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Venda da Interclínicas terá longa briga na Justiça

A carteira de clientes da empresa foi arrematada com investimentos dos bancos Safra, ABN Amro e Industrial

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

O destino do valor arrecadado na venda da carteira de clientes da Interclínicas deve gerar uma longa disputa judicial. A venda foi determinada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em 29 de novembro e fechada em 8 de dezembro. Apesar de a transação ser dada como certa pela Interclínicas e pelo comprador, o Grupo Saúde ABC, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz reivindica o direito de analisar as condições da transação antes que ela seja consumada. (Leia reportagem da revista EXAME para compreender a situação do setor de saúde privado no país.)

De acordo com Antonio Penteado Mendonça, advogado do hospital, o Oswaldo Cruz havia assinado um contrato com a Interclínicas em fevereiro deste ano, que lhe obrigava a pedir autorização à organização para realizar qualquer venda de ativo da empresa acima de 200 000 reais. O Oswaldo Cruz é um dos principais credores da Interclínicas. Estima-se que a instituição tenha 30 milhões de reais a receber da operadora de plano de saúde.

Na sexta-feira (10/12), uma juíza cassou a liminar que dava o direito de o hospital examinar a operação de venda da carteira, mas o advogado do Oswaldo Cruz afirmou que a briga não pára por aí. "Vamos tomar todas as providências possíveis para garantir os direitos do hospital."

O valor pago pela Saúde ABC pela carteira de 166 000 clientes da Interclínicas não foi revelado oficialmente. Estima-se que a quantia esteja ao redor de 35 milhões de reais. De acordo Suely Estancione, superintendente do Grupo Saúde ABC, líder no segmentos de planos de saúde no ABC paulista, o investimento foi feito em conjunto com um grupo de investidores que inclui os bancos Safra, ABN Amro e Banco Industrial.

"A aquisição da carteira da Interclínicas ocorreu em um excelente momento para nós", afirma Suely. "Estávamos nos preparando para comprar pequenas e médias operadoras, pois precisávamos de ganhar escala."

A Saúde ABC tem cerca de 175 000 clientes, a maioria de planos executivos de empresas instaladas na região do ABC paulista. De acordo com Suely, a expectativa é que a empresa consiga ampliar sua carteira em mais 145 000 clientes, pois não acredita que atualmente a carteira da Interclínicas continue nos 166 000 declarados no início de dezembro. Com isso, a operadora cresceria para 315 000 beneficiários. Segundo Suely, a carteira da Interclínicas é ótima. " Eles têm uma mensalidade média de 132 reais, que é maior que a nossa", diz.

Na prática
A Saúde ABC já assumiu a estrutura de atendimento da Interclínicas que conta com o Hospital Evaldo Foz, na região do Ibirapuera, na capital paulista, além de 12 centros clínicos, a maioria em São Paulo e no ABC. O Hospital Evaldo Foz está sendo dirigido por um executivo da Saúde ABC desde o dia 8 de dezembro. O hospital, que havia sido interditado pela Agência de Vigilância Sanitária na primeira semana de dezembro por falta de materiais e medicamentos, voltou a funcionar normalmente na segunda-feira (13/12).

Conflito de interesses

Na opinião de especialistas em gestão de saúde, um dos motivos que ajudou a afundar a Interclínicas foi o conflito de interesses que havia na composição societária da empresa. A Interclínicas pertencia a um grupo estimado em 200 médicos. De acordo com um dos executivos que avaliou a compra da operadora, era comum que médicos sócios da empresa fossem os responsáveis pela prestação de serviços a ela. "Um era responsável pela ginecologia, outro pela pediatria e assim por diante. Na hora de atender o paciente, provavelmente eles ficavam em dúvida entre gerar receita para a clínica ou para a operadora da qual eram sócios", disse o executivo.

A avaliação faz sentido todo o sentido, especialmente nesse setor em que os três principais atores médico, paciente e operadora têm objetivos conflitantes. "O médico quer a melhor tecnologia, o melhor material e os melhores profissionais ao seu lado. O paciente quer a melhor hotelaria, o melhor serviço etc. Esses dois não têm nenhuma preocupação com custos, enquanto o plano de saúde só pensa em controlar custos", afirma o médico e empresário George Schahin, sócio do Hospital Santa Paula, localizado na capital paulista. "A grande arte está em resolver essa equação", diz.

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