Vivi Duarte, CEO da Plano Feminino e head no Facebook (//Divulgação)
Marina Filippe
Publicado em 2 de junho de 2021 às 10h29.
Última atualização em 2 de junho de 2021 às 10h44.
A empresa de tecnologia Facebook acaba de anunciar Vivi Duarte como Head of Connection Planning para América Latina, uma posição inédita na região.
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A executiva que deixou o cargo de presidente do BuzzFeed Brasil, e tem um livro previsto para outubro, será responsável pela criação de projetos e narrativas estratégicas para suportar os negócios de clientes e parceiros, conectando times internos, conversar sobre consumidores e produtos e criação de valor para marcas.
Vivi Duarte é também jornalista e fundadora da consultoria Plano Feminino, que há 10 anos ajudar as marcas de diferentes segmentos a construirem narrativas com propósito e se desdobra no braço social que capacita meninas da periferia para o mercado de trabalho. Sobre as iniciativas e a importância da diversidade e inclusão nas equipes ela falou com exclusividade à EXAME. "A pandemia reforçou como as empresas têm responsabilidade com a sociedade", diz.
Qual a expectativa para este cargo inédito no Facebook?
Ser convidada para ocupar um cargo inédito na América Latina em uma das maiores companhias de tecnologia e plataformas sociais do mundo é uma honra e desafio enorme. Levarei minha experiência destes 20 anos de carreira conectando marcas, audiência e sociedade com projetos com propósito, que gerem valor e impacto real para todos.
Como seu trabalho vem inserindo diversidade nas campanhas e nas empresas?
Minha consultoria Plano Feminino começou em 2010 ao olhar como as campanhas de marketing estereotipavam as mulheres, mesmo com pesquisas de consultorias como Nielsen mostrando que elas tinham mais de 80% do poder de compra.
A partir disto, fui bater na porta de agências e empresas e, primeiramente atendida por Seda, da Unilever. Evoluímos nas narrativas mais diversas e, mais do que isso, entendemos como ter propósito para além da propaganda ao promover mulheres nas empresas e no empreendedorismo. É uma jornada que continua evoluindo.
A diversidade é genuína nas empresas com essas narrativas?
O movimento neste sentido cresceu, mas ainda é pequeno. Vejo o aumento em contratação de mulheres e talentos negros, mas em cargos de entrada, por exemplo.
Eu e meus clientes aprendemos que, junto com o marketing, é preciso treinar as lideranças, contratar e ter uma política inclusiva que não exclua a atração diversa quando ela chega à empresa. O mesmo acontece ao olhar para os consumidores brasileiros que são tão heterogêneos. A diversidade dentro da companhia é refletida em melhores negócios e resultados.
A pandemia da covid-19 intensificou essas práticas?
Muitas empresas já tratavam a diversidade antes da pandemia. Mas este momento mostrou como pode ser feito mais, por exemplo, quando falamos da diferença entre as classes sociais, dos desafios no home office em uma perspectiva de gênero e mais.
A pandemia mostrou que as empresas têm responsabilidade com a sociedade e que se saem bem aquelas que demonstram seus propósitos. Meu trabalho passa também por ajudar as agências a comunicar isto.
Qual trabalho é feito da porta para dentro antes de comunicar para a sociedade?
Primeiro, há um trabalho de workshop com no mínimo oito encontros de quatro horas. É uma imersão para mostrar que o tema não é "mimimi" e nem assistencialismo. Os líderes que não trabalham com diversidade estão fadados ao fracasso por não alcançar todo seu potencial de inovação.
Esses encontros também trabalham inteligência emocional, empatia e soft skills. Sabemos é claro, que não é uma virada de chave instantânea, mas é preciso que seja uma melhoria intencional a fim de combater o machismo, o racismo e qualquer discriminação.
Como o Instituo Plano de Menina ajuda a fomentar um mercado mais diverso?
Muitas empresas começaram a contratar meninas da periferia, mas promoviam micro agressões no dia a dia. Percebi que era preciso trabalhar a autoestima dessas meninas para além da inclusão dos executivos.
O Plano de Menina nasceu em 2016 com um grupo do Capão Redondo e do Grajaú, em São Paulo, e hoje já atingiu 2.000 meninas no treinamento presencial e 10.000 no online, criado na pandemia. Nessa trilha elas aprendem sobre vendas, inteligência emocional, pacote office, educação financeira, empreendedorismo e direitos humanos.
Essa capacitação é patrocinada por empresas e, em seguida, as meninas ficam disponíveis para o mercado de trabalho. Só na pandemia 100 meninas foram contratadas por empresas como The Body Shop, PepsiCo, Amaro, Banco Pan e Bayer.
A entrada delas nessas empresa mudam a vida de toda a família. E isto vale para o resto da vida, uma delas, moradora do Jardim Ângela passou no ProUni com nota máxima, entrou na Louis Vuitton. Outra foi morar na Holanda para trabalhar em uma empresa de tecnologia. O impacto é imenso!
Os investimentos em diversidade e inclusão devem continuar na mesma intensidade no pós-pandemia?
Acredito que as mudanças vieram para ficar. As empresas entenderam que precisam se comunicar com honestidade e que o consumidor quer conhecer o propósito. Para isto, elas têm que se comprometer com a prática e valorizar o capital humano.