Sócios-fundadores da healthtech Alice: Guilherme Azevedo (à esq.), André Florence e Matheus Moraes: esde a fundação, a empresa já recebeu 47,8 milhões de dólares de investimento (Alice/Divulgação)
Marcelo Sakate
Publicado em 23 de fevereiro de 2021 às 10h01.
Última atualização em 23 de fevereiro de 2021 às 12h25.
A heathtech Alice, startup que faz a gestão da saúde de seus pacientes, anuncia nesta terça-feira, 23, uma parceria com o Einstein, um dos melhores hospitais do país. Todas as unidades do Einstein passam a fazer parte da rede de atendimento da Alice.
A parceria vai ajudar a desenvolver e funcionar com um modelo inovador chamado de “saúde baseada em resultados”, ou value-based healthcare, em inglês. É o uso dos incentivos mais apropriados para que a cadeia de tratamentos médicos possa perseguir o benefício daquele que é o principal interessado: o paciente.
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O anúncio com o Einstein acontece apenas duas semanas depois da divulgação de um aporte de 33,3 milhões de dólares (cerca de 180 milhões de reais) de fundos dedicados a startups como parte de uma rodada de captação Series B.
“Esse passo da Alice representa muito mais que uma parceria. Estamos falando de avançar com um modelo efetivo de 'value-based healthcare' do país”, disse André Florence, cofundador e CEO da Alice, em entrevista à EXAME.
"O Einstein é o parceiro ideal para desenvolver esse modelo, que é algo extremamente inovador. Ele tem como base quatro pilares: remuneração, integração de dados, integração clínica e integração operacional", completou.
Na prática, o Einstein será remunerado com base em critérios objetivos que reflitam a recuperação e o bem-estar de pacientes – ou membros, como a healthtech prefere se referir – da Alice. Os critérios são chamados de “desfechos clínicos e de experiência”.
São indicadores como taxa de complicação, taxa de infecção da cirurgia, tempo da cirurgia e até a melhora do Índice de Massa Corporal, entre outros. Ou seja, o objetivo é fazer uso de incentivos que reflitam a melhora na saúde dos pacientes, em vez dos que são comuns na relação de operadora de saúde com hospitais.
Florence faz a ressalva de que a saúde de uma pessoa não é necessariamente traduzida pela ausência de atendimentos e diz que um dos objetivos da startup é evitar ter que negar acessos a hospitais, laboratórios e médicos. “Sabemos que a ida ao médico, quando necessária, ajuda a prevenir o agravamento da doença.”
Um dos critérios será o grau de satisfação do paciente, medido por meio do Net Promoter Score (NPS), uma métrica universal de experiência do usuário.
No modelo recorrente do setor, hospitais conveniados são remunerados pela quantidade de atendimentos prestados, além dos dias de internação. É um modelo que pode levar a um desalinhamento de interesses entre as partes.
“O Einstein está entusiasmado com essa parceria, cujo modelo foi desenhado para melhorar a experiência das pessoas, contribuir para desfechos clínicos melhores e buscar mais eficiência no uso de recursos”, afirmou Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.
Para o hospital, o ganho se dará com a remuneração da healthtech em caso de pacientes mais saudáveis, além do giro maior em suas dependências.
O modelo da saúde com base em resultados já tem sido adotado pela healhtech desde que começou a funcionar em julho do ano passado. A Alice conta com uma base atual de 1.100 clientes -- ou membros – , cujo tempo de atendimento ajuda a aprimorar o modelo de medicina preventiva com base em dados, com modelos preditivos.
O conceito de "saúde baseada em valor" foi proposto em 2006 por Michael Porter, o consagrado especialista em estratégia de negócios, e Elizabeth Teisberg, ambos professores da HBS, a Escola de Negócios de Harvard. A tese é que o sistema de saúde deve considerar a qualidade do serviço prestado ao paciente e o resultado de melhora de saúde, de modo a melhorar a eficiência do uso dos recursos.
Apesar do pouco tempo da heathtech – cerca de nove meses apenas –, alguns resultados já servem como uma espécie de prévia: 81% dos pacientes melhoraram sua saúde mental, 71% apresentaram uma melhora em sua qualidade de vida como um todo e 47% dos membros obesos deixaram essa condição.
Os planos de saúde da Alice são customizados pelo paciente de acordo com a escolha de hospitais, maternidades – e o tipo de acomodação – e laboratórios, por meio do aplicativo, do site ou de telefone. Entram variáveis como a idade do cliente, o CEP de residência e se possui algum outro plano de saúde, empresarial, por exemplo.
Feita essa etapa, o paciente (membro) passa por uma consulta online ou presencial com o chamado Time de Saúde. É uma equipe que irá acompanhá-lo dali por diante, com um médico, um enfermeiro, um nutricionista e um preparador físico. E que vai então montar um plano de ação com base nos objetivos de saúde da pessoa.
Outro pilar fundamental do modelo da Alice e que também destoa do que acontece nas operadoras de saúde convencional é a rede com médicos especialistas: com base em uma relação que prevê a construção de protocolos de atendimento, a healthtech conseguiu atrair médicos que só costumavam atender pacientes particulares: 75% do corpo hoje credenciado não atende nenhum plano ou outras empresas.
O CEO da Alice também falou dos planos para o médio prazo: continuar a ganhar escala para aperfeiçoar e ampliar a acuracidade do modelo preditivo de tratamento, algo que, segundo ele, vai atingir um ponto ótimo a partir de 50.000 pessoas.
No caminho para atingir essa marca, novas parcerias com hospitais e laboratórios serão acertadas, ao mesmo tempo em que o principal desafio será manter a qualidade do atendimento aos pacientes-membros da Alice, afirma Florence.
Também faz parte do plano funcionar como uma plataforma one stop shop de saúde, ou seja, um “lugar” em que o paciente possa não só receber o acompanhamento médico tradicional como cuidar da mente com sessões de meditação, passar por exames para medir a qualidade do sono e se consultar com nutricionistas, por exemplo.
Além de Florence, são cofundadores da Alice os empreendedores Guilherme Azevedo (um dos fundadores do Dr. Consulta, do qual ainda é um dos acionistas) e Matheus Moraes, chefe de Operações da heathtech e que ocupou o mesmo cargo também na 99.