Revista Exame

Melhores e Maiores 2019 — A hora da tropa de elite

A premiação de MELHORES E MAIORES 2019 mostrou que há empresas que se descolaram da crise econômica — e é com elas que o governo conta para a retomada

Paulo Guedes, ministro da Economia: “O diagnóstico é simples: vender, vender e vender”  (Flávio Santana/Exame)

Paulo Guedes, ministro da Economia: “O diagnóstico é simples: vender, vender e vender” (Flávio Santana/Exame)

AJ

André Jankavski

Publicado em 12 de setembro de 2019 às 05h48.

Última atualização em 12 de setembro de 2019 às 10h18.

governo não tem mais dinheiro e a volta do crescimento depende da iniciativa privada. Essa foi a tônica da mensagem transmitida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, em seu discurso de 58 minutos durante a festa de premiação da 46a edição de MELHORES E MAIORES, no dia 26 de agosto, em São Paulo.

Os números mostram que o setor público, de fato, não conseguirá ser o motor de uma retomada mais vigorosa das atividades. Dados do próprio Ministério da Economia mostram que, de janeiro a julho, os investimentos da União somaram 21,6 bilhões de reais, metade do valor empenhado em 2015, primeiro ano do segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff. Os principais motivos apontados pelos economistas do governo são a rigidez fiscal e o crescimento das despesas obrigatórias — que comprometem mais de 90% do orçamento federal. Ou seja, não sobra quase nada para investir.

Não por acaso, Guedes pediu a ajuda da iniciativa privada para animar a economia. E mais: prometeu que vai fazer de tudo para acelerar o enxugamento do Estado. “Vou tentar privatizar todas as estatais, mas depende do presidente. O diagnóstico é simples: vender, vender e vender”, afirmou o ministro.

Essa é uma das opções para dar impulso ao crescimento econômico, na visão de especialistas. “Olhando para um horizonte de curto prazo, o que poderia empurrar o crescimento seria um movimento mais célere de concessões e privatizações”, disse Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. Enquanto as intenções não se concretizam, a economia segue andando de lado. No segundo trimestre, o valor do produto interno bruto apresentou alta de 0,4%. Foi um respiro que afastou o risco de uma recessão técnica. Na prática, o desempenho não foi capaz de alterar a expectativa de um crescimento modesto de 0,9% em 2019.

Felizmente, o quadro exibido pelas empresas que foram avaliadas no anuá-rio -MELHORES– E MAIORES 2019 é, em boa medida, de um Brasil que já está obtendo resultados positivos. Mesmo em um ano fraco, em que o PIB cresceu apenas 1,1%, as 500 maiores empresas do Brasil cresceram 9%  e faturaram 810 bilhões de dólares em 2018. O lucro apresentou números ainda mais surpreendentes: 63 bilhões de dólares, 123% maior do que o registrado no ano anterior. Esses resultados são fundamentais para uma volta do otimismo à força produtiva brasileira.

Enquanto torcem para que tempos melhores venham, as empresas tentam se descolar da pasmaceira da economia. Foi o que a maior cadeia de hospitais do país, a Rede D’Or São Luiz, logrou fazer. Ela é a ganhadora do título de -Em-pre-sa- do Ano de MELHORES E -MAIORES. A empresa, que nasceu para atender os clientes abonados da zona sul carioca, cresceu — e muito. Nos últimos cinco anos, em pleno período de recessão econômica, a companhia de saúde dobrou de tamanho. Recentemente, anunciou um investimento de 8 bilhões de reais até 2023 para crescer organicamente. Com o dinheiro, deverá inaugurar dez hospitais e chegar a 11.000 leitos nos próximos quatro anos. “O setor de saúde é bastante resiliente. A saúde pública é um problema e o setor privado tem duas opções: crescer ou crescer”, disse Heráclito Brito Gomes Júnior, presidente da Rede D’Or São Luiz, na cerimônia de premiação.

Outro braço da economia que se mostrou resiliente, apesar de não apresentar em 2018 o crescimento de anos anteriores, foi o agronegócio. Um destaque é a empresa que obteve o maior lucro entre as companhias do setor analisadas. A fabricante de papel e celulose Suzano, que incorporou a concorrente Fibria, despontou como a Melhor Empresa do Agronegócio de MELHORES E MAIORES. Não é para menos. A fusão entre as duas companhias sempre foi vista como um ótimo negócio por analistas do setor. Agora, com o nome apenas de Suzano, a companhia pretende conquistar espaço em mercados gigantescos do continente asiático — tendo a China como principal destino. “Impactamos mais de 2  bilhões de pessoas em todo o mundo e podemos aumentar ainda mais esse número. Não por acaso, vamos investir 5,9 bilhões de reais em nossas atividades somente em 2019”, disse Walter Schalka, presidente da Suzano.

João Doria, governador de São Paulo: “A capacidade é testada nos momentos difíceis” | Flávio Santana

Enquanto parte da iniciativa privada volta a investir, de olho no longo prazo, a situação é inversa no setor público, pois há falta de dinheiro em todas as esferas de governo. Segundo um levantamento da consultoria Tendências, apenas seis estados estão numa situação fiscal que pode ser considerada confortável. Outros, como Rio de Janeiro, Goiás,- Minas Gerais e Rio Grande do Sul mal conseguem pagar as contas em dia. Isso afeta diretamente a qualidade dos serviços públicos que a maioria dos brasileiros recebe. As saídas preconizadas são a melhoria da eficiência no setor público e a desburocratização.

O governador de São Paulo, João Doria, que também esteve presente na festa de premiação de MELHORES E MAIORES, defendeu um Estado mais enxuto, simples e aberto para os negócios. Assim como fez o ministro Paulo Guedes, Doria disse acreditar que os empresários podem ajudar o Brasil a acelerar sua recuperação. “O momento é difícil, mas é nos momentos difíceis que você testa sua capacidade”, afirmou o governador, que é visto como um possível concorrente de Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022.

André Lahóz Mendonça de Barros, diretor de redação de EXAME (à esq.); Heráclito Gomes, presidente da Rede D’Or São Luiz, a Empresa do Ano; e Fabio Carvalho, presidente do Grupo Abril: a empresa vencedora dobrou de tamanho nos últimos cinco anos | Flávio Santana
Walter Schalka, presidente da Suzano: a Melhor do Agronegócio | Flávio Santana

É fato que o governo federal tem batalhas no curto prazo para enfrentar: a proposta de recriação de um imposto sobre as contribuições financeiras é uma delas. “O Congresso tem de decidir se prefere um imposto horroroso, mas justo, ou um desemprego que chega a 40 milhões de brasileiros hoje”, disse Guedes. Outra discussão levantada pelo ministro é até que ponto os políticos brasileiros estão dispostos a discutir os orçamentos públicos e acabar com o engessamento dos gastos. Para ele, os parlamentares estão maduros e preparados para essa missão.

Com a adoção dessas medidas, Guedes acredita que o crescimento econômico finalmente sairá das planilhas do governo para a vida real. “Vai dar tudo certo e sairemos melhores e maiores”, finalizou seu discurso. A torcida para que ele esteja certo, logicamente, é grande.

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