Warner Bros.Discovery: fusão pronta para desafiar Disney e Netflix
O surgimento desse novo colosso global das telecomunicações é um exemplo de força, mas também uma história de fraqueza.
Carlo Cauti
Publicado em 18 de abril de 2022 às 16h36.
Última atualização em 20 de abril de 2022 às 12h13.
Poucas horas depois de ter anunciado a fusão entre WarnerMedia e Discovery, o novo CEO, David Zaslav, declarou que "A empresa vai ser diferente daqui a um ano. O mundo está mudando. Mas esta é uma grande empresa".
A operação, na verdade, foi uma compra pela Discovery da subsidiária de mídia da AT&T e legado da Time Warner, por um valor de US$ 43 bilhões (entre dinheiro, ações e assunção de dívidas).
Surgiu assim um colosso midiático em escala global, com objetivos ambiciosos. Mesmo assim, o futuro não vai ser fácil.
Gigante da mídia
Com essa fusão foram juntados os estúdios de Hollywood da Warner Bros, os canais TBS e TNT (focados no esporte) assim como o Cartoon Network, CNN, HBO e HBO MAX vindos da AT&T juntamente com Food Network, Hgtv, Tlc, Animal Planet, Own de Oprah Winfrey ou mesmo Eurosport no portfólio da Discovery.
Listada em Wall Street, anova empresa, chamada de "Warner Bros.Discovery" é agora 71% de propriedade dos acionistas da AT&T e 29% dos acionistas da Discovery, incluindo o magnata John Malone.
Os mercados parecem ter aprovado a operação, pelo menos a julgar pelo desempenho da primeira semana de negociação, com a ação que fechou em alta de +3,49%, dando um valor de mercado para a nova empresa de US$ 60 bilhões.
A própria AT&T subiu 9,37%, alcançando uma capitalização de mercado de US$ 139 bilhões.
Aposta em conteúdos originais
O pilar de toda a aposta é o conteúdo original, tanto das produções cinematográficas como televisivas, roteirizado (típicas da WarnerMedia) e não roteirizado (características do Discovery).
O surgimento desse novo colosso global é um exemplo de força, mas também uma história de fraqueza.
Uma reviravolta para a americana AT&T, gigante global das telecomunicações.
A empresa poderia gerar US$ 120 bilhões em receita todos os anos, mas seu balanço sofreu de forma aguda após a aquisição da Time Warner por US$ 85,4 bilhões em 2016.
Uma compra cara que, entretanto, não foi acompanhada de uma mudança adequada de modelo de negócios.
Além disso, quando a AT&T foi forçada a lutar no mesmo terreno que gigantes como Netflix ou Disney, que têm seu core business na atividade de mídia e produção de conteúdo, e não nas telecomunicações, não segurou o nível da competição.
Agora, essa situação não muda o princípio básico da necessidade de convergência entre empresas de mídia e de telecomunicação, que permanece válido.
A ideia de combinar a conectividade com os serviços com maior valor agregado, tentando manter baixo o parâmetro em que se concentram as expectativas e preocupações de todos: o chamado "churn", ou seja, a taxa de abandono.
Mas fica difícil ter dois "core business", negócios principais, ao mesmo tempo.
O capítulo das sinergias
No entanto, mesmo criando um novo gigante da mídia, o acordo resultou em uma herança maldita para a Warner Bros.Discovery: uma dívida de cerca de US$ 50 bilhões.
Para o CEO Zaslav, esse não seria um problema, pois seria possível realizar uma economia de US$ 3 bilhões já no primeiro ano.
Um dos objetivos planejados, que também significará que "em algumas áreas haverá menos pessoas do que hoje". Em bom português: demissões.
No primeiro escalão, as escolhas já foram feitas: nove executivos já saíram, entre eles, o CEO da WarnerMedia, Jason Kilar, e a chefe dos estúdios, Ann Sarnoff.
O primeiro encontro com investidores, marcado para 18 de maio, será a primeira oportunidade de mostrar qual será a oferta com a qual a nova gigante pretende brigar em um mercado que teria um faturamento previsto de US$ 53 bilhões.
Primeiro desafio: o streaming
O primeiro grande desafio é o streaming para a Warner Bros.Discovery.
Os serviços HBO e HBO Max do lado da Warner, juntos com o Discovery+ do outro, já têm 96 milhões de assinantes ao todo.
Parecem muitos, mas são menos da metade da concorrência.
Para se ter uma ideia, em comparação, a Netflix chega a 222 milhões e a Disney (incluindo também a ESPM) chega a 196 milhões.
Sobre esse ponto, Zaslav foi claro: é preciso simplificar, avançar para a unificação dos serviços.
Tudo isso a partir de uma posição que no mercado norte-americano (o único onde faz sentido fazer comparações com os concorrentes) não é nada mal.
Isso pois Discovery+, HBO e HBO Max valem 18,3% da participação de mercado de assinaturas nos EUA: apenas 1,5 ponto porcentual atrás do líder Disney+ (19,8%). Além disso, a Warner Bros.Discovery também possui o Eurosport Player e CNN+.
A saída do ex-CEO da WarnerMedia, Jason Kilar, criador do “projeto pipoca” é sintomática. O plano levou ao lançamento de filmes da Warner simultaneamente nos cinemas e na HBO Max em 2021. Foi um fracasso retumbante.
Com a atual situação, ainda mais abalada pelos efeitos da Covid-19, fica difícil prever se a longo prazo serão feitas escolhas de diferentes equilíbrios entre a sala e as plataformas.
Foco na oferta esportiva
Com certeza um ponto-chave será a oferta esportiva.
Os direitos para a transmissão das Olimpíadas na Europa terminam em 2024.
No mesmo ano, expiram os direitos que Turner tem nos EUA sobre a NBA.
Por outro lado, a Discovery está em negociações exclusivas há algum tempo para adquirir a Bt Sports.
A ideia é fortalecer a Warner Bros.Discovery