Bíblia Sagrada (Stock.xchng/Reprodução)
Redatora
Publicado em 11 de dezembro de 2025 às 19h33.
Um movimento internacional acelera projetos de tradução da Bíblia para chegar a cerca de 7 mil idiomas até 2033. A estratégia reúne missões cristãs, linguistas e modelos de inteligência artificial para ampliar o acesso às escrituras.
Atualmente, toda a Bíblia está disponível em pouco mais de 750 línguas, mas, de acordo com informações do The Economist, grupos religiosos afirmam que a meta exige novas tecnologias para lidar com idiomas pouco documentados.
Organizações missionárias destacam que ferramentas de IA reduzem o tempo de produção. A tradução tradicional do Novo Testamento pode levar muitos anos quando feita por equipes humanas. Até o fim dos anos 1990, estimava-se que seriam necessários 150 anos para iniciar projetos de tradução em todos os idiomas faltantes.
Com modelos linguísticos treinados para idiomas raros, esse prazo pode cair para cerca de dois anos. Para o Antigo Testamento, estimativas apontam algo em torno de seis anos.
A IllumiNations, coalizão que reúne agências de tradução religiosa, afirma ter avançado em mais da metade da meta para 2033. A iniciativa recebeu quase US$ 500 milhões ao longo da última década para financiar o trabalho.
A virada tecnológica ganhou força quando a Meta liberou, em 2022, um modelo de tradução com licença aberta. A ferramenta foi criada para melhorar produtos digitais em idiomas africanos e asiáticos. Missões cristãs logo adaptaram o modelo para textos bíblicos.
Especialistas em linguística afirmam que modelos de IA dependem de material prévio em cada idioma. Línguas de baixo recurso têm poucos textos disponíveis. Nesse caso, tradutores precisam criar trechos paralelos manualmente para treinar o sistema. A busca atual é definir o volume mínimo necessário para obter resultados utilizáveis.
A IA também enfrenta limites culturais e semânticos. Expressões teológicas variam segundo a visão de cada comunidade. Termos como “aríete” não possuem equivalentes diretos em muitos idiomas. Em alguns casos, tradutores recorrem a descrições longas para manter o sentido original.
Há ainda diferenças culturais na interpretação de metáforas e símbolos religiosos. Em certas regiões da Papua-Nova Guiné, por exemplo, o “centro” do ser humano não é o coração, mas o fígado ou o estômago. Por isso, expressões como “receber Jesus no coração” precisam de adaptações locais.
Diante desses impasses, alguns grupos questionam o uso de modelos de IA em um processo considerado espiritual. Eles temem que a tecnologia assuma funções atribuídas à inspiração religiosa. Já defensores da ferramenta afirmam que o trabalho final ainda depende de revisão humana. O processo inclui checagens gramaticais, ajustes teológicos e análise de coerência textual.
Além da motivação prática, há razões doutrinárias para acelerar o projeto. Parte dos cristãos interpreta que a difusão da Bíblia em todos os idiomas deve ocorrer antes da volta de Cristo. Outros entendem a iniciativa como um dever missionário.