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Movimento feminino contra a depilação ganha apelo comercial

O movimento de mulheres contra a depilação não é exatamente novidade. A diferença é que a publicidade começa a explorar a nova onda feminista

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Campanha da Vetements: o ato de protesto ganhou o aval do mercado (Vetements/Divulgação)

Campanha da Vetements: o ato de protesto ganhou o aval do mercado (Vetements/Divulgação)

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Ivan Padilla

Publicado em 14 de fevereiro de 2019 às, 05h30.

Última atualização em 14 de fevereiro de 2019 às, 05h30.

No disco que a consagrou, Easter, que tem entre outras ótimas músicas o hit Because the Night, Patti Smith aparece na capa olhando para a axila sem depilar. O ano era 1978, e a foto do álbum foi provavelmente o auge da repercussão do movimento que começou nos anos 60. De poucos anos para cá, a nova onda feminista voltou a pregar o livre crescimento dos pelos do corpo como ação de liberdade e independência. Entre os dois momentos há uma sensível diferença: o protesto foi incorporado pelo mercado, e campanhas publicitárias começaram a explorar imagens de mulheres com pernas e axilas au naturel.

O barulho mais recente em torno dos pelos femininos foi causado pela Vetements, a irreverente marca francesa queridinha dos fashionistas. No início de fevereiro, a grife lançou uma foto no Instagram para celebrar sua coleção primavera-verão com uma jovem deitada em uma cama, braços levantados e axilas com pelos. Em seu desfile da Semana de Moda de Paris, em setembro, as modelos já haviam se apresentado com as pernas devidamente cabeludas. Lourdes Leon, filha de Madonna, também percorreu no ano passado as passarelas da Semana de Moda de Nova York com as canelas e axilas sem depilar, pela Gypsy Sport.

A marca sueca & Other Stories lançou uma campanha com mulheres fora dos padrões, com cicatrizes, tatuagens e, claro, pelos. Também da Suécia, a Weekday divulga com frequência fotos de modelos com penugem natural. Um anúncio que chamou a atenção foi o de uma marca popular chamada Billie, veja só, de barbeadores — certamente o segmento com maior interesse em que as mulheres se depilem. “Pelos. Todo mundo tem. Até as mulheres”, dizia a peça. O comercial mostrava mulheres com pelos na barriga, nas pernas e até nos dedos dos pés. Sem tabu, com naturalidade. E concluía: “Se algum dia você quiser se depilar, estaremos aqui”.

Lourdes Leon, filha de Madonna, em evento de moda em Nova York: atitude millennial | Evan Agostini/Glow

O mercado apenas acompanha — e lucra com — um comportamento crescente, principalmente entre as millennials. O tumblr Hairy Legs Club exibe fotos e depoimentos de mulheres que escolheram não se depilar. Entre na conta @pitangels no Instagram e você vai ver axilas e mais axilas cabeludas. No mês passado, Laura Jackson, uma estudante de teatro e ativista americana de 21 anos, lançou o movimento #januhairy nas redes sociais. Junção das palavras january (“janeiro”) e hairy (“peludo”), é uma campanha que encoraja as mulheres a abandonar a cera quente e as sessões de laser. O objetivo, além de divulgar a causa, é arrecadar fundos para a instituição Body Gossip, que ajuda jovens a melhorar a autoimagem.

Curiosamente, campanhas publicitárias também ajudaram, no início do século 20, a disseminar o ato de depilar-se. Antes da Primeira Guerra Mundial, pelos não eram uma questão para a mulher — nem sequer os faciais. Até a Gillette lançar, em 1915, uma lâmina para mulheres chamada Milady Décolleté, com uma nova mensagem: as axilas precisavam ter a suavidade da pele do rosto. Com o tempo as saias foram encurtando e surgiu o biquíni. Nos anos 50, a depilação já era um hábito entre as mulheres, isso até ter início o movimento feminista dos anos 60. Na década de 70 ficou célebre a expressão 70’s bush, que usou a metáfora do arbusto para pregar a libertação feminina.

Dos anos 80 em diante, os biquínis diminuíram de tamanho e a Brazilian wax, depilação genital radical, virou até tema da série Sex and the City. De lá para cá, a pele lisa virou regra, quebrada por eventuais exceções. Em 1999, Julia Roberts foi à première do filme Notting Hill com um vestido rosa Vivienne Tam e axilas peludas. Ela só foi comentar o caso no ano passado no talk show Busy Tonight. “Aquilo foi um posicionamento?”, perguntou a apresentadora Busy Phillips. Resposta de Julia: “Não. Eu calculei mal o comprimento das mangas. Não foi um posicionamento, mas parte de um posicionamento como ser humano no planeta Terra”. Simples assim.


Sapato de geek

A última excentricidade do Vale do Silício é o tênis de lã merino. E não é que é confortável? | Gabi Comis

Calçado da marca brasileira Yuool: vendas em alta e meta agressiva | Divulgação

Os empreendedores do Vale do Silício adoram um estilo casual, um visual que os diferencie dos sisudos senhores da velha economia e dê a impressão de que gastam o tempo com coisas mais importantes do que roupas. Moletons com capuz e camisetas cinza fazem parte desse guarda-roupa. Nos pés, já houve o tempo do New Balance e do Crocs. Agora é a vez do Allbirds, um tênis felpudo de linhas minimalistas. Lançado em 2016 por empresários da Nova Zelândia, é feito de lã merino, uma fibra natural de uma raça específica de ovinos. A vantagem, segundo os adeptos, é que o tecido funciona como um isolante térmico, que aquece no inverno e ventila no verão, absorve o suor e minimiza o odor.

De olho nesse mercado, Eduardo Glitz, Pedro Englert, Marcelo Maisonnave e Mateus Schaumloffel investiram 4 milhões de reais para criar, em 2018, a Yuool, sigla para young (“jovem”), urban (“urbano”) e wool (“lã”), a versão brasileira do Allbirds. A meta era vender no primeiro ano 1.900 pares. A marca ultrapassou 7.400.

Os quatro sócios trabalharam na XP. Depois de deixarem a gestora de investimento, por questões contratuais, não poderiam investir no setor financeiro. Partiram para uma temporada sabática. “O Marcelo foi morar na Califórnia, o Pedro passou uma temporada no Vale do Silício e eu visitei 42 países em 407 dias. Fomos ver o que estava rolando no mundo e curtir a vida”, afirma Glitz. Em 2016 começaram a escolher em que investir. Hoje, têm cinco fintechs, a empresa de educação continuada StartSe e a Yuool.

O tecido nobre vem da Itália, onde a marca já iniciou uma operação de venda. Para chegar a um bom preço final, mesmo com um material nobre, os empreendedores optaram pela verticalização. Eles produzem as peças em Estância Velha (RS), onde fica a sede da empresa, e vendem pela internet. “Dessa forma tiramos do caminho os intermediários”, diz Glitz. “Nosso próximo passo será marcar presença nos Estados Unidos e na China. Também colocamos como meta vender 3. 000 pares neste ano, entre Brasil e Itália.”

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