Ultra corre para comprar Liquigás e evitar multa de R$ 280 mi
O acordo com a Petrobras, dona da marca de gás de cozinha, é considerado uma operação complexa, por causa da alta concentração de mercado
Estadão Conteúdo
Publicado em 20 de fevereiro de 2018 às 08h41.
Última atualização em 22 de fevereiro de 2018 às 10h25.
São Paulo - O conglomerado nacional Ultra, dono da rede de postos de combustíveis Ipiranga, corre contra o relógio para conseguir a aprovação, mesmo com pesadas restrições, da compra da Liquigás , que pertence à Petrobras, pela Ultragaz, divisão de gás de cozinha da companhia.
O caso, que deve ser julgado no dia 28, é importante tanto para a estatal - que está em processo de desinvestimentos de ativos não estratégicos - quanto para o Ultra, que busca se isolar na liderança em gás com a transação.
Em agosto passado, o Ultra teve um importante negócio barrado pelo órgão antitruste: a compra da rede de postos Ale pela Ipiranga.
O acordo entre as distribuidoras de gás é considerado uma operação complexa, por causa da alta concentração de mercado em algumas regiões do País.
Por isso, o grupo Ultra concordou em assinar uma cláusula em que a Petrobras receberia R$ 280 milhões, ou 10% do valor anunciado do negócio, de R$ 2,8 bilhões, caso a operação seja barrada pelo Cade.
A aposta do Ultra é alta, segundo fontes de mercado, uma vez que tradicionalmente essa taxa de insucesso, ou break-up fee, varia de 3% a 5% do valor da transação.
Anunciado em novembro de 2016, o processo de aquisição da Liquigás pela Ultragaz foi bastante competitivo, atraindo os principais concorrentes brasileiros, como a holandesa Supergasbrás (SHV), a Nacional Gás, do grupo Edson Queiroz, e a Copagaz, do empresário Ueze Zahran, além de investidores estrangeiros, como o turco Aygaz.
Ativo cobiçado
Estado apurou que os principais concorrentes na disputa pela Liquigás estão acompanhando de perto os próximos passos do Cade e têm interesse em fazer uma oferta pelo negócio, caso a operação seja barrada. O valor, contudo, deverá ficar abaixo do ofertado pelo Ultra, segundo pessoas a par do assunto.
Pelo menos duas rivais, a SHV e a Nacional Gás, enfrentariam os mesmos problemas de concentração da Ultragaz. Fontes ligadas a essas empresas confirmaram interesse e disseram ter "alternativas" para evitar o veto do Cade.
A Copagaz e a Aygaz também estão de olho no negócio, caso seja barrado. Procuradas pela reportagem, SHV e Copagaz não comentam. Nacional Gás e Aygaz não retornaram os pedidos de entrevista.
Na visão do advogado Ricardo Gailard, do escritório Cescon, Barrieu, as chances de o negócio ser aprovado pelo Cade são mínimas por causa do domínio de Liquigás e Ultragaz. Ele acompanha o caso como parte interessada, uma vez que representa a Copagaz, uma das derrotadas na briga pela Liquigás.
Negociações
No entanto, o grupo Ultra, um dos maiores conglomerados do País, que faturou R$ 75,6 bilhões em 2016, não jogou a toalha, segundo fontes.
A Petrobras também está defendendo em Brasília a aprovação do negócio. No dia 31 de janeiro, o diretor financeiro da estatal, Ivan Monteiro, esteve no Cade para discutir o assunto. Procurados, Ultra e Petrobras também não comentam.
Várias alternativas foram estudadas, conforme informou o Estadão/Broadcast em janeiro. Entre elas estão o compartilhamento de bases de operação e a venda de marcas secundárias, como Tropigás e Novogás.
Outra opção aventada é vender a marca Liquigás. No entanto, uma regra da Agência Nacional do Petróleo (ANP) impede que uma empresa use o botijão de outra concorrente - o que pode inviabilizar a venda de marcas, pois isso exigiria a recompra de milhões de botijões pelo País.
Seria caro e demorado entregar os botijões com a grafia da empresa vendida para quem comprar o negócio.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Atualização (21/fev; 20h) — A versão inicial desta reportagem afirmava que o grupo Edson Queiroz era parte do Grupo Jereissati. Essa afirmação estava incorreta e foi corrigida.