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Vale de Murilo Ferreira tem pouco espaço crescer no Brasil, como quer o governo

Mesmo com a troca de comando, as grandes oportunidades da mineradora continuam no mercado internacional

Mina da Vale: pouco espaço para ampliar operações no Brasil além do que já é feito (Kiko Ferrite)

Mina da Vale: pouco espaço para ampliar operações no Brasil além do que já é feito (Kiko Ferrite)

Daniela Barbosa

Daniela Barbosa

Publicado em 5 de abril de 2011 às 10h39.

São Paulo - O novo presidente da Vale, Murilo Ferreira, terá pouco espaço para ampliar os investimentos no Brasil – desejo do governo que motivou a queda de Roger Agnelli. O principal motivo é simples: as melhores oportunidades para a Vale crescer estão no exterior.

“Não é viável para a Vale centrar a maior parte dos esforços no mercado interno”, afirmou uma fonte que conhece profundamente a empresa e acompanhou a troca de comando.

A Vale já é a maior produtora de minério de ferro do mundo. Suas principais minas de ferro estão no Brasil: Carajás e Serra Sul. Uma forma de Murilo Ferreira agradar a presidente Dilma Rousseff seria ampliar os investimentos na produção e extração desse mineral. Afinal, as duas minas têm boa qualidade e potencial para expandir as operações.

Expansão em curso

O problema é que isso já está sendo feito. Recentemente, o conselho de administração da Vale aprovou a ampliação da mina de Carajás em duas etapas. Na primeira, que consumirá investimentos totais de 6,776 bilhões de dólares, será implantada uma usina de beneficiamento de minério em Serra Sul, com capacidade para 90 milhões de toneladas por ano. A planta iniciará sua produção no segundo semestre de 2014.

Na segunda fase, com investimento previsto de 2,968 bilhões de dólares, a planta de Carajás será ampliada em 40 milhões de toneladas por ano. A unidade deve iniciar a produção no segundo semestre de 2012. O projeto também envolve a implantação de uma unidade de processamento e a ampliação do terminal marítimo de Ponta da Madeira.

O cenário interno é favorável ao consumo de minério de ferro, mas não, necessariamente, para a Vale. A construção civil, a indústria automotiva e a indústria de base continuam com perspectivas de crescimento nos próximos anos. E as ampliações já previstas já serão suficientes para atender essa demanda. “A Vale já domina esse mercado de minério de ferro”, diz a fonte. “Não há mais o que inventar aí.”


Cliente e rival

Até porque há outro ponto importante: as siderúrgicas brasileiras estão investindo cada vez mais em suas próprias minas de ferro. A CSN possui a Casa de Pedra. A Usiminas e a Gerdau também ampliaram os investimentos nessa área. E, como se não bastasse, ainda há a sombra da MMX, a mineradora de Eike Batista, e da Anglos Ferrous. Enfim, o cenário ficou mais competitivo para a Vale no Brasil.

Hoje, 80% do minério de ferro produzido pela Vale no Brasil é destinado ao mercado externo. No ano passado, a Vale produziu 307,7 milhões de toneladas métricas de minério de ferro. O volume é superior 24,9% do total produzido em no ano retrasado.

“O que a mineradora precisa, agora, é aumentar sua presença na extração de outros minerais. E isso só é possível lá fora”, disse. Esta é a ironia da troca de comando na Vale. Lula, primeiro, e Dilma, depois, vêem na Vale uma forma de alimentar a expansão brasileira, mas o potencial de crescimento da Vale é maior no exterior.

Segundo a fonte, no começo de sua gestão, Murilo Ferreira até pode se mostrar sensível diante dos apelos do governo e destinar mais dinheiro para o Brasil, desde que o conselho de administração aprove. “Mas, para fazer uma boa gestão, ele terá de brigar por ativos lá fora”, disse. “E ele, mais cedo ou mais tarde, vai se dar conta disso”, afirmou. É preciso saber se os demais interessados na troca de comando da Vale também entenderão isso rapidamente.

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