(Spencer Platt/Getty Images)
Carolina Ingizza
Publicado em 27 de janeiro de 2021 às 13h41.
Última atualização em 27 de janeiro de 2021 às 19h02.
Desafiando todas as expectativas dos analistas, as ações da varejista americana de games GameStop subiram mais de 750% desde o começo de janeiro até o pregão da terça-feira, 27. A alta súbita dos papéis está no centro das discussões do mercado financeiro do mundo todo. Isso porque ela é fruto de uma disputa entre os investidores que apostaram na queda das ações — os short sellers, no jargão do mercado — versus um grupo de day traders de um fórum do Reddit para promover a compra do papel.
A disputa envolve ainda várias estrelas do mercado. O americano Michael Burry, que teve sua história contada no filme A Grande Aposta, foi um dos que se beneficiaram da alta dos papéis. Ele obteve uma valorização de cerca de 1.500% ao comprar e reter ações da empresa. O bilionário Elon Musk, na terça-feira, 27, entrou na história ao tuitar sobre a empresa, colocando mais gasolina na disputa.
Todo o debate sobre as ações da companhia e uma possível bolha em alguns ativos do mercado gerou dúvidas para muitos brasileiros não familiarizados com o mercado de games.
A varejista americana é considerada a maior do mundo no seu segmento, com mais de 5.000 lojas em dez países. Ela vende jogos e consoles de videogames desde 1984, quando abriu sua primeira loja em Dallas, no Texas, ainda sob o nome de Babbage's.
A empresa foi vendida para a rede de livrarias americana Barnes & Noble em 1999 e pouco depois fez uma fusão com a concorrente Funco. Foi só em 2000 que a companhia adotou o nome de GameStop. Dois anos mais tarde, a empresa abriu o capital na bolsa de Nova York, levantando 325 milhões de dólares.
De lá para cá, o mercado de games mudou bastante. Os jogadores que antes dependiam da compra física dos jogos, agora podem fazer o download dos títulos diretamente nos consoles ou nas lojas online de jogos para computador. Na última década, a varejista tentou se adaptar, criando produtos online, modelos de fidelidade para clientes e até mesmo um centro de treinamento para jogadores profissionais de e-sports.
Para muitos analistas, as perspectivas de futuro para o negócio eram muito reduzidas, quase como se a GameStop fosse uma "Blockbuster dos games" — querida para os consumidores, mas com um modelo de negócios fadado a ser substituído por alternativas digitais. Segundo a consultoria IDC, as vendas de jogos físicos, que representavam 60% do mercado em 2016, caíram para 29% em 2020.
O cenário, que já não era ótimo, foi piorado pela pandemia. Grande parte das lojas da GameStop fica em shoppings centers, que foram duramente afetados pelas medidas de isolamento social para conter o vírus. Em setembro de 2020, a companhia anunciou o fechamento de 450 lojas globalmente e disse que considerava encerrar mais operações em 2021, a depender do cenário.
Em paralelo, a rede continuou apostando no digital. No segundo trimestre do ano passado, impulsionada pela covid-19, a receita com vendas online da empresa subiu 800% e passou a corresponder a cerca de 20% do total. Em outubro, ela anunciou uma parceria com a Microsoft para que recebesse uma porcentagem das vendas dos jogos que forem vendidos em videogames comprados em suas lojas. O lançamento de novos modelos dos consoles PlayStation e Xbox também ajudou nas vendas do negócio no final do ano, ainda que as receitas tenham ficado 3,1% abaixo no período.
A alta das ações agora, no entanto, nada está relacionada com os planos da companhia para se inserir na economia digital. A disputa dos investidores é mais motivada por um desejo de fazer o outro lado perder do que por uma análise das chances da GameStop crescer. A expectativa dos analistas americanos é que, quando a empresa divulgar seu balanço em março, o preço da ação retorne para o patamar anterior ao boom.
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