Revista Exame

Os desafios climáticos para a safra de vinhos de 2024

Colheita das uvas no Brasil começou há dois meses e mostra alta qualidade, apesar da quebra de volume

 (Catarina Bessell/Exame)

(Catarina Bessell/Exame)

Adriano Miolo
Adriano Miolo

Diretor-superintendente

Publicado em 23 de fevereiro de 2024 às 06h00.

A safra de uvas para a elaboração de vinhos em 2024 no Brasil está sendo desafiadora por causa das constantes chuvas no período da florada das plantas, durante a primavera passada. Registramos uma perda acima de 20% na quantidade de uvas.

Entretanto, a qualidade identificada nas castas utilizadas na elaboração do vinho-base para espumantes e vinhos brancos está ótima, com destaque para as uvas chardonnay e pinot noir, no Vale dos Vinhedos, e riesling, sauvignon blanc, Gewürztraminer e viognier, na Campanha, ambas regiões no Rio Grande do Sul.

Podemos dizer que neste ano a vindima nos entregou uvas brancas com mais acidez, ideal para fazer os vinhos de borbulha. Agora nossa expectativa se debruça sobre as tintas, que começaram a ser colhidas na metade de fevereiro. Esperamos que o clima se mantenha seco e que possamos comemorar a qualidade das variedades que vão originar vinhos tintos, mas é cedo para afirmar.

As perdas mais significativas se deram nos vinhedos do Rio Grande do Sul.

Já na Bahia, em razão do terroir do sertão, que não registra chuvas e onde controlamos a safra com irrigação, utilizando as águas do Velho Chico, não tivemos quebra. Aliás, o sistema de irrigação implantado na Campanha Gaúcha também tem sido determinante neste verão, com dias que chegam a registrar 37 graus Celsius.

A tecnologia é aliada em tempos de mudanças climáticas, e todo produtor precisa fazer grandes investimentos para garantir a qualidade dos vinhos para os consumidores. Os bons frutos são colhidos apesar de safras desafiadoras. E isso ocorre em todas as vinícolas do Miolo Wine Group. Seja na Miolo, em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, seja na Almadén, que fica na Campanha Central, na Seival, localizada na Campanha Meridional — ambas em solo gaúcho —, seja na Terranova, no Vale do São Francisco, na Bahia, o investimento é palavra-chave para controlar qualquer alteração no clima.

De maneira geral, percebo anos mais secos do que o normal, e períodos mais extremos, de muita chuva ou de muito calor. Se o produtor não estiver atento, isso pode ser fatal para a colheita. Nos últimos oito anos, tivemos cinco safras excepcionais. Para os vinhos brancos, 2024 tem tudo para entregar grandes rótulos, apesar do menor volume. Nos tintos ainda precisamos esperar um pouco. De qualquer forma, todo o setor de produção de vinho brasileiro está empenhado em garantir que a qualidade da bebida que chega ao consumidor seja cada vez mais excepcional.

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