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Com três filhos, nove netos e três bisnetos, esta amapaense de 76 anos abriu sua primeira startup

Com 76 anos, Antônia Bezerra criou sua primeira startup, a Amazon Bioprotein, e está desenvolvendo um suplemento proteico para a terceira idade

Antônia Bezerra, da Amazon Bioprotein: “Se tem uma coisa que eu tenho terror é dessa palavra ‘aposentadoria’” (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Antônia Bezerra, da Amazon Bioprotein: “Se tem uma coisa que eu tenho terror é dessa palavra ‘aposentadoria’” (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Marcos Bonfim
Marcos Bonfim

Repórter de Negócios

Publicado em 22 de agosto de 2024 às 06h00.

Última atualização em 2 de outubro de 2024 às 10h35.

Três filhos, nove netos, três bisnetos, a primeira startup aos 76 anos e muitos sonhos. “Se tem uma coisa que eu tenho terror é dessa palavra ‘aposentadoria’. Eu não consigo”, afirma Antônia Bezerra, fundadora da Amazon Bioprotein. A startup amapaense está criando um suplemento proteico a partir do cariru, uma folha considerada Panc, plantas alimentícias não tradicionais que têm ganhado importância nos últimos anos diante da busca por alimentos saudáveis. Comum na região amazônica, a erva é usada em saladas, sucos e pratos como sopas e refogados.

Além de rica em proteínas, é conhecida pela alta concentração de vitaminas, ferro e cálcio. A inspiração para a Amazon Bioprotein partiu de uma pergunta do professor do curso de graduação em nutrição (ela está no último semestre): “A senhora sabe o que é uma startup?”. Antônia ouvia muito a palavra em casa.

O filho Yuri é fundador da startup Ybyrá Biodesign da Amazônia, o neto Carlos criou a DevLink e a filha Erika, sócia na Amazon Bioprotein, é CEO da Associação Amapaense de Tecnologia. Saiu da conversa encucada — por não saber explicar o termo — e com o convite para participar de um evento de startups. “Eu fui e, realmente, aquele mundo foi me fascinando. À medida que eles iam falando, aquilo foi me deixando impactada. Eu quero isso para a minha vida”, conta a CEO.

Na volta para casa, ela já tinha certeza de que o próximo projeto da sua vida seria criar uma startup. Das conversas com a neta, estudante de biomedicina, brotou a ideia de transformar o cariru em suplemento. “Eu comi essa planta a minha vida inteira, que veio da minha avó e passou para minha mãe”, diz. Em pouco mais de um ano, a Amazon está na quarta aceleração, incluindo o Sebrae Inova, programa que garantiu um recurso de 6.500 reais mensais para estruturar o negócio.

A proposta de Antônia é vender o suplemento em pó a partir do ano que vem. “Nós vamos começar pela terceira idade, que tem necessidade de suplementar e é um público muito grande aqui e no mundo. Mas há também os veganos, vegetarianos e quem faz academia”, afirma. A fundadora está em conversas com investidores para captar 1,5 milhão de reais, dinheiro para a compra de maquinário e para o início da produção.

A história empreendedora de Antônia

Até aqui, a equipe — composta ainda de Débora Nascimento, tecnóloga em alimentos e doutoranda em engenharia em alimentos, e Haroldo Ripardo, doutor em química de alimentos — já desenvolveu uma farinha que pode ser usada para enriquecer pratos como feijão, arroz e ensopados.

Os testes científicos e de concentração do cariru para o suplemento foram feitos na PUC-SP. “A pesquisa mostrou que o teor de aminoácidos é muito bom e que o cariru é riquíssimo em minerais, o que permite que essas características se mantenham ao longo do processo da transformação em suplemento”, afirma. Nada que ela não soubesse por experiência própria. “Em 28 de agosto, eu completo 77 anos e nunca tive uma taxa alterada. Não tenho diabetes nem problemas cardíacos ou de articulação”, afirma.

Nascida na Ilha de Marajó, no Pará, e radicada no estado do Amapá desde os 13 anos, Antônia foi professora de ciências naturais e de educação para o lar. Deixou o ensino em 1982 para empreender, criando uma casa de doces em Macapá, negócio que evoluiu como restaurante, bufê e casa de chás.

No começo dos anos 2000, por questões de saúde na família, fechou a empresa para correr atrás de tratamentos em São Paulo e em Porto Alegre, por um período de quase dez anos. No retorno a Macapá, o ímpeto já não era o mesmo e, com a pandemia, diminuiu mais ainda.

A descoberta do universo das startups deu novo ânimo. “Entrar nesse mundo de empreendedorismo de inovação me revigorou, me deu uma garra que você não tem ideia”, diz. O anseio é por construir uma nova startup milionária no estado, hoje um ecossistema com pouco mais de 100 empresas de base tecnológica. “A nossa visão é de vender para além do Amapá, indo para os estados do sul, onde não tem cariru, e para fora do Brasil.”


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