Supermercado: tendência de restrição ao consumo deve continuar em 2016 (Andre Vieira/Bloomberg News)
Da Redação
Publicado em 27 de janeiro de 2016 às 16h32.
Após se voltarem a marcas mais baratas e trocarem supermercados por atacarejos para tentarem manter o padrão de consumo, os brasileiros a partir do fim do ano passado reduziram o consumo de produtos antes tidos como símbolos da ascensão da chamada classe C, tendência que deve se repetir em 2016.
Produtos como iogurte tiveram queda de vendas em volume de 1,4 por cento no acumulado de janeiro a outubro de 2015, após crescimento de 3,4 por cento em 2014, segundo dados da empresa de pesquisa de mercado Nielsen divulgados nesta quarta-feira.
"Pela primeira vez desde o início da ascensão da classe C, estamos vendo redução no consumo de algumas categorias", disse a gerente de atendimento da Nielsen no Brasil, Lenita Mattar.
"A situação estava apertando e o consumidor queria preservar seu padrão de consumo o máximo possível ao trocar para produtos de marcas mais baratas, mas agora apertou de tal forma que ele está começando a sacrificar algumas coisas, como iogurte", disse ela durante evento da associação de supermercadistas, Abras.
A Nielsen não tem a compilação dos dados até o final de 2015. Mas segundo Lenita, a tendência de restrição ao consumo deve continuar em 2016, diante das perspectivas de crescimento do desemprego.
Na avaliação da Abras, a taxa de desemprego deve subir para 10,2 por cento neste ano, o que vai fazer o setor amargar um segundo ano consecutivo de queda nas vendas reais, algo que nunca aconteceu pelo menos desde 2001.
Em 2015 o faturamento dos supermercadistas do país caiu 1,9 por cento, primeiro recuo anual desde a queda de 1,59 por cento de 2006. Para 2016, a perspectiva é de baixa de 1,8 por cento.
"Em um ano, voltamos a um patamar de desemprego de seis anos atrás", disse o vice-presidente da Abras, Márcio Milan, a jornalistas. "Com uma taxa de desemprego de 10,2 por cento, é muito difícil ter um resultado positivo este ano", acrescentou.
Segundo ele, as vendas de janeiro deste ano contra o mesmo mês de 2015 também devem mostrar retração diante da forte base de comparação. Em janeiro de 2015, as vendas reais haviam tido alta de 3,42 por cento no comparativo anual.
Considerando apenas dezembro, o setor teve queda de 4,4 por cento nas vendas reais sobre mesmo mês de 2014.
Diante do cenário, Milan afirmou que a margem de lucro das empresas do setor neste ano deve cair, pressionada pela necessidade dos varejistas de reforçar promoções para girar estoques. Além disso, as expansões de lojas do setor devem recair sobre os formatos de atacarejo e de proximidade.
"Esperamos que possa haver uma solução para a crise política, de modo a melhorar a confiança de consumidores e empresários no segundo semestre", disse Milan. Ele citou ainda que apesar da perspectiva negativa para as vendas neste início de ano um fator positivo é o calendário, em que o feriado do Carnaval cai mais cedo do que em 2015. "O Brasil vai começar a funcionar 20 dias antes do que no ano passado, o que é positivo."
Questionado sobre eventual impacto no setor sobre a volta da CPMF, defendida pelo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, Milan afirmou que o setor de supermercados vai "reagir até o último instante, porque não é por aí. O governo tem é que reduzir gastos."