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Vale e BHP Billiton cogitaram evacuar área antes de tragédia

Vale e BHP, donas da Samarco, já tinham cogitado evacuar Bento Rodrigues, área da tragédia ambiental em Minas Gerais, em 2012


	Bento Rodrigues: Polícia Federal suspeita que empresas consideravam até comprar o distrito que foi destruído após rompimento de barragem
 (Reuters/Ricardo Moraes)

Bento Rodrigues: Polícia Federal suspeita que empresas consideravam até comprar o distrito que foi destruído após rompimento de barragem (Reuters/Ricardo Moraes)

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Da Redação

Publicado em 22 de junho de 2016 às 09h30.

Belo Horizonte - Três anos antes da queda da barragem da Samarco em Mariana (MG), que deixou 18 mortos e 1 desaparecido, as duas acionistas da mineradora, Vale e BHP Billiton, cogitaram retirar os moradores do distrito de Bento Rodrigues, destruído na tragédia.

A Polícia Federal suspeita até que a Samarco tenha cogitado comprar a área.

A possibilidade de saída dos habitantes do distrito consta de um trecho do diálogo entre o diretor de Operações da Samarco, Kleber Terra, e o gerente-geral de projetos da empresa, Germano Silva Lopes, em um sistema interno de comunicação da mineradora.

O material foi obtido por delegados da Polícia Federal com aval da Justiça, em buscas e apreensões nas plantas da mineradora em Mariana e em Anchieta (ES). Os trechos constam do relatório final da PF sobre o desastre, ao qual a reportagem teve acesso.

Em 15 de agosto de 2012, Terra diz para Germano que "os acionistas querem retirar a turma do Bento de qualquer jeito". "Vamos ter de fazer um estudo de caso bem feito. Inclusive com simulação de rompimento das estruturas atuais. Pra ver qual o real dano...", afirma o gerente-geral.

Em seguida, Germano diz que a operação em Fundão estava normal. "Acho que a turma está superestimando os danos com as estruturas atuais."

À época, a represa já apresentava problemas com drenagem, conforme mostram os relatórios de consultores contratados pela mineradora.

Como a reportagem mostrou na terça-feira, 21, os problemas chegaram a ser monitorados - incluindo trincas - e houve troca de mensagens a respeito com o ex-diretor-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi.

Na troca de mensagens agora citada, Germano argumenta que um estudo sobre "ruptura hipotética será necessário para subsidiar os estudos/projetos ambientais".

"Já conversei com o Marco Aurélio Borges (gerente de Meio Ambiente) sobre o assunto e na minha opinião não deveríamos incluir os estudos de ruptura hipotética na documentação que subsidiará o licenciamento ambiental, a menos que sejamos obrigados por força de lei".

À época, a Samarco se preparava para revalidação da licença de operação de Fundão, que, conforme a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, venceu em 22 de setembro de 2012.

A revalidação do documento ocorreu em 29 de outubro de 2013. A PF não detalha no relatório final se os relatórios de ruptura foram incluídos. A reportagem também não conseguiu confirmar a informação com o Estado de Minas.

A Polícia Federal ainda suspeita que a Samarco tenha cogitado comprar a área de Bento Rodrigues. Em um trecho das conversas capturadas pela PF, Vescovi diz à diretora de Geotecnia da mineradora, Daviely Rodrigues, que não considera possível a "compra de todo concentrado para manter a Samarco operando".

"É mais fácil e rápido construir uma nova barragem do que isso acontecer. Acho que isso piora as coisas, mas não creio que haja uma classificação de prioridade pior do que a que estimamos." Para os delegados, "concentrado" seria Bento Rodrigues.

Vale

Acionadas, BHP Billiton e Samarco não se posicionaram sobre as investigações da PF. A Vale afirmou em nota que "não teve conhecimento de discussões dessa natureza no Conselho da Samarco".

"Se os acionistas soubessem de qualquer risco, certamente teriam tomado as providências necessárias para salvaguardar a integridade daquelas pessoas."

O advogado de Vescovi, Paulo Freitas Ribeiro, disse à reportagem que "as mensagens questionadas foram pinçadas de conversas travadas anos atrás, e inseridas no relatório policial de maneira absolutamente descontextualizada e parcial".

"Portanto, em verdade, não conferem qualquer respaldo às conclusões delineadas."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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