Apartamentos da Yuca, startup do mercado imobiliário de compartilhamento de apartamentos (Yuca/Divulgação)
Karin Salomão
Publicado em 8 de junho de 2020 às 06h00.
A Yuca, startup do mercado imobiliário, acredita que cada vez mais as pessoas vão querer compartilhar espaços - até a sua casa. Mesmo com a pandemia do novo coronavírus e as medidas de isolamento social, a startup de compartilhamento de apartamentos continua com lista de espera de interessados e de investidores. A empresa foi criada em 2019 e hoje, tem 70 quartos para locação em 45 apartamentos. Há 800 pessoas cadastradas na fila de espera para dividir a casa com outras cinco pessoas.
Para Rafael Steinbruch, cofundador e diretor de mercado imobiliário da Yuca, o processo de alugar um apartamento é pouco profissional e muito trabalhoso. Não há muitas grandes empresas que intermediem a conversa entre locador e locatário. Além disso, os apartamentos muitas vezes precisam de reformas ou investimentos em manutenção, mas que o proprietário não quer realizar.
Por isso, centralizar o processo em uma empresa maior, responsável por gerir e manter os apartamentos em ordem, pode ser melhor para o morador e até mais barato. A startup cuida da limpeza, pagamentos de boletos, condomínio e IPTU. Os apartamentos também vêm mobiliados com uma cozinha completa, sala de televisão e quartos com escrivaninha.
Outra vantagem de centralizar as operações em uma grande empresa é ganhar escala para a reforma. Os mesmos materiais são usados em diversos projetos. As obras começaram custando 1.800 reais por metro quadrado e hoje o custo é de 1.500 reais por metro quadrado.
Steinbruch trabalhou por cinco anos na Starwood Capital Group, um fundo global de investimento imobiliário com mais de 60 bilhões de dólares de patrimônio sob gestão
Sediado em Nova York, ele percebeu que a grande tendência do mercado nos últimos anos era a volta da valorização da vida nas grandes cidades. Os americanos passaram as últimas décadas indo em direção aos subúrbios.
Hoje, a geração Y, ou Millenials, voltou a ocupar a cidade - e de forma mais colaborativa. A nova geração também compra menos imóveis - por motivos culturais ou mesmo financeiros. O mesmo estava acontecendo no Brasil: há um interesse maior de morar no centro das cidades, para perder menos tempo no trajeto até o trabalho.
Em 2019, Steinbruch deixou os Estados Unidos e veio para o Brasil. Com apenas uma ideia e ao lado dos sócios Paulo Bichucher e Eduardo Brennand Campos, fundou a Yuca e captou 6 milhões de dólares em sua rodada de seed liderada pela Monashees e com participação de Creditas, ONEVC, Montage e importantes investidores anjo.
A Yuca está concentrada na região oeste da cidade de São Paulo, onde muitos prédios são antigos e grandes - eram construídos para abrigar famílias, com uma ou mais crianças, e frequentemente possuem uma grande área de serviço. As famílias já não têm mais essa configuração e esses apartamentos, caros, ficam parados sem moradores ou compradores. A Yuca compra ou aluga esses imóveis a um preço médio de 6.000 reais o metro quadrado, mais baixo do que a média da região.
A sala, área e quartos são divididos em cômodos menores para aluguel. Até os banheiros podem ser divididos, para que cada pessoa tenha seu próprio banheiro. Ao reorganizar o espaço interno de um apartamento grande, a startup acredita que consegue alugar um quarto por um custo muito inferior ao de um estúdio para uma pessoa só.
A aventura de dividir apartamentos com desconhecidos não é nova, mas por enquanto atrai principalmente jovens adultos. O público na Yuca está entre os 21 a 35 anos, na média.
Como São Paulo é uma cidade comercial, cerca de 50% dos inquilinos da Yuca são de fora da cidade. A Yuca se propõe a criar vínculos entre os moradores de uma mesma casa, o que não aconteceria em apartamentos individuais.
Para alugar um apartamento pela Yuca, é necessário ser admitido pela empresa. O candidato preenche um questionário sobre seus hábitos para ser direcionado para a casa, ou comunidade, que melhor se adequa.
Se de um lado estão os moradores, do outro estão os inquilinos ou mesmo investidores. A Yuca buscou investidores interessados em adquirir cotas de dois apartamentos que serão reformados e colocados para locação.
A plataforma usada foi a Bloxs Investimentos, plataforma de investimentos alternativos regulada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários). A taxa de retorno prevista é de 22,8% ao ano.
Mesmo com a pandemia do novo coronavírus, Steinbruch acredita que as pessoas continuam interessadas em dividir um apartamento. No entanto, estão postergando a decisão de se mudar para o fim da crise.
Para o cofundador, com a ampliação de trabalho em home office, o trabalho ficou mais flexível e, com isso, o entorno perto de casa ganha mais relevância - por isso, os apartamentos da Yuca em bairros nobres teriam vantagem. Além disso, com mais tempo em casa, as pessoas tendem a buscar companhia, que pode vir na forma de colegas de apartamento, acredita.
"Como empresa jovem, não podemos olhar apenas para os próximos seis meses, precisamos ver o horizonte de cinco anos", diz Steinbruch. "As pessoas querem espaços mais confortáveis e centrais para morar, mas para muitos isso não é acessível. Compartilhando o apartamento, passa a ser."