Jorge Paulo Lemann: aos 79 anos, investidor tem tentado se atualizar para não ser um "dinossauro em extinção" (Lucy Nicholson/Reuters)
Natália Flach
Publicado em 6 de julho de 2019 às 11h42.
Última atualização em 11 de julho de 2019 às 16h40.
São Paulo - São Paulo - Aos 79 anos, Jorge Paulo Lemann, um dos fundadores da gestora 3G Capital, se autointitula um dinossauro. Até o ano passado, era um dinossauro "apavorado", por causa das rápidas transformações do mercado que levaram, inclusive, a fabricante de alimentos Kraft Heinz - empresa investida da 3G - não alcançar os resultados esperados.
"Agora sou um dinossauro que está se mexendo para não entrar em extinção", diz o investidor, durante evento da corretora XP, em São Paulo, neste sábado (6).
Lemann se refere às mudanças de comportamento dos consumidores e do poder das marcas. "Nunca foi nosso forte sermos próximos aos clientes. Sempre fomos muito eficientes em produzir e em cortar custos, mas nunca fomos craques em ficar perto da clientela. É algo que precisamos aprender. Também ficamos um pouco atrasados em tecnologia", afirma. É por isso que o investidor tem viajado com mais frequência, especialmente para a China, para conhecer tecnologias da área digital. "Tivemos fracasso com a Kraft Heinz, mas estamos consertando e vamos voltar."
A questão é como ele e seus sócios, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, pretendem fazer isso. O próprio Lemann diz que percebeu que não dá para montar um império alimentício como fizeram com a indústria cervejeira, na AB Inbev. "Temos um fundo de 10 bilhões de dólares captado na 3G. O plano inicial era acoplar empresas de comida em um império que não andou nem vai andar. Então, estamos olhando outras possibilidades, mas sem ter nada certo", diz, em resposta à pergunta se estaria de olho em empresas de tecnologia.
A companhia tem marcas voltadas para o padrão de consumo do século 20 e com pouca entrada em uma geração que procura novidades, valoriza produtos saudáveis e marcas locais. Isso levou a um cenário de queda nos lucros e no valor de mercado da companhia, que encolheu cerca de 30% apenas neste ano.
Para contornar esses problemas, o português Miguel Patrício, ex-diretor de marketing da cervejaria AB InBev, assumiu a liderança da companhia, no lugar do executivo brasileiro Bernardo Hees, em 1 de julho. Em entrevista a EXAME logo após ser anunciado no cargo, Patrício antecipou o que deve ser o rosto da nova gestão: mais inovação e menos aquisições. “Precisamos ser mais centrados no consumidor e mirar o longo prazo. Temos de pensar em aquisições, mas minha maior preocupação não é essa, e sim o crescimento orgânico”, diz
Com a troca, espera-se que a nova frente promova uma virada na companhia que vem registrando resultados financeiros frustrantes nos últimos trimestres. Em 2018, a Kraft Heinz anunciou uma receita global de 26,2 bilhões de dólares, praticamente estável em relação ao ano anterior. Mas teve que anunciar uma sofrida baixa contábil de 15 bilhões de dólares pela perda de valor de algumas de suas marcas.