para os trabalhadores mas também para os consumidores e até para os investidores.

O problema para os trabalhadores é óbvio: haverá menos empregos que exijam fortes habilidades de comunicação e, portanto, menos cargos que paguem bem. Faxineiros, motoristas e alguns outros trabalhadores braçais manterão seus empregos, mas todos os outros deveriam ter medo. Consideremos o atendimento ao cliente. Em vez de contratar pessoas para interagir com os clientes, as empresas confiarão cada vez mais em IAs generativas, como o ChatGPT, para aplacar os irritados consumidores com palavras inteligentes e tranquilizadoras. Menos empregos iniciais significarão menos oportunidades para começar uma carreira — continuando uma tendência estabelecida pelas tecnologias digitais anteriores.

Consumidores também vão sofrer. Os chatbots podem ser adequados para lidar com perguntas totalmente rotineiras, mas não são perguntas rotineiras que geralmente levam o consumidor a ligar para o atendimento ao cliente. Quando há um problema real — como uma companhia aérea paralisada ou um cano estourado no seu porão — você quer falar com um profissional bem qualificado e empático, com capacidade de mobilizar recursos e organizar soluções oportunas. Você não quer ficar na linha esperando por horas a fio; contudo, também não quer falar imediatamente com um chatbot eloquente, porém inútil.

É claro que, em um mundo ideal, novas empresas que oferecessem um melhor atendimento ao cliente surgiriam e conquistariam participação de mercado. Mas, no mundo real, muitas barreiras à entrada dificultam a rápida expansão de novas empresas. Você pode amar sua padaria local, um gentil representante de uma companhia aérea ou um médico específico, mas pense no que é necessário para criar uma nova rede de supermercados, uma nova companhia aérea ou um novo hospital.

As empresas existentes têm grandes vantagens, incluindo importantes formas de poder de mercado que lhes permitem escolher quais tecnologias disponíveis adotar e usá-las como bem entenderem. Mais fundamentalmente, novas empresas que oferecem melhores produtos e serviços geralmente exigem novas tecnologias, como ferramentas digitais que possam tornar os funcionários mais eficazes e ajudar a criar melhores serviços personalizados para a clientela da empresa. Mas, como os investimentos em IA estão colocando a automação em primeiro lugar, esses tipos de ferramentas nem estão sendo criados.

Do contra

Os investidores em empresas de capital aberto também perderão na era do ChatGPT. Essas empresas poderiam melhorar os serviços que oferecem aos consumidores, investindo em novas tecnologias para tornar sua força de trabalho mais produtiva e capaz de realizar novas tarefas, e fornecendo bastante treinamento para aprimorar as habilidades dos funcionários. Mas eles não estão fazendo isso.

Muitos executivos continuam obcecados com uma estratégia que acabará sendo lembrada como autodestrutiva: reduzir o número de empregos e manter os salários o mais baixo possível. Os executivos buscam esses cortes porque é o que os garotos inteligentes (analistas, consultores, professores de finanças, outros executivos) dizem que deveriam fazer e porque Wall Street julga seu desempenho em relação a outras empresas que também estão espremendo os trabalhadores o máximo que podem.

A IA também está preparada para amplificar os deletérios efeitos sociais do capital privado. Grandes fortunas já podem ser feitas comprando empresas, sobrecarregando-as com dívidas ao se tornarem privadas e, em seguida, esvaziando seu contingente de trabalho — tudo isso enquanto paga altos dividendos aos novos proprietários. Agora, o ChatGPT e outras tecnologias de IA tornarão ainda mais fácil espremer trabalhadores o máximo possível por meio de vigilância no local de trabalho, condições de trabalho mais rígidas, contratos de zero hora e assim por diante.

Todas essas tendências têm implicações terríveis para o poder de compra dos americanos — o motor da economia dos Estados Unidos. Mas, como explicamos em nosso próximo livro, Power in Progress: Our Thousand-Year Struggle Over Technology and Prosperity (“Poder em progresso: nossa luta de mil anos sobre tecnologia e prosperidade”), um crepitante motor econômico não precisa estar em nosso futuro. Afinal, a introdução de novas máquinas e avanços tecnológicos produziu consequências muito diferentes no passado.

De volta para o futuro

Há mais de um século, Henry Ford revolucionou a produção de automóveis investindo pesadamente em novas máquinas elétricas e desenvolvendo uma linha de montagem mais eficiente. Sim, essas novas tecnologias trouxeram alguma automação, pois fontes de eletricidade centralizadas permitiram que as máquinas executassem mais tarefas com mais eficiência. Mas a reorganização da fábrica que acompanhou a eletrificação também criou novas tarefas para os trabalhadores e milhares de novos empregos com salários mais altos, reforçando a prosperidade compartilhada. A Ford liderou o caminho ao demonstrar que a criação de tecnologia complementar humana é um bom negócio.

Atualmente, a IA oferece uma oportunidade de fazer o mesmo. As ferramentas digitais alimentadas por IA podem ser usadas para ajudar enfermeiros, professores e representantes de atendimento ao cliente a entender com o que estão lidando e o que ajudaria a melhorar os resultados para pacientes, alunos e consumidores. O poder preditivo dos algoritmos pode ser aproveitado para ajudar as pessoas, em vez de substituí-las. Se IAs forem usadas para oferecer recomendações para consideração humana, a capacidade de usar essas recomendações com sabedoria será reconhecida como uma valiosa habilidade humana. Outros aplicativos de IA podem facilitar uma melhor alocação de trabalhadores para tarefas ou até mesmo criar mercados completamente novos (por exemplo, o Airbnb ou aplicativos de compartilhamento de viagens). 

Infelizmente, essas oportunidades estão sendo negligenciadas, porque a maioria dos líderes de tecnologia dos Estados Unidos continua investindo pesadamente para desenvolver softwares que podem fazer o que os humanos já fazem muito bem. Eles sabem que podem lucrar facilmente vendendo seus produtos para empresas que desenvolveram visão de túnel. Todos estão focados em alavancar a IA para cortar custos trabalhistas, com pouca preo­cupação não apenas com a experiência imediata do cliente mas também com o futuro do poder de compra do cidadão americano.

A Ford entendeu que não fazia sentido produzir carros em massa se as massas não pudessem comprá-los. Os titãs corporativos de hoje, ao contrário, estão usando as novas tecnologias de maneiras que arruinarão coletivamente nosso futuro. 

(Arte/Exame)

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