Negócios

Tradutor de territórios

É assim que Tiago Trindade, sócio da Digital Favela, se vê como empreendedor, na missão de levar o marketing de influência para dentro das favelas brasileiras

Tiago Trindade, cofundador da Digital Favela: Para ele, favelas são “fontes de economia criativa” e “berço de empreendedores” (Eduardo Frazão)

Tiago Trindade, cofundador da Digital Favela: Para ele, favelas são “fontes de economia criativa” e “berço de empreendedores” (Eduardo Frazão)

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Publicado em 24 de julho de 2024 às 18h00.

Última atualização em 25 de julho de 2024 às 13h48.

Tanto nas vielas da periferia quanto no glamour do Cannes Lions, maior festival de criatividade do mundo, na Riviera Francesa, Tiago Trindade circula com a mesma naturalidade. O cofundador da Digital Favela, a primeira empresa
dedicada exclusivamente a conectar influenciadores das favelas com grandes marcas, conhece bem os dois ambientes: ele nasceu e cresceu na periferia da zona sul de São Paulo e, antes de empreender, acumulou 20 anos de experiência como criativo em grandes agências de publicidade.

Em 2020, Trindade — com os sócios Celso Athayde, Guilherme Pierri e Felipe Branquinho — soube converter as duas vivências em negócio. Um tradutor de territórios, como ele costuma se definir, o publicitário viu que podia unir de forma orgânica o discurso de ambos os lados. “Entendemos como o influenciador da favela transmite sua mensagem e sabemos como o mercado da propaganda recebe essa mensagem”, diz ele, com propriedade. “Os resultados são ideias e conteúdos potentes e autênticos.”

Nesses quatro anos, a Digital Favela tem transformado a percepção das marcas sobre as favelas e seus talentos, abrindo portas para os influenciadores e interferindo positivamente na narrativa sobre essas comunidades no Brasil. “Favelas são fontes de economia criativa, berço de empreendedores. Nosso foco é encontrar marcas que queiram se conectar com esses mais de 18 milhões de potenciais consumidores. Moradores de favela confiam muito mais em um influenciador da sua própria quebrada do que em uma grande celebridade. Essa identificação não só influencia mas cria novas conversas e oportunidades de negócio”, diz o Chief Communications Officer da DF.

Liderança pelo exemplo

Mais do que um projeto bem-sucedido, a Digital Favela é a concretização de um desejo seu, pessoal: mudar a realidade de ausência de vozes periféricas nas grandes campanhas publicitárias. A empresa atualmente é o elo entre mais de 6.000 influenciadores de favela e mais de 400 marcas de diversos segmentos em todo o Brasil, por meio da Central Única das Favelas (Cufa), impactando diretamente um público que movimenta acima de 200 bilhões de reais por ano.

Entre parcerias estratégicas e projetos que ressignificam marcas no cenário das favelas estão anunciantes como Meta, TikTok, Claro, O Boticário, Itaú, Nubank e Santander. Os resultados do trabalho já renderam, inclusive, diversos reconhecimentos, como a vitória, com a Favela Holding, no Prêmio Caboré, o Oscar da publicidade brasileira, com apenas dois anos no mercado.

Neste ano, o brilho de Trindade e da DF também chegou ao Cannes Lions, onde ele fez parte do seleto grupo de jurados do renomado festival, representando o Brasil, as pessoase o lugar de onde veio.  A participação destaca o notável empreendedor e líder que foi sendo lapidado enquanto os negócios também amadureciam.

“Ao longo dos anos, me tornei um líder que valoriza a criatividade e a autenticidade. E acredito na liderança pelo exemplo. Sei da minha responsabilidade e me vejo como referência e espelho para quem está chegando. Por isso, cada passo meu é muito bem pensado e planejado. É isso que vai me levar ainda mais longe”, fala o CCO, orgulhoso do que conquistou até aqui.

Rumo à internacionalização

Nos planos, agora está a expansão da presença da Digital Favela não apenas no Brasil mas também fora do país, consolidando o negócio como a principal plataforma de conexão entre as favelas e as marcas globais. A frequência em eventos no exterior, como em Cannes e, pelo segundo ano, no festival SXSW, nos Estados Unidos, é o primeiro passo desse movimento.

Os desafios são constantes, segundo o empresário, principalmente a resistência inicial das marcas em reconhecer a aptidão comercial das favelas, porém, Trindade sonha grande e segue obstinado em desbravar novas fronteiras, porque sabe da potência da construção de pontes entre periferia e grandes anunciantes. A inspiração vem exatamente da pluralidade de suas vivências.

“Vem das rodas de samba que frequento, das quebradas pelas quais passei e das mentes criativas com que me conecto o tempo todo. A vida em rede e a comunidade são os grandes patrocínios e impulsionadores. Essa é minha fonte de inspiração e de motivação diária”, conclui Trindade.

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