Universidade Amazon: empresa vai ensinar novas profissões a funcionários
Com a mudança nas profissões exigidas pelo mercado, Amazon vai investir 700 milhões de dólares para treinar funcionários em novas habilidades
Carolina Riveira
Publicado em 13 de julho de 2019 às 08h00.
Última atualização em 13 de julho de 2019 às 08h00.
Ao sentar para um café com empreendedores de tecnologia, a dificuldade para contratar programadores e profissionais de tecnologia é uma das principais reclamações. A varejista americana Amazon , portanto, decidiu resolver o problema dentro de casa.
A empresa anunciou nesta semana que vai investir 700 milhões de dólares nos próximos seis anos para treinar 100.000 funcionários (um terço de seu quadro) para novas funções que vão além das que eles exercem atualmente. O treinamento vai abranger sobretudo áreas relacionadas a tecnologia da informação e engenharia de software.
A Amazon batizou o programa de "Upskilling 2025" (ou "aprimoramento 2025", em inglês). A ideia é que os funcionários usem os conhecimentos adquiridos para mudar de função dentro da Amazon ou até mesmo busquem vagas em outras empresas, disse a Amazon em comunicado.
O programa é diferente de um simples aperfeiçoamento ou de treinamentos rotineiros que são comuns em muitas empresas. Um funcionário que participar dos cursos pode dar um giro de 360º na carreira: funcionários que trabalham com reposição de estoque, por exemplo, devem poder fazer aulas para virarem engenheiros de software ou programadores, ainda que não tenham muitos conhecimentos prévios na área.
As aulas serão dadas pelos próprios funcionários da Amazon, muitos dos quais são ex-professores universitários. A expectativa da empresa é abrir 15 "cursos" do tipo.
Atualmente, a Amazon tem mais de 600.000 funcionários nos países em que opera (incluindo no Brasil), com 275.000 deles nos Estados Unidos. O treinamento, por ora, só vale para seus funcionários no país-sede.
Parte boa ação, parte necessidade
A iniciativa da Amazon se junta a ações de outras grandes empresas dos Estados Unidos que vêm oferecendo programas de treinamento de funcionários para novas funções, como a empresa de telecomunicações AT&T, o banco JPMorgan, a consultoria Accenture e a varejista Walmart, concorrente direta da Amazon.
O programa de treinamento da Amazon vai investir, em média, 7.000 dólares por funcionário treinado, ante média de 500 dólares das empresas que oferecem treinamento nos Estados Unidos, segundo a Associação para Desenvolvimento de Talentos, organização americana.
O motivo vai além de oferecer um benefício aos funcionários, mas busca preencher postos de trabalho em tecnologia cada vez mais exigidos nas empresas. Estudos vêm mostrando que talvez seja mais barato treinar os funcionários que já existem na companhia para os empregos do futuro em vez de contratar novos profissionais em um mercado cada vez mais escasso.
Nos Estados Unidos, faltarão mais de 80.000 profissionais, até 2022, para preencher vagas ligadas a computação. O setor vai abrir três de cada quatro novos postos de trabalho abertos até 2022, segundo estimativas do departamento de Trabalho do governo dos Estados Unidos.
A própria Amazon vive problemas de contratação, com 20.000 vagas abertas em diversas posições nos Estados Unidos (metade delas em sua sede, em Seattle). Além disso, a empresa vai abrir uma nova sede em Washington DC, onde espera empregar 25.000 pessoas, grande parte com salários de mais de 12.000 dólares por mês.
No Brasil, aAssociação Brasileira de Startups (Abstartups) estima que serão abertas 70.000 vagas relacionadas ao setor de tecnologia em 2019, mas as faculdades só foram 45.000 profissionais por ano.Enquanto isso, estima-se que a automação vai tirar as funções de 20 milhões de empregados na indústria e em manufaturas em todo o mundo na próxima década, segundo um relatório da consultoria Oxford Economics.
A iniciativa da Amazon, que completou 25 anos de vida no último dia 5 de julho, também surge em um momento em que a empresa foi recentemente criticada pelos salários pagos aos funcionários do baixo escalão da empresa, como os que trabalham nos centros de distribuição (a média global de salários da empresa foi de 28.446 dólares por ano em 2017, pouco mais de 2.000 dólares por mês). A empresa anunciou em outubro do ano passado que aumentaria o salário mínimo de seus funcionários nos Estados Unidos.