(Midori De Lucca/WeWork/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 2 de abril de 2018 às 06h00.
Última atualização em 2 de abril de 2018 às 06h00.
São Paulo - No tempo de uma gestação, a WeWork se tornou fonte de inspiração (e de inveja) de muitas imobiliárias. Cada novo prédio empresarial que a empresa global inaugura no Rio de Janeiro ou em São Paulo vende seus espaços rapidamente. Com a demanda, os olhos da empresa de comunidade e coworking já se abriram para mais oportunidades de expandir seu império por aqui - e não apenas em seus próprios escritórios.
A procura por seus espaços fez com que, em nove meses de operação, o Brasil se tornasse já o quinto mercado da WeWork, avaliada em 20 bilhões de dólares e com 210 mil membros em 21 países. As receitas crescem rapidamente, podendo chegar a 2,3 bilhões de dólares neste ano.
Em terras brasileiras, há sete prédios e 6,5 mil membros cariocas e paulistas associados. Agora, a empresa global pretende abrir prédios em Belo Horizonte (Minas Gerais) e anunciou o lançamento de um programa para startups e outro para gigantes que querem replicar “o jeito WeWork de ser.”
Em essência, a WeWork é uma imobiliária focada em espaços de coworking. Ela aluga um espaço, faz reformas e subloca posições a empreendedores e funcionários. Seus críticos argumentam que a empresa não possui ativos tangíveis e está exposta a novatas concorrentes.
Tanto seu fundador, Adam Neumann, quanto os funcionários com quem EXAME conversou ao visitar a unidade da WeWork na Avenida Paulista (São Paulo) refutam a falta de diferenciais. Para eles, a WeWork não é apenas uma empresa de coworking, mas de “comunidade.”
Tudo começa no design de cada edifício, que é planejado para integrar-se ao seu público. Enquanto o escritório da WeWork na Avenida Paulista se inspira na Semana de Arte Moderna de 1922, por conta da proximidade com o Museu de Arte de São Paulo (MASP), o espaço de Ipanema (Rio de Janeiro) conta com a mistura entre um mural praiano e móveis de estilo colonial.
Depois que os prédios ficam prontos, os próprios inquilinos ajudam a formar o conceito de comunidade. Projetos recém-criados, startups em fase de expansão, mentores, fundos de investimento e gigantes de olho em novas tecnologias ocupam não apenas seus escritórios, mas espaços comuns de descontração e de eventos sobre o ecossistema empreendedor.
No WeWork Paulista, as máquinas de chope e as poltronas dividem o espaço com um mural em que se lê “DESOBEDEÇA” e pessoas colando post-its abaixo de palavras como “inspirado”, “empreendedor” e “obstinado”.
Vale lembrar que os membros da WeWork podem trabalhar em qualquer prédio da empresa pelo mundo, expandindo ainda mais suas redes de relacionamento.
“Somos um catalisador da expansão dos negócios próprios, ajudando comunidades a irem para frente. Fazemos não só porque nos importamos e é a coisa certa a ser feita, mas também porque também é proveitoso financeiramente. Quando esses dois aspectos se unem, qualquer estratégia se torna muito interessante”, afirma Roee Adler, head global do WeWork Labs. A margem de lucro, segundo a WeWork, é de mais de 40%.
Adler está por trás da primeira novidade para a WeWork construir seu império no Brasil em 2018: o WeWork Labs, iniciativa voltada a quem está começando seu negócio e não encontra chances de participar de uma aceleração ou incubação.
O programa surgiu para alguns mercados em 2011, quando os planos de expansão internacional do WeWork se tornaram mais prioritários. Hoje, com seu crescimento já estruturado, a empresa relançou o WeWork Labs.
“Em muitos países, especialmente na região da América Latina, podemos fazer o maior impacto possível ao preparar donos de negócio em seus primeiros passos. Muitos desejam abrir sua startup, mas não possuem apoio para tal”, afirma Adler.
Alguns dos benefícios descritos são conexões (nacionais e internacionais), mentorias e preços mais atrativos às startups iniciantes. A média de valores para quem participa do WeWork Labs e quer uma mesa dedicada deverá se aproximar do preço praticado na modalidade coletiva “hot desk”, de 750 reais mensais.
Até o fim deste ano, a WeWork espera que a comunidade brasileira do WeWork Labs se torne a maior do mundo. Confira mais detalhes sobre o WeWork Labs na entrevista que EXAME realizou com Roee Adler:
A WeWork já se relaciona com empresas maiores há tempo, com residentes como a gigante de energia EDP. Alguns destaques dessa relação com as grandes foram a criação da Estação Hack, um andar inteiro do WeWork Paulista feito para o Facebook, e a inauguração de um prédio para startups do Bradesco com o selo da WeWork, chamado Habitat.
Agora, a empresa de comunidade e coworking lançará uma iniciativa para levar “o jeito WeWork de ser” para dentro dos escritórios de grandes empresas. O programa, chamado de Powered by We, começará neste ano em terras brasileiras.
“Às vezes, quando empresas chegam à WeWork, sentem a energia, a conexão com os residentes, os sorrisos dos empreendedores e funcionários e se perguntam se é possível fazer a mesma coisa em suas sedes. Nós nos perguntamos a mesma coisa há anos”, afirma Adler.
Apenas recentemente o negócio separou uma agenda para estruturar um programa que poderia trazer a “hospitalidade da comunidade” e a “gestão e tecnologia ao gerir espaços” para locais diferentes.
“As grandes companhias são uma parte importante em nosso negócio. Mas é impossível, fisicamente, abrigar todos que demandam nossos locais e o crescimento dessas empresas”, completa Lucas Mendes, diretor da WeWork no Brasil. “Se somos mais uma comunidade do que um simples espaço, concluímos que também poderíamos provocar mudanças nas sedes dessas gigantes. Agora, estamos prontos para levar nossa solução para outros locais.”
Com a união do WeWork Labs e do Powered by We, a WeWork planeja atender toda a cadeia de empreendedores - dos mais iniciantes aos mais avançados.
“Esperamos, até o fim do ano, ser uma das maiores comunidades globais de apoio às empresas. Nossa competição não é com outros, e sim com nós mesmos: com quanto podemos superar nossas próprias metas de crescimento”, retoma Adler.
Esse senso de lealdade à comunidade e o interesse das grandes empresas nas inovações será suficiente para fazer a WeWork provar que não é apenas uma imobiliária para os críticos? Só o tempo, as movimentações do mercado imobiliário e o apetite dos investidores poderão dizer.