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Via Varejo enfrenta indícios de fraudes, reformas e impasse no Extra.com

Passado o teste de estresse da Black Friday, as reformas e melhorias continuam e a empresa prevê investir até R$ 800 milhões no ano que vem

Casas Bahia: investidores seguem otimistas com a companhia e as ações mais do que dobraram desde a mudança de gestão (Nacho Doce/Reuters)

Casas Bahia: investidores seguem otimistas com a companhia e as ações mais do que dobraram desde a mudança de gestão (Nacho Doce/Reuters)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 17 de dezembro de 2019 às 15h44.

Última atualização em 17 de dezembro de 2019 às 16h30.

Os novos executivos da Via Varejo passaram o último semestre realizando mudanças básicas na companhia, como reformas de fachada de loja, instalação de ar condicionado e fortalecimento de sistemas, para suportar as vendas durante períodos de pico como a Black Friday. 

Passado o teste de estresse da Black Friday, as reformas não terminaram. A empresa prevê a abertura de 70 a 90 lojas no ano que vem, reformas de 100 unidades e ampliará os investimentos para entre 700 e 800 milhões de reais. Também espera voltar a gerar caixa positivo no ano que vem.

A companhia enfrenta investigações de fraude contábil, que pode chegar a 1,2 bilhão de reais e com impactos no patrimônio líquido de até 500 milhões de reais nos próximos anos. Também há impasses sobre a venda da operação do Extra.com.

Investidores seguem otimistas com a companhia. Desde a mudança de controle, que foi vendida pelo Grupo Pão de açúcar (GPA) ao empresário Michael Klein e a um grupo de fundos em junho, as ações mais do que dobraram e foram de 4,97 reais para 11,14 reais, alta de 124%.

Indícios de fraude

A maior pressão sobre a empresa hoje são as investigações de fraude contábil. A Via Varejo encontrou evidências de fraude, com a apuração de 160 mil documentos, nos primeiro, segundo e terceiro trimestre de 2018 e no primeiro e segundo trimestre deste ano. A terceira fase da investigação deve ser finalizada em fevereiro do ano que vem.

Até então, foram encontrados apenas funcionários da própria Via Varejo envolvidos nos indícios de fraude. Segundo Orivaldo Padilha, diretor financeiro, não há envolvimento de membros da alta administração e nem de terceiros, apenas de executivos de médio escalão. A empresa aguarda o fim da investigação para saber quais são as medidas judiciais cabíveis. 

No quarto trimestre, o impacto no caixa deve ser de 900 milhões de reais. Os impactos totais sobre o patrimônio líquido, descontados possíveis créditos a receber nos próximos anos, serão entre 400 e 500 milhões de reais. 

Negociações sobre o Extra.com

Além de Casas Bahia e Ponto frio, a Via Varejo também é dona da marca Extra.com. No entanto, as lojas físicas do Extra continuam com o GPA, antigo controlador da Via Varejo. Segundo o presidente Roberto Fulcherberguer, "não há nenhuma pretensão de vender a marca, que é muito forte em marketplace". Ele afirmou que "até o momento não há nenhuma conversa para a venda. Estamos felizes com a marca". De acordo com ele, o site tem uma grande amplitude de categorias, considerada estratégica.

Já Peter Estermann, presidente do GPA, afirmou na semana passada que as negociações em relação ao Extra.com "estão andando".

Com as operações online e offline divididas em empresas distintas, a operação de omnichannel fica atravancada. Não é possível retirar as compras online nem realizar trocas nas lojas físicas, por exemplo. A omnicanalidade é um dos principais enfoques e tendências do varejo, uma vez que pode melhorar a experiência de compra e reduzir prazo e custo de frete e logística. 

Volta às origens 

Entre os planos da varejista para recuperar espaço no mercado está retomar suas raízes e busca aumentar a venda de móveis, produtos que têm margens maiores e trazem mais crediário para a companhia. A margem da venda de móveis é 10 pontos acima da média. A Via Varejo tem uma fábrica de móveis, a Bartira, responsável por 30% das vendas dessa categoria. 

O presidente Fulcherberguer afirmou que os móveis já eram o foco da companhia, mas que a produção era feita de maneira errada. "O foco eram os móveis planejados, que não se encaixam com o nosso público", disse ele em coletiva a jornalistas.

Segundo o presidente, a participação da venda de móveis já cresceu 2 pontos desde a mudança de gestão. De acordo com Abel Ornelas, vice presidente comercial e de operações, móveis representavam de 14 a 15% das vendas e o plano é chegar a 20%.

Lojas novas

A Via Varejo, que desde a mudança de gestão comprou 600 aparelhos de ar condicionado, sete mil computadores e 20 mil cadeiras para suas lojas, continuará investindo em reformas. No ano que vem, 100 unidades devem passar por reformas estruturais mais intensas, com mudanças no arranjo dos itens e treinamentos. De acordo com Sérgio Leme, vice-presidente administrativo, as vendas por loja crescem cerca de 30% após reformas.

A Via Varejo deve abrir entre 70 e 90 lojas no ano que vem, principalmente no Norte e Nordeste. Atualmente, a empresa conta com mais de 1.070 lojas físicas. As lojas do Nordeste vendem cerca de 10% acima da média da companhia e a região também é mais forte em crediário. 

Os investimentos deverão ser entre 700 e 800 milhões de reais no ano que vem, acima da média de anos anteriores, em reformas de lojas, atualização de sistemas e abertura de novas lojas. Os investimentos virão da geração de caixa. A margem da companhia, antes de juros e impostos e ajustada, deverá ser de 5% a 7% no ano que vem.

Tecnologia e e-commerce 

Em tecnologia e no comércio eletrônico, a companhia também corre para consertar instabilidades e fricções. Se nesse semestre o foco era estabilizar os sistemas do e-commerce - que enfrentavam instabilidade e perda de vendas - ainda há muito o que resolver no marketplace.

Segundo Helisson Lemos, diretor de tecnologia, a plataforma tem fricção no contato com os vendedores e há dificuldades operacionais para entrada de novos vendedores e de novas ofertas, o que limita as vendas na plataforma. 

Nas lojas físicas, vendedores receberão smartphones para sugerir ofertas e crédito personalizados aos consumidores. As ofertas também consideração os estoques e a obsolescência dos produtos disponíveis em loja para promoções. 

Enquanto a Via Varejo foca em melhorias básicas, a concorrência avança. O Magazine Luiza anunciou na semana passada o lançamento de uma conta digital a partir do Magalu Pagamentos, que permite pagar por produtos em lojas e no site, realizar transferências entre amigos, pagar contas e boletos, entre outros.

A Via Varejo suspendeu por alguns meses o desenvolvimento de sua conta digital, o Banqi, para se focar na Black Friday. Em breve, deve anunciar a integração com o aplicativo Casas Bahia, e novas funcionalidades.

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