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15 bytes de fama para os CIOs

Considerada uma das profissões mais “quentes” do mundo corporativo nos anos 2000, a carreira de diretor de tecnologia da informação — o CIO — está cada vez menos atraente

Roberto Galdieri, CIO da Vivara Eterna: mudança de emprego para voltar a assumir um papel mais estratégico em um negócio (Germano Lüders/EXAME.com)

Roberto Galdieri, CIO da Vivara Eterna: mudança de emprego para voltar a assumir um papel mais estratégico em um negócio (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 23 de fevereiro de 2011 às 14h37.

O ano de 1995 foi especial para o engenheiro paulista Jairo Avritchir, hoje com 50 anos. Depois de atuar como programador e analista em bancos, assumiu, pela primeira vez, um cargo de diretor de tecnologia da informação — ou chief information officer (CIO) —, no banco JP Morgan do Brasil. Naquele tempo, sistemas de informação haviam se consagrado como ferramentas essenciais para o funcionamento de qualquer empresa. Não por acaso, a função era das mais cobiçadas entre profissionais de TI.

Quatro anos depois, Avritchir assumiria o cargo de CIO na fabricante de computadores Dell. Foram tempos áureos. Como muitos colegas de cargo, ele passou a ter nas mãos orçamentos milionários. Seu poder de decisão abrangia todas as operações que envolviam tecnologia dentro da empresa, e seu conhecimento, tido como uma espécie de mistério para executivos de outras áreas, conferia a ele um grau de prestígio raras vezes visto até então em cargos de formação técnica.

No século 19, a invenção do telefone, em 1876, pelo escocês Graham Bell teve um impacto brutal. Mais do que um novo aparelho, a possibilidade de transmitir voz em tempo real deu origem a uma indústria de comunicação — centrais telefônicas, cabeamento subterrâneo e, não menos importante, novos empregos. Poucas profissões, na época, pareciam tão promissoras quanto a de coordenador de centrais telefônicas. Todas as chamadas, invariavelmente, precisavam de intermediação.

Era o coordenador comandando um exército de telefonistas que tinham nas mãos a missão de fazer com que milhares de vozes chegassem, de fato, do outro lado da linha. A continuação da história é conhecida. Proprietários de linhas telefônicas logo puderam realizar ligações ponto a ponto. As chamadas intermediadas diminuíram até desaparecer. E o cargo de coordenador de centrais, durante anos um símbolo dos avanços tecnológicos, sumiu do mapa.

Profissões no mundo da tecnologia, como se vê, não são exatamente terrenos seguros. Tome-se, outra vez, o caso do engenheiro Jairo Avritchir. Apenas três anos depois de assumir o cargo de CIO da Dell no Brasil, algo começou a mudar. Em uma decisão da matriz, as áreas de software e de infraestrutura de tecnologia foram separadas. Parte dos sistemas foi padronizada e terceirizada. Com o tempo, ao CIO regional passou a caber, essencialmente, a execução de ordens vindas da matriz.

Cada vez mais, esse padrão vem se repetindo em empresas de todo o mundo. Serviços que antes eram executados internamente sob a supervisão de CIOs hoje vão parar nas mãos de terceiros. Segundo a consultoria de tecnologia Gartner, foram investidos em 2008 no Brasil 15,8 bilhões de dólares em serviços na área de tecnologia da informação — dinheiro que, em boa medida, antes ficava dentro das empresas. Em 2013, a cifra deve chegar a 22 bilhões de dólares. Tamanho volume de projetos repassados a fornecedores criou um jargão para o novo papel do diretor de TI: “um gestor de contratos”. “Os CIOs viraram uma espécie de rainha da Inglaterra”, diz Avritchir. “Reinam, mas não governam.” Em janeiro, o engenheiro deixou o emprego na Dell. “Voltar a ser CIO é só a última das minhas opções.”


Transformação

Não faltam evidências sobre mudanças no perfil do cargo. “Há dez anos, poderíamos dizer que essa era uma das carreiras mais promissoras, mas hoje ela é apenas mais uma diretoria”, diz Leonardo Salgado, consultor da empresa de pesquisas de remuneração HayGroup. Em 2009, depois de quatro anos como CIO na Allianz Seguros, o paulistano Emilio Vieira, de 48 anos, decidiu sair do emprego. Abriu uma empresa especializada no fornecimento de infraestrutura de tecnologia, a BizTalking, e passou para o outro lado do balcão. “Hoje me sinto realizado”, diz. A motivação para empreender veio da falta de autonomia para executar projetos próprios no antigo cargo. “As coisas até acontecem, mas numa velocidade que eu não estava disposto a esperar”, diz.

Há ainda, no entanto, quem acredite em espaços para realização na profissão. São pessoas como o paulistano Roberto Galdieri, de 47 anos. Em 1999, ele foi contratado para o cargo de CIO do McDonald’s no Brasil. O jogo mudou em 2007 com a compra da rede de fast food no país pelo grupo argentino Woods Staton. Como muitas empresas, o novo dono unificou os sistemas das duas operações. O movimento acabou minando a atuação de Galdieri, que decidiu mudar de emprego. Em fevereiro, vai assumir como CIO na rede de joalherias e lojas de decoração Vivara Etna. “Ainda acredito no poder estratégico do CIO.”

Há outros fatores em jogo quando a questão é o futuro dos CIOs. Fusões e aquisições, especialmente em setores onde a tecnologia da informação é parte essencial do negócio — bancos, telecomunicações, aviação —, estão deixando menos opções de trabalho para os profissionais. Com menos vagas, é menor também o interesse pela formação exigida para o cargo. “O número de profissionais com bagagem para atuar como CIO em setores com alto grau de dependência de TI vem diminuindo”, diz Dominique Einhorn, sócio da área de tecnologia da empresa de recrutamento Heidrick & Struggles. É difícil que, a exemplo dos coordenadores de centrais telefônicas, esses cargos estejam próximos da extinção. Mas cada vez mais gente aposta que os diretores de TI terão, daqui para a frente, de habituar-se ao papel de coadjuvante.

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