Revista Exame

“A Europa deve se preparar para mais violência”, afirma Keith Martin

O especialista em risco político diz que governos europeus precisam repensar os cortes orçamentários em áreas como segurança e serviços sociais

Keith Martin: "Medidas de austeridade exaltam os ânimos por quebrar pactos sociais antigos” (Edu Monteiro/EXAME.com)

Keith Martin: "Medidas de austeridade exaltam os ânimos por quebrar pactos sociais antigos” (Edu Monteiro/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 6 de outubro de 2011 às 19h51.

São Paulo - Para o diretor da consultoria de risco americana AON, Keith Martin, os recentes surtos de violência na Inglaterra e em outros países europeus devem ser encarados como um alerta para que as medidas de austeridade necessárias no continente não resultem em ameaças à segurança pública.

1) EXAME - Quais são as causas das recentes ondas de violência na Inglaterra? 

Keith Martin - Vários fatores contribuíram para os eventos que temos assistido não apenas na Inglaterra, mas em diversas partes da Europa. A situação econômica e o desemprego, particularmente entre jovens de baixa renda, são fundamentais para entender o que está acontecendo. Não por acaso, tumultos como esses acontecem ou se agravam durante períodos de férias, como o mês de agosto. 

2) EXAME - Como assim? 

Keith Martin - Com mais tempo ocioso durante as férias escolares, jovens insatisfeitos com a situação econômica e política em geral ou revoltados com acontecimentos específicos (como o assassinato de Mark Duggan, que desencadeou a mais recente onda de violência na capital inglesa) têm maior capacidade de promover uma ação coordenada. 

3) EXAME - Se a situação econômica na Europa não melhorar logo, como aponta a maior parte das previsões, novas ondas de violência vão acontecer?

Keith Martin - Sim. Em nosso mais recente mapa de riscos de terrorismo e violência política, destacamos vários países na Europa como focos de probabilidade elevada. Um dos principais é a Grécia, onde temos visto ações violentas ligadas a greves quase toda semana.

Com certeza, as medidas de austeridade impostas a essas economias contribuem para esse tipo de violência, pois quebram pactos sociais antigos e exaltam os ânimos da população. 

4) EXAME - Como, então, lidar com a situação?

Keith Martin - Esses eventos precisam ser encarados como um sinal de que cortes de gastos são necessários, mas não podem atingir duramente áreas como a de segurança pública.

Na Inglaterra, ficou claro que não havia policiamento suficiente para conter a violência. É preciso manter os serviços sociais, como lazer e educação, para a população mais pobre.

5) EXAME - Qual foi o papel das mídias sociais nesses últimos distúrbios sociais?

Keith Martin - A internet e outras tecnologias se revelaram um novo desafio do ponto de vista da segurança nacional. Por um lado, podem facilitar a articulação de ações criminosas.

Mas, por outro, têm igual capacidade de permitir a denúncia desses crimes. Trata-se de um importante e polêmico debate sobre como e se os governos devem limitar o acesso a esses recursos em situações de ameaça à segurança pública.

6) EXAME - Há semelhanças entre os protestos na Europa e as revoltas no mundo árabe?

Keith Martin - A não ser pelas altas taxas de desemprego entre os jovens, não vejo muitos paralelos nesses casos. No mundo árabe, os protestos têm alvos políticos muito mais claros. 

7) EXAME - A violência em Londres põe em risco a Olimpíada de 2012?

Keith Martin - Não creio. A probabilidade desse tipo de coisa ocorrer durante um evento internacional, quando há mais policiamento, é baixíssima.

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