Startup cria opção grátis para bares e restaurantes venderem pelo WhatsApp
A startup Goomer, antes especializada em autoatendimento, lançou em dias uma ferramenta de cardápio online. O projeto ganhou apoio da cervejaria Heineken
Carolina Riveira
Publicado em 9 de abril de 2020 às 19h18.
Última atualização em 10 de abril de 2020 às 01h51.
A noite desta quinta-feira, 9, véspera de feriado, terá ruas vazias nas maiores cidades do Brasil. E da lista de empresas duramente afetadas em meio a este isolamento forçado, bares e restaurantes figuram entre os mais penalizados: antes lugares de socialização, os espaços estão majoritariamente fechados ou trabalhando somente com entregas.
Na teoria, dá para salvar parte das vendas do mês focando as operações no delivery. Na prática, a realidade é mais dura. Pequenos e grandes estabelecimentos encontram dificuldades para realizar vendas online, já que muitos não tinham uma estrutura montada para a internet e, agora, precisam partir às pressas para o e-commerce.
Foi ao ouvir os problemas de alguns desses estabelecimentos que o empresário Felipe Lo Sardo e sua equipe decidiram criar uma opção para facilitar as vendas online do comércio. Lo Sardo é fundador e presidente da startup Goomer, especializada em digitalização de restaurantes e terminais de autoatendimento -- com clientes como KFC, Spoleto e Jeronimo Burger.
Em poucos dias, a empresa conseguiu colocar no ar a ferramenta GoomerGo, que permite aos estabelecimentos publicar seu cardápio online e receber pedidos de forma automática pelo WhatsApp . Com duas semanas no ar, a plataforma já atraiu mais de 2.500 estabelecimentos. "A projeção é chegar a 10.000 já em meados de abril", diz Lo Sardo.
Todo o intuito da ferramenta é possibilitar que estes pequenos negócios, que não tinham operação online, possam vender pela internet de forma mais organizada -- e não recebendo vários pedidos despadronizados no WhatsApp ou com cardápios pouco profissionais, como é comum em pequenos negócios. "O cliente vai lá e pergunta se tem tal sabor, se pode trocar, quanto custa para adicionar um extra... Só nisso, o restaurante perde muito tempo. Na plataforma, na hora de fazer o pedido, já é possível checar todas essas informações", diz Lo Sardo.
A startup diz que, com o GoomerGo, consegue aumentar as vendas do estabelecimento em 20% na internet em relação ao uso comum e sem tecnologia do cardápio e do WhatsApp.
Não há um aplicativo da Goomer que reúne os restaurantes, como no caso de iFood, Rappi ou UberEats. Para vender, o estabelecimento precisa divulgar o link de seu cardápio na Goomer para os clientes. Depois, o cliente faz o pedido de forma padronizada, com as ferramentas da interface da Goomer, adaptadas para cada restaurante. Por fim, a plataforma gera um texto no WhatsApp de forma padronizada, que o cliente envia ao restaurante.
Transferido o pedido para o WhatsApp, o cliente e o atendente do restaurante podem continuar conversando. A entrega fica por conta do próprio estabelecimento -- como muitos não tinham essa estrutura, há casos em que o delivery é feito até por amigos ou parentes do pequeno comerciante, conta Lo Sardo. Tudo vale na hora de vender. Os estabelecimentos também podem usar o GoomerGo com a opção de retirada no próprio local. Se optar por essa modalidade, o cliente ganha um desconto.
Com as funcionalidades da nova plataforma, a Goomer conseguiu uma parceria com a cervejaria Heineken , que está incentivando os milhares de bares e restaurantes que vendem a cerveja a oferecerem os produtos online. A Heineken também vai patrocinar a divulgação dos cardápios na GoomerGo por meio de seu time de vendas.
"A plataforma GoomerGo surge como uma solução importante para os bares e restaurantes menores que muitas vezes não possuem nenhuma forma de e-commerce", disse em nota à EXAME Jussara Calife, diretora de Trade On Premisse e Off Premise do Grupo Heineken no Brasil. O objetivo, diz a cervejaria holandesa, é ajudar os pequenos negócios a se manterem rentáveis em meio à pandemia.
Mesmo antes do começo oficial da quarentena, bares, restaurantes e outros pontos comerciais físicos já viam a operação ser amplamente reduzida. Em meados de março, a Goomer já notava queda de 25% nos pedidos em seus terminais físicos. O segmento de bares e restaurantes teve queda de 43,4% do começo de março até o dia 6 de abril, segundo dados da Cielo. A venda de bebidas alcoólicas também caiu 52% na segunda quinzena de março, de acordo com a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe).
Tecnologia nos restaurantes
Lo Sardo e os colegas Rafael Laganaro e Daniel Wassano, co-fundadores e hoje também diretores da Goomer, começaram a trajetória no empreendedorismo em 2014. Naquele ano, criaram serviços de autoatendimento para facilitar check-in e check-out em hotéis -- em meio ao auge do otimismo com o turismo no Brasil com Copa do Mundo daquele ano e as Olimpíadas de 2016.
A relação com os hotéis os fez se aproximar dos restaurantes nos locais. Foi no setor de alimentação que o trio percebeu que havia uma oportunidade para ajudar os espaços na digitalização. "Os restaurantes ainda não haviam feito mudanças de tecnologia para aprimorar seus processos, e viam a margem que era de 20% cair para 15%, 10%", diz Lo Sardo.
A Goomer trouxe então processos como cardápio em tablets e celulares para o garçom, tornando os pedidos cerca de 30% mais rápidos. O fundador conta que muitos restaurantes tinham medo de, ao implementar a tecnologia, perder a humanização no contato com o cliente. "Com o uso, eles viram que, se o garçom gasta menos tempo anotando os pedidos, sobra mais espaço para um melhor atendimento", diz Lo Sardo.
Depois do cardápio automatizado, a empresa lançou sua ferramenta mais conhecida até hoje, que são os terminais de autoatendimento. "Vimos que havia espaço também para melhorar as praças de alimentação, onde havia muita fila e atendimento ruim", diz o presidente. Dentre os clientes das ferramentas de digitalização da Goomer, estão nomes como Madero, KFC, Gendai e Jeronimo Burger (neste último, todo o pedido é feito pelo próprio cliente nos terminais).
Com os dados que coleta com o autoatendimento, a Goomer quer cada vez mais ajudar os restaurantes a otimizar o cardápio e a relação com os clientes como um todo. "Ninguém mais acha bom ir a um restaurante e encontrar um cardápio com dezenas de opções que você nem sabe o que é. Ajudamos os lugares a conhecer o que de fato o cliente quer", diz Lo Sardo.
A ideia de lançar uma ferramenta de contato direto com os clientes como a GoomerGo já existia antes do coronavírus, embora a empresa ainda não estivesse certa sobre qual formato usar. Mas o plano foi acelerado -- e as dúvidas foram solucionadas -- em meio à pandemia e pela própria demanda das empresas clientes.
A briga no mercado de refeições online, no entanto, está longe de ser fácil -- e fez até a espanhola Glovo desistir do Brasil em 2018. Neste cenário, há espaço para brigar com nomes como Rappi, iFood e UberEats depois da pandemia? Lo Sardo afirma que em plataformas mais consolidadas de delivery, é difícil para os pequenos restaurantes se destacarem e conseguirem fidelizar um cliente em meio a tantas opções.
Na visão do fundador da Goomer, a maior vantagem do GoomerGo é possibilitar ao restaurante ou bar continuar mantendo contato direto com seu cliente via WhatsApp, sem depender somente da plataforma. "Eu te diria que, há algumas semanas, realmente não dava para brigar com outras ferramentas mais estabelecidas", diz Lo Sardo. "Mas tudo mudou em 15 dias."